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30/01/2021 às 08h00min - Atualizada em 30/01/2021 às 08h00min

Uberlandenses celebram o Dia Nacional das HQs

Diário traz entrevistas com cartunistas locais, que falam sobre futuro e novas tendências

IGOR MARTINS
Maurício Ricardo é nacionalmente conhecido por trabalhos gráficos ao longo da carreira | Foto: Divulgação

As histórias em quadrinhos, também conhecidas como HQs, fazem parte da vida de milhares de brasileiros. Seja no formato de tirinhas, charges, mangás ou gibis, elas são responsáveis por contar diferentes tramas dos mais variados gêneros. Chega a ser difícil imaginar uma pessoa com mais de 20 anos que nunca leu as aventuras da Turma da Mônica, Menino Maluquinho ou de algum super-herói da Marvel ou da DC Comics.
 
Neste sábado (30), é comemorado o Dia Nacional das Histórias em Quadrinhos. A cidade de Uberlândia é referência nacional quando se fala no assunto, especialmente após a popularização dos trabalhos feitos pelo jornalista Maurício Ricardo, que falou com a reportagem do Diário sobre o mercado e o futuro das HQs.
 
Aos 57 anos, Maurício Ricardo atua como cartunista desde os seus 17. Ele começou a carreira fazendo tirinhas para o Jornal Primeira Hora. Ele também passou pelo Correio de Uberlândia, onde ficou por 11 anos, e descobriu, em 2000, uma forma de fazer humor em uma plataforma que, na época, estava começando a crescer: a internet.
 
O site “Charges.com.br” foi criado pelo músico carioca em fevereiro de 2000 e abrigava desenhos animados sobre diversos temas. Atualmente, a plataforma migrou para o YouTube, onde tem mais de 2,3 milhões de inscritos. Em 2004, o cartunista ficou ainda mais conhecido ao desenvolver charges para o Big Brother Brasil (BBB), da Rede Globo, onde permaneceu até a edição de 2016.
 
Segundo o Ricardo, a tendência é que as HQs sejam cada vez mais consumidas no meio digital, pela praticidade de armazenamento dos gibis e a possibilidade de logística das histórias. “Eu enxergo várias vantagens de se consumir esse tipo de produto no meio digital. Você tem uma tela em HD, colorida e você carrega um tablet ou um celular com muito mais facilidade. Existe a opção de você guardar todas as suas HQs na nuvem ou arquivado no próprio dispositivo”, explicou.
 
Ainda de acordo com Maurício Ricardo, a democratização do acesso à internet permite ainda um alcance maior quando comparado às produções feitas no papel. Além de ser mais barato, na visão do jornalista, o conteúdo das histórias em quadrinhos nunca mudou. O que está em constante mudança é a forma com que ele é disponibilizado aos leitores e adeptos das HQs.
 
“Da mesma forma que o e-book é mais prático, as pessoas vão começar a consumir mais no meio digital e perceber que, além do custo mais barato, você tem uma HQ na ponta do dedo sempre que quiser ler. Os quadrinhos nunca vão morrer, nenhuma forma de arte mata a outra, mas os meios de comunicação mudam e isso impacta na maneira como nós produzimos conteúdo. Hoje mesmo já existe um processo digital na compra de uma HQ no papel. Você compra online, paga online e recebe em casa num processo que foi totalmente eletrônica. Essa geração atual dificilmente vai ter a experiência de ter um gibi em casa”, detalhou o cartunista.
 
PLANEJAMENTO
O uberlandense Antônio Eduardo da Hora Machado Filho, de 36 anos, começou a desenhar quando era criança. À época, a atividade ainda era um hobby, mas se tornou a profissão do cartunista, que trabalha atualmente ao lado de Maurício Ricardo.
 
“Toni Dahora”, como é conhecido, se formou no curso de Artes Plásticas na Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e começou sua carreira fazendo tirinhas para jornais da universidade, e chegou a fazer quadrinhos para uma editora localizada nos Estados Unidos, logo após a sua graduação.
 
Em conversa com o Diário, o profissional afirmou que um de seus planos para 2021 é lançar cinco histórias curtas no papel para os fãs do formato. Segundo ele, a ideia é divulgar ainda mais o seu trabalho, presenteando as pessoas que ainda preferem o contato físico com os gibis e as famosas revistinhas.
 
“Eu acho que os dois formatos [digital e físico] têm suas vantagens e desvantagens. No digital, existe a facilidade de distribuição. Eu, particularmente, prefiro ler no papel, e quero ver se consigo atrair este público. Quem é colecionador, assim como eu, quer ter a HQ para colocar na estante. Eu não acho que o papel vá acabar tão cedo”, explicou o cartunista.


 
OS QUADRINHOS COMO ARTE
Colunista do Diário, Chico Assis é pesquisador da UFU e se graduou na universidade no curso de Artes Visuais. Mesmo que não trabalhe de maneira profissional na área gráfica, o uberlandense de 47 anos já organizou diversas exposições na cidade relacionadas à arte e à linguagem das HQs.
 
Ele conta que começou a ler as histórias em quadrinhos na infância, e que a paixão existe até hoje. Além de fazer tirinhas para jornais universitários, Assis já coeditou duas “fanzines”, publicações feitas por entusiastas de uma cultura em particular, trabalho este que contou com a presença de diversos cartunistas e quadrinistas.
 
Questionado sobre a transformação digital vivida no século XXI, Chico disse que os gibis físicos e no meio digital se complementam. De acordo com ele, é impossível escapar da internet, mas acredita que a qualidade e a fruição artística ao ler uma história no papel é mais interessante.
 
“Quando existe um trabalho plástico em uma história, eu prefiro o papel, mas eu costumo acompanhar produções contemporâneas pela internet. Nesse meio digital, acho que algumas coisas se perdem, mas têm outras que são vantagens, principalmente para um maior alcance e visibilidade”, disse.
 
Assis falou ainda sobre a importância das HQs como uma forma narrativa importante para a arte não só brasileira, mas mundial. De acordo com o artista visual, os quadrinhos possuem relações com outros tipos de arte, como a literatura, o teatro e até mesmo o cinema. Além disso, a produção serve também como um objeto de estudo da história, da sociologia e sobre diversos outros tópicos, conforme disse o uberlandense.
 
“As histórias em quadrinhos fazem parte da minha vida como um todo. É por meio delas que aprendi a me relacionar com o mundo. A minha vida passa pela arte e passa pelas HQs, seja como leitor, apreciador ou pesquisador”, detalhou Assis.


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