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15/12/2020 às 14h57min - Atualizada em 15/12/2020 às 14h57min

Imunização contra Covid-19 pode esbarrar em desconfiança da população

Especialista ouvida pelo Diário esclarece importância da imunização e desmistifica fake news

DHIEGO BORGES
Governo espera autorização da Anvisa para iniciar vacinação no início de 2021 | Foto: Reuters/Washington Alves
O Ministério da Saúde (MS) disponibilizou na última semana o Plano Nacional de Imunização contra a Covid-19. O documento não prevê data para o início da vacinação no país, mas a expectativa, segundo o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, é que 100 milhões de doses da norte-americana Oxford/AstraZeneca, já adquiridas pelo governo, tenham aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e comecem a ser aplicadas no fim de fevereiro de 2021.

Nesta segunda-feira (14), a Anvisa confirmou que pode avaliar e conceder autorização emergencial de vacinas contra a Covid-19 em até 10 dias para empresas que cumpram os requisitos fixados. Apesar dos avanços científicos, a imunização em massa pode esbarrar nas chamadas fake news e no receio da população com possíveis efeitos da vacina.

De acordo com um estudo divulgado pelo Instituto Data Folha nesta segunda, 22% dos brasileiros admitiram que não querem ser imunizados. O percentual de rejeição sobe para 50% para vacinas produzidas pela China, como a CoronaVac, produzida pela farmacêutica chinesa Sinovac.

O Diário de Uberlândia também fez uma enquete pelas redes sociais. Entre os participantes, 23% disseram que não tomariam a vacina. O jornal também perguntou se os leitores têm algum receio de se imunizar e quais seriam os motivos. Entre as respostas negativas, boa parte afirma ter medo dos efeitos colaterais ou não confiar na imunização contra a doença.

“A vacina foi testada em curto prazo, não tenho confiança”, disse um dos leitores. “A rapidez do desenvolvimento da vacina me preocupa um pouco”, contou outro. “Não sou contra a vacinação, mas não tomaria esta contra a Covid, certamente vou esperar”, revelou outra leitora.

Uma das especulações alimentadas pelas chamadas fake news pairam sobre as chamadas vacinas de ácido nucléico, de DNA e mRNA. Informações que circulam pela internet afirmam que as imunizantes poderiam alterar o material genético, promovendo transformações na espécie humana. Entre as imunizantes que utilizam o DNA e o RNA estão as vacinas produzidas por norte-americanas, a Moderna/NIH e a Pfizer, que atua em parceria com o laboratório alemão BioNTec. No início do mês, o MS confirmou que já está em negociação para adquirir 70 milhões de doses da imunizante Pfizer, já aprovada nos EUA.

O Diário de Uberlândia procurou uma especialista para explorar o assunto e explicar a atuação da vacina o corpo humano. Em entrevista, a médica responsável técnica do Madrecor Vacinas, Ana Laura Pereira Rodrigues Attie, explicou que não há possibilidade de que vacinas de DNA e de mRNA alterem o DNA humano.

“As vacinas de DNA inserem no nosso organismo apenas um pedaço muito pequeno do DNA, chamado de plasmídeo, onde ocorrem modificações e inserções de genes do próprio agente causador da doença. Este pedaço de DNA será lido no núcleo de células do paciente, produzindo a proteína codificada pelo gene, que esperamos que seja reconhecida como estranha pelo sistema imune, induzindo imunidade contra aquela proteína. Já nas vacinas de RNA, o mRNA é incorporado em nanopartículas lipídicas (gorduras), que carregam a fita de mRNA para dentro do citoplasma. Elas seguem um princípio muito semelhante às vacinas de DNA, mas não necessitam que o mRNA seja inserido. Desta forma, não existe essa possibilidade, de que vacinas de DNA e de mRNA alterem nosso DNA, pois os genes não são inseridos dentro do genoma humano”, afirmou.
 
IMUNIZAÇÃO EM UBERLÂNDIA
Na última quarta (9), o prefeito Odelmo Leão confirmou que está em processo de negociação com dois laboratórios para aquisição de 400 mil doses da vacina contra o coronavírus. Segundo o chefe do Executivo, as negociações estão sendo feitas com o Instituto Butantan, responsável pela CoronaVac, e a farmacêutica União Química, que deve produzir a vacina russa Sputnik V.

Em entrevista coletiva, o prefeito destacou que caso as negociações sejam encaminhadas, quando a vacina estiver autorizada pela Anvisa, o Município terá as doses garantidas. O prefeito não informou o valor do investimento, mas adiantou que a prioridade na vacinação será para pessoas que fazem parte dos grupos de risco, entre eles profissionais da saúde, idosos e pessoas acamadas.
 
IMPORTÂNCIA DA VACINA
A especialista ouvida pelo Diário também explicou que a vacina age introduzindo uma forma enfraquecida ou totalmente inativada do agente que causa a doença no organismo, incentivando as defesas do organismo a gerar anticorpos e memória imunológica, impedindo a manifestação da doença.

De acordo com a médica, as vacinas passam por um processo rigoroso antes de serem aprovadas. “O que de fato é verídico é que todas as vacinas, independente da nacionalidade, se da China, Reino Unido, EUA, Rússia ou qualquer outro país, devem passar por um processo longo de desenvolvimento antes de serem aprovadas e todas, sem exceção, seguem os mesmos protocolos de testes, e, uma vez aprovadas para uso em massa, são seguras e eficazes”, destacou.

Negligenciar a vacinação ou não se vacinar, segundo a especialista, pode causar o retorno de doenças eliminadas, como já ocorreu em 2017 com o sarampo, quando a cobertura vacinal foi reduzida a 91% e houve um novo surto da doença, com mais de 18 mil casos e 18 mortes, entre 2018 e 2019.

“Essa proteção, chamada de imunidade coletiva, somente é eficaz quando uma grande parcela da população está imune, ou seja, quando a cobertura vacinal atinge cerca de 92 a 95% da população, que assim fica protegida, evitando a disseminação de doenças. Respeitar a vacinação é uma questão de responsabilidade social, coletiva, empatia e respeito à vida. Quando você está vacinado, você estará protegido e estará ajudando a proteger quem eventualmente não pôde se vacinar”, finalizou.
 
CONTRAINDICAÇÕES
De acordo com o Plano Nacional de Imunização do Ministério da Saúde, há determinadas contraindicações para a imunização. É o caso das gestantes ou lactantes, por exemplo. Essa foi uma das dúvidas frequentes enviadas ao Diário por leitores que responderam à enquete promovida pelas redes sociais.

Segundo a especialista ouvida pela reportagem, a contraindicação se justifica pelo pouco tempo de testes. “Trata de uma medida de cautela, porque não houve tempo para formular testes precisos com grávidas e lactantes. A bula da vacina Pfizer, por exemplo, informa que o imunizante não deve ser aplicado em grávidas, mulheres que estão amamentando ou em pacientes com febre aguda”, destacou.


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