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12/12/2020 às 08h00min - Atualizada em 12/12/2020 às 08h00min

Artistas de Uberlândia falam sobre prejuízos na pandemia

Covid-19 atrapalhou planos de envolvidos no cenário cultural

IGOR MARTINS
DJ João Pedro Milken espera retorno gradual do setor em 2021 | Foto: Divulgação

Já são quase nove meses sem subir no palco, sem fazer um show ou sem se envolver em uma produção cultural. Desde o dia 20 de março, o setor de eventos não funciona em Uberlândia, um dos reflexos do fechamento de atividades em decorrência da Covid-19. Em uma época festiva como agora e que deveria ser de grandes confraternizações, pessoas envolvidas com o setor artístico da cidade falaram sobre o ano e sobre a expectativa de retorno da área em 2021.

Quem sentiu os impactos da pandemia foi Lucas Cordeiro, profissional do show business há mais de sete anos em Uberlândia. Em seu currículo estão a realização de eventos como o Festival Timbre, Aloha Music, Festival Gudi Vibes, Alforria, dentre outros. Em entrevista ao Diário, ele falou sobre a necessidade de suspensão de eventos logo no início da proliferação do vírus em Uberlândia.

O produtor cultural de 29 anos contou que tinha um evento programado para o final de maio na cidade. Na época, ele acreditava que a pandemia teria fim por volta de outubro, mas agora ele vê o retorno do setor da forma mais pessimista possível. “Quando houver volta, acredito que será gradual, com eventos para 300 pessoas, depois 500, depois mil, e com intervalos grandes de meses”, disse.

Cordeiro analisou o prejuízo causado pela pandemia com a falta de oportunidades pelo fechamento do setor cultural na cidade. “Pelo menos 100 shows do artista para qual trabalho deixaram de acontecer. Nas rádios que trabalho, são mais de 300 eventos atendidos anualmente. Fora as prestações de serviço para terceiros, como venda de shows, produções de palco, curadorias e outros freelances que acabo realizando. É um prejuízo muito difícil de se contabilizar. 2020 era um ano que tinha começado bem movimentado”, falou.

Lucas Cordeiro admitiu que ficou sem saber o que fazer no início da pandemia. O uberlandense revelou que para seguir contribuindo com a produção artística, olhou para dentro e fez uma reflexão. Ele acredita que quando esse momento acabar, tudo será melhor, levando em consideração o amadurecimento da classe artística nesses tempos difíceis.

“Durante esse momento, acredito que vieram bons insights para artistas. A produção não parou. Os artistas continuaram lançando músicas, claro, com cifras diferentes, com menor investimento e menor retorno. Mas as boas ideias e a criatividade brasileira sempre se superam”, falou à reportagem.

O profissional cultural relatou ainda da importância dos editais de auxílio à classe artística durante a pandemia. Autointitulado como o “especialista em editais”, Lucas disse que a Lei Aldir Blanc em Uberlândia chegou em uma boa hora. Cordeiro criou ainda um grupo no WhatsApp para compartilhar notícias do mercado cultural e de entretenimento, além de divulgar oportunidades como essas para produtores e artistas do Triângulo Mineiro.

O período afastado das produções artísticas fez com que Lucas Cordeiro buscasse também novas paixões. Ele já chegou a fazer lives de culinária, esportes, entrevistas e debates políticos, além de criar dois podcasts, onde ele entrevista artistas de bandas renomadas e profissionais de cultura e entretenimento da região.

“Acredito que já passou a hora de chorar o leite derramado e de calcular prejuízos. Essa fase é natural, mas ela deveria ter sido há alguns meses. Em junho, no máximo julho, já era para ter feito essas contas, se reinventando e projetando novas opções e oportunidades de atuação. Sabemos que não vai ser como no ano passado, mas para toda crise tem oportunidades diferentes. Basta olhar o mercado, já tem muita gente se mobilizando de outras formas”.
 
REINVENÇÃO
Outra pessoa envolvida no cenário artístico e que precisou se reinventar foi o DJ João Pedro Milken. Atuando em shows e eventos desde 2017, o uberlandense vive da música há praticamente dois anos. Para continuar com algum tipo de renda, o músico passou a fazer hambúrguer artesanal em casa para vender e, com a retomada gradual do comércio, consegue se manter com trabalhos temporários.

“A pandemia afetou minha programação não só de shows, mas de todo o planejamento que eu tinha feito para 2020. Eu fiz um curso de produção musical para começar a produzir minhas próprias músicas e meus remixes, mas a pandemia atrapalhou tudo isso. Sem dinheiro, sem movimentar e sem trabalhar eu não consegui dar sequência nesses planos. Eu estimo uma perda de uns 70 ou 80 eventos nesses nove meses”, explicou ao Diário.

Mesmo com novas oportunidades no mercado de trabalho, Milken sente falta dos palcos e espera um retorno gradual do setor cultural em Uberlândia a partir de 2021. “Se fosse para prever, eu acho que voltar ao normal mesmo só no final de 2021. As conversas sobre as vacinas são muito promissoras, é algo que nos anima, pelo menos no que diz respeito a poder voltar a trabalhar mesmo com o público reduzido ou em diferentes formatos. O setor cultural carece disso. O quanto antes a gente conseguir voltar de forma segura, melhor”, falou.

Estudante de design gráfico em uma universidade privada na cidade, o DJ acredita que várias pessoas e empresas envolvidas na atividade artístico-cultural, como profissionais de buffet, segurança e limpeza, ainda sofrerão com as consequências da pandemia do novo coronavírus. “Muitas empresas não vão conseguir retomar as atividades, isso vai ser bem complicado e pode gerar uma precariedade na prestação de serviços para eventos” disse o músico.

Ainda durante a entrevista, João Pedro Milken disse que um retorno rápido pode ser complicado para o cenário, levando em consideração o índice de desemprego decorrente da pandemia, além da provável queda nos cachês dos artistas.

“O que nos resta é esperar e ir trabalhando do jeito que dá. Muita gente fechou as portas, muitos artistas desistiram da carreira e provavelmente não voltarão mais a trabalhar com isso. O setor de eventos tem a possibilidade de explodir quando retomar, mas eu acredito que vai ser mais lento. As pessoas estão sem dinheiro”, finalizou o DJ.


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