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03/08/2020 às 17h56min - Atualizada em 03/08/2020 às 17h56min

Audiência pública promove debate sobre a Covid-19 em Uberlândia

Participantes criticaram condução do Município no enfrentamento ao vírus; presidente da Aciub defende importância das atividades econômicas

IGOR MARTINS

Uma audiência pública virtual, promovida pela Câmara Municipal de Uberlândia, debateu sobre os impactos da abertura do comércio e o sistema de saúde da cidade durante a pandemia da Covid-19. O encontro, realizado na tarde desta segunda-feira (3), reuniu profissionais das áreas de saúde, educação, política e economia.

Durante o encontro virtual, o vereador Professor Edilson (PCdoB) criticou a condução da Prefeitura de Uberlândia no enfrentamento ao vírus e afirmou que o Município tem se equivocado nas decisões tomadas em relação à pandemia. “Houve demora para fazer o distanciamento, flexibilizou antes da hora e deixa a própria economia em dúvida. Temos uma posição clara. É preciso ouvir o que a ciência tem a nos dizer”, disse.

Na opinião do parlamentar, é importante cuidar da saúde e economia igualmente, devendo esta observação ser feita de maneira atenta pelas autoridades governamentais. “O que faltou foi uma condução correta por parte do governo federal, que lá em março liberou R$ 1 trilhão para o sistema financeiro. Não foi para as pequenas e médias empresas ou para autônomos”, relatou
Professor Edilson.

Segundo a professora Iara Helena Magalhães, a pandemia escancarou os fundamentos e os valores que sustentam um tipo de política no Brasil. Na opinião dela, em relação ao enfrentamento à Covid-19, falta coordenação dos entes federados e faltam regras claras no que diz respeito à necessidade do isolamento social e de cumprir a quarentena.

“Os governos estaduais compactuaram com as medidas de flexibilização do comércio e da indústria, sustentados por comerciantes industriais e pela classe média. Os prefeitos e suas câmaras municipais, cedendo a um poder político, decidem a vida e a morte numa ciranda, onde o obscurantismo tenta encobrir a ciência e decidir a vida de quem vive e quem morre”, disse.

FALTA DE INFORMAÇÕES
Flávia Teixeira, professora na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), falou sobre a desinformação da população e cobrou a necessidade de o governo fornecer informação de qualidade a respeito do vírus. De acordo com ela, é preciso levar até a população dados precisos sobre a pandemia e o que tem de efetivo para vencê-la.

Outro ponto abordado pela professora é a necessidade de a população entender a necessidade do isolamento social, através da utilização de máscaras. “Pouco nos acrescenta saber que Uberlândia testa 17 vezes mais que Minas Gerais. Precisamos investir e acreditar que ainda dá tempo. Alguns pensam que isso [isolamento] já deveria ter sido feito lá atrás, mas ainda é necessário que o poder público invista nessa estratégia e na questão da proteção social”, relatou Flávia.

Ainda de acordo com a professora, é de fundamental importância acompanhar as famílias que perderam entes queridos na luta contra a Covid-19. “Como as famílias têm vivido esse processo? Sem velório, sem a despedida oficial. Quais são as dores e as consequências desse processo? O impacto de adoecimento na perspectiva da saúde mental das pessoas que estão envolvidas? A evolução da pandemia é culpa da falta de gestão”, disse a professora.

FECHAMENTO DO COMÉRCIO
Na opinião do enfermeiro Norton Nunes, Uberlândia tem sofrido com as medidas tomadas pelo Município no enfrentamento à Covid-19, especialmente no que diz respeito à flexibilização do comércio. De acordo com ele, é preciso pensar em tudo o que envolve a abertura de um estabelecimento comercial, desde a presença de funcionários e clientes no local até a lotação do transporte coletivo na cidade.

“Fechar o comércio é fácil. Agora, para abrir é mais complicado em um estado de pandemia. É preciso abrir paulatinamente esses segmentos e medir o impacto deles na sociedade. Nossos óbitos estão aumentando, não estão estabilizados, estamos em uma curva de ascensão. O Município precisa pensar na população que está se contaminando e que está levando o vírus para as famílias e para quem não sai de casa”, disse.

Especialista em saúde pública, Nunes criticou o fato de o governo federal estimular o uso da hidroxicloroquina, mesmo sem comprovação científica contra a Covid-19, e na falta de informações sobre a utilização de máscaras de proteção. “Nós temos um um governo que não tem seguido os critérios de fechamento e abertura de comércio que a OMS recomenda”, relatou o enfermeiro.

ECONOMIA
O presidente da Associação Comercial e Industrial de Uberlândia (Aciub), Paulo Romes Junqueira, também participou da audiência durante esta tarde. De acordo com ele, é preciso ter um olhar cuidadoso em relação ao ser humano e todos os problemas enfrentados pela população mundial com a pandemia do coronavírus.

Durante o debate, Junqueira defendeu a importância das atividades econômicas e comparou o atual momento com um avião voando com apenas uma asa. Na opinião dele, é fundamental, na atual conjuntura, derrubar as diferenças entre a esquerda e a direita e tomar decisões que sejam melhores para a humanidade como um todo. “Um avião não pode voar com uma asa só”, disse.

Paulo Romes Junqueira questionou ainda a representatividade dos outros participantes na audiência pública virtual nesta tarde. “Eu, sinceramente, nem me sinto representante da classe porque eu tenho condições de ficar alguns meses abrindo a geladeira e tendo mantimento mesmo sem trabalhar. Será que nós somos os verdadeiros representantes dos sentimentos da população e do ficar em casa?”, relatou.

Segundo ele, a economia não representa um problema menor durante a pandemia. “É menor para quem tem renda garantida e para quem tem o que comer amanhã. Muitos profissionais liberais vendem hoje para comer amanhã. É claro que não deixa de preocupar, com todas as questões daquilo que nós podemos fazer pela saúde”, explicou Junqueira.

Por fim, o presidente da Aciub alertou para uma possível crise social em função do fechamento de comércios em Uberlândia. “Muitos pequenos comerciantes vão fechar e não vão mais abrir as portas. Eu não posso comparar a morte de um CNPJ com um CPF. Não quero e não vou comparar. Vou me centrar só nas pessoas. Atrás de um CNPJ tem pessoas, tem emprego sendo gerado”.

O geógrafo e professor da UFU, Cláudio di Mauro, pediu união da classe trabalhadora, movimentos sociais e entidades de comércio para garantir a sobrevivência de médios e pequenos empresários. "É preciso o setor produtivo e o empresarial se unirem e irem aos governos estadual, federal e municipal e ao congresso para que de fato haja destinação de recursos de salvamento. O Brasil não tem dinheiro? Como não tem dinheiro? Foi destinado R$ 1 trilhão para bancos atuarem no salvamento das empresas. O que temos visto é que as grandes empresas têm se enriquecido mais", disse.

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