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14/02/2020 às 17h13min - Atualizada em 14/02/2020 às 17h13min

Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato, fala sobre carreira e política brasileira

Jurista que integra a operação conversou com o Diário durante visita a Uberlândia nesta quinta-feira (13)

BRUNA MERLIN
Procurador da República ministrou palestra sobre ética e luta contra corrupção durante evento da Unimed | Foto: Bruna Merlin
Parece que foi ontem que presenciamos um dos maiores escândalos da corrupção no Brasil revelado pela operação Lava Jato, mas a ação que investiga crimes da Petrobras e outras estatais completa seis anos em 2020. Além das constantes exposições dos crimes, muitos profissionais que trabalharam na força-tarefa ficaram nacionalmente conhecidos. Foi o caso do procurador do Ministério Público Federal (MPF), Deltan Martinazzo Dallagnol. Nesta quinta-feira (13), o jurista brasileiro, que integra e coordena os trabalhos da operação, desembarcou pela primeira vez em Uberlândia.

O procurador veio à cidade ministrar uma palestra sobre “Ética e a Luta contra a Corrupção” durante um evento realizado pelo Programa de Integridade da Unimed. Antes de subir ao palco, Dallagnol conversou com o Diário e falou sobre sua carreira, pretensões futuras e o cenário atual da política brasileira.

Natural da cidade de Pato Branco no interior do Paraná, Dallagnol tem 40 anos e é formado em direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). O jurista é mestre em direito pela Universidade de Harvard e faz parte do grupo de procurados da República desde 2003.

Realizado com a carreira, o jurista disse que se sente muito feliz com os rumos que sua vida profissional tomou. Segundo ele, a Lava Jato foge da curva da frustração e do insucesso da luta contra a corrupção no país. Para Dallagnol, os trabalhos demonstraram muita importância para o crescimento legislativo e populacional.

“Hoje nós vemos o quanto o cidadão está cada vez mais interessado na política brasileira. Além da responsabilização de poderosos e recuperação de valores, a operação trouxe um desenvolvimento do senso de cidadania e direitos. Hoje todo mundo sabe o que aconteceu e isso transformou o pensamento de que o país nunca iria mudar”, ressaltou.

Deltan também comentou sobre a alta exposição dos profissionais que trabalharam na operação. Para o procurador, isso é algo natural e necessário para a disseminação de informação no país, além de ser um preço que todos os envolvidos têm que pagar por realizar um trabalho que, querendo ou não, impacta toda a sociedade. A reportagem também perguntou ao jurista como essa visibilidade pode afetar os trabalhos, citando uma referência sobre o vazamento de um áudio entre ele o ex-juiz Sérgio Moro durante as investigações, mas o procurador preferiu não se posicionar devido ao envolvimento de outra pessoa.

Em decorrência da exposição, muitas críticas e elogios surgiram em relação ao trabalho do MPF. Dallagnol acredita que isso sempre existirá e diz ser um processo normal. “Nós recebemos muito reconhecimento e isso é essencial para que as investigações continuem. Ao mesmo tempo existem críticas construtivas que são aproveitadas, mas tem aquelas que não têm fundamento nenhum e que só buscam retirar a credibilidade dos trabalhos”, continuou.
 
Pacote Anticrime
O Diário também fez uma abordagem sobre o novo pacote anticrime, que é resultado de propostas elaboradas pelo atual ministro da Justiça, Sérgio Moro, e por uma comissão de juristas coordenada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre Moraes. O projeto, que altera dispositivos do Código Penal, Código de Processo Penal e da Lei de Execuções Penais, foi sancionado em dezembro de 2019 pelo presidente Jair Bolsonaro e começou a ser aplicado em janeiro deste ano.

Ao ser questionado sobre qual seria sua opinião em relação às novas regras criminais, Dallagnol disse que o pacote original era muito bom, mas algumas mudanças significam um retrocesso na legislação do país. “As partes que dizem respeito dos crimes de rua e violência foram mantidas e isso é muito bom. O problema é que a outra metade que fala sobre a corrupção foi suprimida e ainda foram enxertadas regras que prejudicam o combate do crime”, explicou o procurador.

Deltan também citou sobre a proibição da negociação de regimes e penas durante uma delação premiada. De acordo com ele, isso irá dificultar a celebração de acordos e colaboração que relevam crimes.
 
Futuro da Lava Jato
Após seis anos de trabalhos, que resultaram na responsabilização de dezenas de pessoas envolvidas no esquema da Petrobras, na recuperação de mais de R$ 12 bilhões aos cofres públicos e também na prisão do ex-presidente Lula Inácio da Silva pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro na ação penal envolvendo um tríplex, o jurista Deltan Dallagnol garante que muitos desdobramentos ainda serão realizados na operação. Ele disse à reportagem que em breve serão divulgados dados que mostram os indicadores da ação em 2019.

“Nós tivemos treze fases no ano passado, recebemos 29 denúncias de acusação e conseguimos recuperar mais R$ 1,6 bilhões”, comentou.

Ainda de acordo com o procurador, as investigações continuam e não tem previsão para acabar. De acordo com o jurista, existem outras áreas da Petrobras envolvendo governos passados do Paraná que continuarão sendo exploradas ao longo deste ano.
 
Operações em Uberlândia
Deltan também apoiou a efetividade das ações realizadas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) no último semestre de 2019 em Uberlândia. A operação Má Impressão, que resultou na prisão de 21 vereadores envolvidos em esquema de corrupção e desvio de verba com notas frias emitidas por gráficas da cidade, foi parabenizada pelo procurador da República. Ele chegou a falar que as ações foram a Lava Jato de Uberlândia.

“Isso revela um trabalho muito bem feito do Gaeco e do Ministério Público Estadual (MPE). Gosto de pensar que a Lava Jato abriu oportunidades para investigações em outras cidades do país”, disse Dallagnol.
 
Pretensão política
Carreira política ainda não é uma alternativa cogitada pelo procurador. Ele revelou que seu único objetivo é continuar trabalhando na Lava Jato com foco total.

“Várias pessoas já me trouxeram essa ideia de concorrer a um cargo político. Mas hoje entendo que eu devo continuar contribuindo com a sociedade através das investigações e na responsabilização de criminosos”, explicou.
 
Palestra
Em sua primeira vez em Uberlândia, Dallagnol foi convidado para ministrar uma palestra do seminário Compliance, Integridade, Transparência e Ética (CITE) realizado pelo Programa de Integridade da Unimed Uberlândia. O evento que aconteceu na noite de quinta-feira (13), no Center Convention, era destinado a cooperados, clientes, colaboradores e prestadores de serviços da empresa.

Dallagnol conversou com o público sobre a ética e a luta contra a corrupção que cada cidadão deve praticar no cotidiano. O objetivo era incentivar as pessoas a atuar com mais integridade na vida particular e também na pública. Para ele, cada indivíduo deve fazer sua parte e não somente cobrar de empresas, autoridades, políticos e organizações.

“A Justiça está fazendo sua parte, mas a sociedade também precisa se conscientizar e perceber que muitos atos praticados no dia a dia também podem ser considerados corrupção. O trabalho da Justiça precisa ser necessariamente complementado com o trabalho do cidadão que promove e defende a integridade pública”, finalizou.

O seminário também contou com outras palestras e apresentações relacionadas aos princípios cooperativistas e pessoais. A programação começou às 18h30 e foi finalizada às 22h.
















 

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