Luiz Carlos se vestiu como Thor na CCXP 2019 | Foto: Arquivo Pessoal
O crescimento da cultura pop e a democratização do acesso a séries e filmes permitiram que personagens de jogos, livros e produções cinematográficas se tornassem mais conhecidas pelos brasileiros. É difícil imaginar uma pessoa que não tenha assistido a um filme dos Vingadores ou que não tenha lido ou saiba quem é Harry Potter. Dentre os mais jovens, o que mais faz sucesso atualmente são os jogos eletrônicos, que movimentam bilhões de dólares anualmente.
Mesmo sem dados oficiais sobre a expansão deste segmento em Uberlândia, é unânime dentre pessoas que trabalham na área de festas e eventos que a cidade tem registrado um crescimento em comemorações que remetem ao mundo pop. Estas festividades, na maioria das vezes, são marcadas pela presença dos cosplayers, aquelas pessoas que se fantasiam e fazem a festa das crianças, adolescentes e até mesmo dos adultos.
O vendedor comercial Luiz Carlos Cândido Rodrigues viu na atividade uma oportunidade de transformar um hobby em uma fonte de renda extra. A história dele com esta arte começou há aproximadamente 13 anos. O uberlandense contou que foi a uma festa vestido como o pirata Jack Sparrow, do filme “Piratas do Caribe”. O sucesso foi tanto que ele ganhou o concurso de melhor fantasia e a partir daí começou a investir na paixão. Ele já é figurinha marcada na Convenção de Animes e Tokusatsus de Uberlândia (Catsu), evento que acontece todos os anos na cidade.
Com o tempo, ele foi aperfeiçoando o personagem vivido por Johnny Depp e passou a dar vida a outras figuras icônicas não apenas do mundo fictício, mas também da vida real. Rodrigues passou a interpretar um de seus maiores ídolos no esporte, o piloto de Fórmula 1, Ayrton Senna, que morreu em 1994. Além do Rei de Mônaco, o cosplayer de 29 anos dá vida ao Capitão América e ainda trabalha como o deus nórdico Thor, em sua versão mais engraçada, como ele mesmo diz.
Presente na última edição da Comic Con Experience (CCXP), realizada em dezembro de 2019 em São Paulo, o vendedor falou sobre a experiência e a sensação de participar de um evento de grande porte da cultura nerd. “Estar na CCXP é o sonho de qualquer pessoa que faz cosplay. Foi muito legal ter visto tanta gente boa e o sorriso das pessoas que viam nossas fantasias. Passei o dia todo tirando fotos com as pessoas. Se eu andei 200 metros lá foi muito”, brincou o uberlandense.
Por outro lado, o crescimento de cosplayers na região não quer dizer que a atividade seja valorizada, segundo Luiz Carlos. Segundo ele, Uberlândia ainda tem muito a evoluir e um dos passos a se seguir é o reconhecimento do cosplay como uma profissão. “As pessoas acham que cosplay é algo simples, que é só se fantasiar e pronto. Existe muita coisa por trás, nós passamos horas nos maquiando, temos que estudar os personagens, porque cosplay não se limita apenas à fantasia, mas também ao comportamento daquele personagem. As roupas têm um alto custo. É um investimento que nós fazemos para levar alegria para as pessoas que gostam deste tipo de arte”, afirmou.
PROJEÇÃO Empreendedora espera crescimento do setor em 2020
Carine Mota dá vida à rainha Elsa, de “Frozen” | Foto: Reprodução Instagram
Dona de um estabelecimento de festas e cosplayers, Carina Mota Pereira descobriu que poderia viver dessa área a partir do retorno do público em eventos. Nascida na cidade de Tanque Novo (BA), a cosplayer trabalha como a rainha Elsa, do filme “Frozen”, sucesso entre os pequenos e dono da maior bilheteria de animação de todos os tempos, com uma arrecadação de US$ 1,32 bilhões ao redor do mundo.
Atualmente, a empresa de Carina oferece mais de 100 personagens para festas, mas também alerta sobre a falta de valorização do cosplay em Uberlândia. “Nós investimos um valor muito alto para nos transformarmos em um personagem, e muitas pessoas não querem pagar nem o valor que muitas vezes não cobre nem o custo de manutenção”, disse.
Segundo ela, o ano de 2020 começou bem com o lançamento de “Frozen 2”. Ela espera que o mercado seja ainda mais movimentado até dezembro. “Precisamos valorizar este tipo de arte. A desvalorização dos cosplayers faz com que muitos desistam de serem profissionais e façam isso apenas por hobby.”
FANTASIAS Grande parte do sucesso de um cosplayer passa pela qualidade e vivacidade da fantasia que ele utiliza. Ela precisa fidelizar o máximo possível algum personagem. O crescimento deste mercado se dá devido ao trabalho realizado pelas pessoas que fazem a confecção destas roupas, os chamados cosmakers.
Referência no mercado de Uberlândia, a cosmaker Jackeline Martins sempre confeccionou seus próprios cosplays para comparecer nos eventos realizados na cidade. Em entrevista ao Diário, ela disse que a profissão começou a ser rentável a partir do momento em que decidiu fazer a produção de fantasias para outras pessoas quando ficou desempregada, em 2018. A mato-grossense de 23 anos aproveitou suas habilidades na área para começar a ganhar dinheiro e se manter. Desde então, é a ela que grande parte dos cosplayers da região recorre quando busca uma profissional do segmento.
Na avaliação de Jackeline, o crescimento da cultura pop na região do Triângulo Mineiro tem permitido a inserção de novos profissionais na área de festas e fantasias. A confecção de fantasias pode variar muito de preço, já que cada personagem tem a sua peculiaridade e suas diferenças na hora da produção. “Eu faço a separação nas categorias de armaduras e roupas. O material utilizado muda bastante. Tem personagens que usam armas, escudos, e outros, não. Tudo isso define a precificação e o tempo de produção das fantasias”, disse.
Ainda segundo a cosmaker, o ano de 2020 pode ser muito produtivo para o mercado, especialmente no segundo semestre, quando eventos de grande porte acontecem por todo o Brasil. A cidade de São Paulo é o principal destino das comemorações. A capital paulista recebe o Anime Friends e o Brasil Game Show (BGS) em julho e outubro, respectivamente. A CCXP está prevista para acontecer em dezembro, também em São Paulo.
A principal atração em Uberlândia deve ser a Catsu, prevista para agosto. “Muitas pessoas já me procuraram no início do ano para a confecção de cosplays que serão utilizados em eventos como estes“, disse a Jackeline Martins.