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17/11/2019 às 09h48min - Atualizada em 17/11/2019 às 10h13min

Demanda de delivery cresce em Uberlândia

Surgimento de restaurantes exclusivos para entrega é cada vez mais comum

GIOVANNA TEDESCHI
Você está em casa, e apesar de estar assistindo à uma série na Netflix, seus ouvidos estão atentos ao barulho de motos na rua. Seu estômago ronca e os minutos parecem demorar cada vez mais a passar. E, finalmente, a alegria chega. Ao mesmo tempo que toca o interfone, sua boca saliva, já condicionada àquele som. Você desce correndo as escadas, vê o simpático motoboy e pega o pacote pardo quentinho nas mãos. O aroma se espalha pela escada no caminho de volta ao apartamento.

Receber comida em casa já é costume antigo, da época que era preciso ligar para a pizzaria para fazer o pedido. Mas com a invenção da internet e o surgimento de aplicativos de delivery não é necessário emitir uma palavra para fazer com que seu prato favorito chegue em casa rapidamente.

O crescimento dos pedidos online é visível em todo o país. O iFood, por exemplo, cresceu 24% de julho a setembro deste ano: foi de 662 cidades para 822. O número de restaurantes cadastrados nacionalmente é de 116,2 mil. São 21,5 milhões pedidos mensais.
Em Uberlândia, a demanda por entregas de comida também não para de crescer. O que pode ser constatado com um mero olhar pelas ruas, com a quantidade de motoboys e ciclistas nos mais diversos bairros com mochilas dos principais aplicativos. Situação que não se via há alguns anos. A reportagem foi conferir esse movimento de perto e conversou com proprietários e gerentes de restaurantes da cidade.

Ramon Andrade administra desde a abertura, há 12 anos, o restaurante Liro Chef. Atualmente, 50% da receita do estabelecimento é de delivery, que em alguns dias, chega a ultrapassar as vendas do salão. “Eu creio que até o meio do ano que vem, nos restaurantes de modo geral, o delivery vai chegar a 70%. O cara pensa ‘eu pago uma taxa de entrega, vai compensar e eu como em casa com minha esposa, com meus filhos’. A pessoa já pensa mais na zona de conforto”, explica.

Para Andrade, a chegada dos aplicativos aumentou bastante a demanda. Ainda assim, em datas comemorativas, como Dia das Mães, Dia dos Pais e Dia dos Namorados, a maior parte dos clientes opta por ir até os restaurantes. “É mudar a rotina. Nessa hora, o movimento aumenta. O cliente, quando sai para comer fora, está procurando um momento especial”, afirma. Em dias comuns, a clientela do estabelecimento tem mais pessoas da terceira idade.

Ainda de acordo com o administrador, colocando na ponta da caneta, sai mais barato pedir comida do que cozinhar em casa. “Se você for comprar todos os ingredientes, vai gastar quase que o dobro. Pode ser que não saia da forma que você tá acostumado a comer. Se você for sair para comprar [no mercado], vai gastar gasolina, pagar estacionamento”.
 
DE AÇAÍ A HAMBÚRGUER
Hamburgueria Bauhaus funciona apenas no modelo delivery | Foto: Divulgação

José Almeida é sócio de um grupo que tem restaurantes exclusivamente para delivery. Em Uberlândia, já são dois empreendimentos: o Obba Açaí e o Fábrica de Burger. “Nós estávamos buscando um formato de negócio que tivesse uma demanda e não houvesse tanta oferta. Nós vimos uma demanda muito grande no delivery com o uso de tecnologia”, conta. A empresa nasceu há cerca de quatro anos em Montes Claros, norte de Minas Gerais.

Uma das inovações do grupo é a chamada cozinha compartilhada. “Funciona em um único prédio, onde tem várias cozinhas. O atendimento funciona como um call center de atendimento unificado: os pedidos chegam e vão para a cozinha de cada estabelecimento dentro desse prédio. Os motoqueiros também são unificados e saem com todas as marcas”, explica Almeida. Em Uberlândia, há duas unidades do Obba Açaí: uma no bairro Santa Mônica, funciona no esquema de cozinha compartilhada com a marca de hambúrguer; a outra, no bairro Planalto, ainda é individual. O objetivo da empresa agora é desenvolver mais esse sistema na cidade.

Para o empresário, o aumento da demanda de delivery tem relação direta com a internet e o acesso fácil aos mais diversos tipos de conteúdo estando em casa. “O cliente tem consumido de forma diferente, tem mudado muito. O pessoal hoje já não sai tanto, tem muito conteúdo em casa, tipo a Netflix, shows que você assiste em casa”, afirma. A mudança de rotina também afeta o consumo da população. “Acho que a rotina de trabalho tem aumentado muito. Então o pessoal trabalha, chega em casa e não quer sair”.

E aquela tão esperada notificação do iFood, com o cupom que barateia muito o almoço. Será que prejudica ou beneficia os restaurantes? “Tem bastante cliente que toma sua decisão de comprar através do cupom. Nós nos aproveitamos dessa demanda que surge repentinamente. Nós demos um custo, mas ele é bem pequeno. Às vezes dificulta um pouco a logística, por ser um boom muito rápido de pedidos”, diz Almeida.

Jivago Teixeira é proprietário da hamburgueria Bauhaus Burguer, que fica na região sul da cidade, mas também funciona apenas no modelo delivery. No momento, o restaurante está em fase de transição para uma cozinha maior por causa do aumento da demanda. “A princípio, o plano de negócios era abrir uma loja física, mas analisando a questão logística de Uberlândia, que em dez minutos você está em qualquer lugar, optamos pelo delivery”, afirma. Além de usar o iFood, o restaurante de Teixeira também tem um aplicativo próprio.

Apesar de prosperar no modelo atual, o empresário tem planos de abrir lojas físicas. “Não é algo tão próximo, algo ainda a analisar, mas existe a ideia”, conta. Ainda assim, Teixeira acredita que só no delivery consegue lucros maiores que de restaurantes que trabalham apenas com o salão.
 
O NOVO TRADICIONAL
Restaurante Diná começou com marmitas em 1996 | Foto: Arquivo Pessoal
 
O restaurante Diná, que fica na região central de Uberlândia, existe desde 1996. Inicialmente, Diná Pereira, proprietária do local, preparava marmitas na cozinha de casa, que eram entregues pelo marido. A procura aumentou e os dois colocaram mesas no quintal da residência. “O pé de manga que está até hoje no estabelecimento nos recorda o começo de tudo”, conta a empresária.

Atualmente, a receita do delivery é maior que a do salão. “Acredito que seja devido a praticidade do aplicativo e tempo de entrega rápida, a falta de tempo da locação e horário de almoço curto das pessoas”, diz Pereira. Apesar do uso de aplicativos, os pedidos de telefone ainda são recorrentes, principalmente vindos de pessoas idosas.

O Diná tem agora uma parceria com o iFood: a startup envia dez opções de pratos saudáveis ao restaurante, que devem ser preparadas diariamente. Estas opções são disponibilizadas em uma seção especial do aplicativo por um preço mais baixo que o normal e podem ser pedidas e agendadas para que os clientes recebam no horário que desejam.

A pizzaria Amo Pizza, localizada no bairro Tibery, fica aberta todos os dias e funciona durante toda a madrugada. Há atendimento tanto no salão quanto por delivery, com pedidos feitos pelas cinco linhas de telefone, Whatsapp e aplicativos de entrega. Ao menos 50% das vendas são feitas pelos apps. O restaurante também tem parceria com o iFood.

“Hoje eu tenho a capacidade de produzir 5 mil pizzas por dia. Eu solto três pizzas a cada 15 segundos. A gente poder ter condição de passar para os clientes um alimento com preço justo, eu fico muito feliz. Ganhamos na quantidade de vendas. Meu lucro é pequeno, mas eu vendo muito, então compensa”, afirma Gilmar Peixoto, proprietário do restaurante.

Metade das pizzas de Gilmar são vendidas pelos apps | Foto: Arquivo Pessoal





 
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