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17/10/2019 às 16h53min - Atualizada em 17/10/2019 às 18h43min

Sumiço de uberlandense completa 10 anos e família segue em busca de respostas

Carro da mulher foi encontrado em vala às margens de rodovia entre Uberlândia e Araguari; principais linhas de investigação são homicídio e acidente de trânsito

CAROLINE ALEIXO
Partes do carro da desaparecida foram encontradas em uma vala, às margens da BR-050, entre Uberlândia e Araguari | Foto: Polícia Civil/Divulgação
O desaparecimento da uberlandense Daniela Freitas Pimenta Muniz completou 10 anos no último mês, mas até hoje não houve solução para o caso. A mulher saiu de uma confraternização no bairro Patrimônio, no dia 7 de setembro de 2009, dizendo que iria à farmácia. A família desde então nunca mais teve notícias e segue aflita para descobrir o que aconteceu.

A situação se tornou ainda mais angustiante quando os familiares tiveram notícias de que o carro da mulher, que tinha 35 anos na época, foi encontrado em uma vala, às margens da BR-050, entre Uberlândia e Araguari. O boletim de ocorrência sobre o carro foi registrado em 2011, três anos após o desaparecimento, porém a família só teve conhecimento do registro no final de 2018.

O Diário de Uberlândia procurou informações junto às autoridades competentes para saber sobre o caso e apurou que, recentemente, as Promotorias de Justiça Criminais de Araguari e Uberlândia solicitaram novas diligências para embasar as investigações. As principais linhas para a causa do desaparecimento são homicídio e acidente de trânsito.


SUPOSIÇÕES
Inicialmente, os familiares acharam que Daniela teria ido embora por espontânea vontade porque apresentava quadro de depressão. Além disso, o celular dela e os documentos também nunca foram localizados.

“Depois que o veículo foi encontrado, nós começamos a pensar outras coisas porque fazia mais de ano que o carro estava no local, abandonado. Teoricamente, esse carro foi desovado na mesma época do desaparecimento”, comentou Marcelo de Freitas Pimenta, irmão de Daniela.

A mulher deixou o marido e a filha, com sete anos na ocasião. A adolescente continua morando com o pai. Questionado pela reportagem sobre a irmã estar passando por problemas conjugais ou profissionais, ou ainda alguma briga patrimonial, Marcelo disse que ela tinha alguns problemas no casamento, porém nunca soube de brigas mais sérias ou ameaças. Ela também estava desempregada naquele ano.

Daniela foi vista pela última vez no feriado de 7 de setembro de 2009 | Foto: Divulgação 


“No dia do desaparecimento, ela estava muito triste. A gente via ela muito quieta. A depressão dela piorou também pelo estado da nossa mãe, que estava iniciando o tratamento contra um câncer. À noite, como ela não retornava e não atendia o telefone, acionamos a polícia”, relatou.

Ainda de acordo com Pimenta, o celular da vítima chamou por três dias consecutivos e depois parou. A família tentou rastrear o aparelho, só que a Justiça negou o pedido por não ter certeza ainda do desaparecimento.

Falhas na investigação
No boletim de ocorrência registrado pela polícia, consta que o veículo, que estava no nome do marido de Daniela, foi encontrado por funcionários de uma empresa de extração de brita nas proximidades de Araguari. Ocorre que o fato não chegou ao conhecimento do Ministério Público e nem a família foi informada.

De acordo com a ocorrência, foram acionadas as polícias Civil e Rodoviária Federal, além dos Bombeiros, que desceram com cordas na grota onde estava o veículo. Contudo, não havia vítima no local e a hipótese é de que o carro teria sido empurrado da rodovia e caído dentro da vala. A placa foi recolhida e entregue à Polícia Civil, mas devido à área ser de difícil acesso, o carro não foi recolhido.

Marcelo contou que ficou sabendo do veículo encontrado apenas no ano passado, quando a reportagem do Diário de Uberlândia entrou em contato com a família para fazer uma matéria sobre desaparecidos.

 
“Os policiais vasculharam o carro e falaram que não acharam nenhum vestígio e nenhum objeto dentro ou fora do veículo. Mas a polícia de Araguari falhou muito porque deveria ter visto que a placa estava com restrição no sistema e devia ter acionado o processo em Uberlândia. Dizem que Uberlândia [Polícia Civil e MP] não ficou sabendo sobre o veículo”, comentou Pimenta.

A Polícia Civil respondeu que o inquérito foi concluído na época dos fatos, com empenho de vários setores da corporação, porém sem indiciamento. Confirmou ainda que recentemente novas diligências foram feitas, mas sem alteração no inquérito policial.

O Diário de Uberlândia questionou sobre o achado do veículo em 2011 e a falta de informações prestadas aos familiares, mas não obteve resposta. 
 
INQUÉRITOS
O Ministério Público Estadual (MPE) reabriu o caso com procedimentos em Araguari e Uberlândia. Nos autos consta que uma tia de Daniela Freitas Pimenta Muniz foi até o Ministério Público de Araguari, no início do ano, pedir para que fossem aprofundadas as investigações quanto ao veículo encontrado no município vizinho.

A familiar ainda comentou que o marido da sobrinha nunca comunicou sobre o carro localizado e que, cerca de seis meses após o desaparecimento, já estava namorando outra pessoa. Ele também pediu para que a mãe da ex-mulher retirasse os pertences dela da casa onde moravam, no bairro Cidade Jardim, em Uberlândia. A reportagem não conseguiu localizar o marido de Daniela para entrevista sobre o caso.  

O promotor de Justiça André Luiz Alves de Melo solicitou, no último dia 12 de setembro, uma nova vistoria no local onde o carro foi encontrado depois que a família procurou a Promotoria de Justiça. Participaram das buscas o Corpo de Bombeiros e a perícia da Polícia Civil, porém sem novas evidências.

 
“Acharam partes do carro por cerca de dois quilômetros de distância. Lá é um local que, quando chove, quase forma um rio e a água vai carregando tudo. O motor, por exemplo, não foi achado. As hipóteses podem ser tanto de um acidente de trânsito ou de alguém que jogou [o carro] da rodovia”, comentou o promotor. 

Também não foi encontrado nenhum vestígio de restos mortais ou pertences da vítima.

UBERLÂNDIA
Uma investigação paralela também é feita pela Promotoria Criminal de Uberlândia. A promotora Luciana Teixeira disse ao Diário que o caso não está esquecido, mas o decurso do tempo dificulta algumas linhas de investigação, embora não tenha descartado nem a possibilidade de homicídio e nem de acidente.

A promotora do caso não quis dar mais declarações no momento porque está aguardando novas diligências que foram solicitadas à Justiça. Não foi informado se o marido é um dos investigados ou quem seriam os principais suspeitos na hipótese de crime.  

“Nós ainda temos esperança de saber o que aconteceu. Todos os dias ficamos na angústia, sem as respostas. Não sabemos se ela morreu ou se está viva sofrendo, isso tudo é muito angustiante. Precisamos de uma resposta porque o caso todo é muito estranho. Parece que tudo vai se encaixando para não ter resposta. Mas acreditamos que tudo vai dar certo”, finalizou Marcelo.






 

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