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10/10/2019 às 08h18min - Atualizada em 10/10/2019 às 12h06min

Vereadores de Uberlândia são investigados na Operação Torre de Babel

Mandados são cumpridos contra Juliano Modesto (SD) e o ex-presidente da Câmara, Alexandre Nogueira (PSD); milícia também é alvo da ação

CAROLINE ALEIXO
Mandado de prisão preventiva foi expedido contra Juliano Modesto | Foto: Aline Rezende

O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e a Polícia Militar (PM) cumpriram mandados na Câmara Municipal de Uberlândia, na manhã desta quinta-feira (10), durante a Operação “Torre de Babel”. Entre os alvos estão os vereadores Juliano Modesto (SD) e Alexandre Nogueira (PSD).

Além de Uberlândia, os trabalhos ocorrem nas cidades de Uberaba, Monte Carmelo e Itumbiara (GO) com o objetivo de combater a atuação de três organizações criminosas. Foram cumpridos 65 mandados de busca e apreensão e 94 de prisão preventiva e temporária contra 69 investigados. Destes, 25 já estavam presos. Entre os investigados estão dez PMs, quatro policiais civis e três advogados.

Uma investigação paralela feita pelo Ministério Público apura que a
Cooperativa dos Transportadores de Passageiros e Cargas em Uberlândia (Coopass) teria apresentado planilhas com valores adulterados da quilometragem rodada pelos veículos do transporte para receber valores superiores da Prefeitura de Uberlândia pelo serviço prestado. 

No caso de Modesto, com mandado de prisão preventiva expedido, o Gaeco apurou que ele teria intimidado o denunciante que levou ao MPE essas informações sobre as supostas fraudes praticadas pela Coopass, que prestava o serviço de transporte escolar ao Município de Uberlândia, configurando crime de obstrução de Justiça já que o intuito era atrapalhar o prosseguimento das investigações. O político está fora de Uberlândia e tem até as 18h para se apresentar, segundo o Gaeco.

Em relação a Alexandre, que já foi cooperado da Coopass, também há indícios do envolvimento dele com a organização criminosa que estruturou o esquema para obtenção de vantagem indevida. Foram cumpridos mandados de busca e apreensão na casa dele e no gabinete na Câmara, bem como no de Modesto.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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São apurados ainda os crimes de peculato e falsidade ideológica. A apreensão de documentos, computadores e aparelhos celulares nas casas dos parlamentares e também nos gabinetes é feita para aprofundar as investigações. 


Atuação de milicianos
O foco principal da Operação Torre de Babel é desarticular uma organização criminosa formada, principalmente, por policiais militares e ex-militares de Uberlândia. O promotor de Justiça e coordenador do Gaeco, Daniel Marotta Martinez, esclareceu que vários crimes foram encomendados a essa milícia como homicídios, extorsão e dano ao patrimônio.

As principais atividades eram cobranças mediante emprego de violência ou grave ameaça contra eventuais "inimigos" dos clientes. As investigações indicaram que o vereador Juliano Modesto solicitou os serviços desse grupo para intimidar o motorista que fez as denúncias contra a Coopass. 

 

"Essas investigações estão em curso para apurar supostos desvios de recursos públicos nos contratos de transporte escolar, que também já foram objeto de outra operação do Gaeco, KMs de Vantagem. Todavia, agora com a denúncia dirigida à Coopass. Há indícios de que esses vereadores teriam encomendado essa milícia para atos de intimidação contra esse motorista", disse o promotor.


Entre os crimes apurados, foi identificada a participação da milícia no incêndio contra uma clínica que presta serviços de saúde na avenida João Pinheiro, no Centro da cidade, em abril do ano passado. O local foi alvo dos criminosos durante a onda de ataques ao transporte urbano da cidade.

Inicialmente, foi levantada a hipótese de a situação estar ligada aos recorrentes ataques a ônibus por parte do Primeiro Comando da Capital (PCC). O Gaeco então apurou que o ataque no estabelecimento tratou de vingança, uma vez que a mãe do contratante pelo serviço criminoso estava insatisfeita com o atendimento prestado pelo laboratório. 


ROUBOS

Arma de fogo foi apreendida durança operação | Foto: PM/Divulgação

Além da milícia, outros dois grupos criminosos desarticulados na Operação Torre de Babel foram investigados pelos crimes de roubo de carga e receptação de cargas e veículos. “O nome da operação é uma analogia à situação das diferentes línguas que eram faladas na Torre de Babel. Essa operação tem a maior diversidade de crimes de todas as operações do Gaeco. Roubo de carga, desmanche de veículos, obstrução de justiça, corrupção policial e se divide em três grandes tópicos”, comentou o coordenador do Gaeco durante entrevista coletiva. 

A organização investigada pelo roubo de caminhões e cargas é a mesma identificada na Operação Irmãos Metralha, no último mês de junho. A quadrilha era sediada em Uberlândia e no sul de Goiás e também se apurou o envolvimento dela em inúmeros homicídios, corrupção ativa, falsificação de documento público e crimes de lavagem de dinheiro.

A terceira quadrilha investigada tem como principal foco a receptação de cargas e carretas, além do desmanche desses veículos, para utilização na atividade de reformas de carretas. A organização também contava com participação de policiais na prática de corrupção. Os novos crimes imputados a esses integrantes foram apurados após deflagração da Operação Dominó, deflagrada em dezembro de 2018.


 
Entrevista sobre a operação foi concedida no início da tarde desta quinta-feira (10) | Foto: Giovanna Tedeschi

POSICIONAMENTO
O diretor de Comunicação da Câmara, Ademir Reis, informou que o departamento jurídico está acompanhando os desdobramentos do caso e que o presidente Hélio Ferraz-Baiano foi comunicado sobre ação do Gaeco ainda no início da manhã e facilitou a entrada dos policiais e promotores de Justiça no local. Reforçou ainda que o cumprimento de mandados é apenas contra os referidos vereadores e não há qualquer ligação da Casa Legislativa com as denúncias.

Sobre a prisão do vereador Juliano, a Câmara vai aguardar os desdobramentos uma vez que, segundo Ademir, o vereador pode ter até três faltas justificadas. Em caso de afastamento das atividades ou suspensão do mandato, o suplente é convocado pela Mesa Diretora para assumir a cadeira. O primeiro 
seria Walquir Cleuton do Amaral, que na eleição municipal teve 1.526 votos. Em caso de recusa, o sargento da Polícia Militar José Luiz de Araújo, que nas eleições de 2016 teve 1.262 votos, seria o segundo suplente do partido Solidariedade. 

As atividades no Legislativo seguem normalmente nesta manhã. A reportagem tentou falar com a defesa de Juliano, o advogado Rodrigo Ribeiro, e também diretamente com o vereador Alexandre Nogueira, mas as ligações não foram atendidas.

O Diário não conseguiu contato com representantes da Coopass para comentar as denúncias.




 


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