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09/08/2019 às 17h08min - Atualizada em 09/08/2019 às 17h08min

Ligações falsas comprometem serviços emergenciais em Uberlândia

Atendimentos podem ficar comprometidos com deslocamento desnecessário de equipes

SÍLVIO AZEVEDO
Os trotes mais comuns, segundo o coordenador do Copom, são feitos por crianças e adolescentes | Foto: SÍLVIO AZEVEDO
Os serviços de emergência servem para dar auxílio para quem necessita de atendimento. Seja Polícia Militar (PM), Corpo de Bombeiros ou ainda o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), todos recebem centenas de ligações diariamente. No entanto, muitas delas não passam de trotes e acabam comprometendo o deslocamento para situações reais de emergência em Uberlândia.

O Centro de Operações da Polícia Militar (Copom) recebe entre 1.800 a 2 mil ligações por dia, sendo que 5% delas são trotes, o que compromete o trabalho da PM. “Os trotes atrapalham, pois uma viatura que poderia atender a uma solicitação real vai ser deslocada para nada. O trote mobiliza uma equipe de oficiais, viaturas da rua, gasta combustível e compromete a logística. A viatura que deveria atender uma chamada real é usada em situações não verídicas”, disse o coordenador do Copom, tenente Júlio César da Silva.

Ainda de acordo com o tenente, quadrilhas usam o trote para cometer crimes. “Há casos de chamadas para deslocar a viatura para um local para que criminosos ajam em outro local”.

Os trotes mais comuns, segundo o coordenador do Copom, são feitos por crianças e adolescentes, sejam sozinhos em casa ou nos horários de intervalo das aulas nas escolas. Identificar os autores não é fácil, mas acontece.

“Em alguns casos conseguimos identificar, com utilização de bina. Quando conseguimos pegar em flagrante o autor do trote, ele é conduzido para a delegacia, pois é crime. Ele é autuado por falsa denúncia de crime”, afirmou o tenente Júlio.

Em alguns casos, o trote é identificado pelos próprios atendentes do Copom no momento da chamada, através do tom da voz do solicitante, frases incorretas e a situação muito fantasiosa criada para fazer a ligação. “Mas quando o caso é muito grave, a gente gera a ocorrência e só quando deslocamos a equipe para o local é que identificamos o trote”, disse o militar.
 
RESGATE
Quem também sofre com as falsas chamadas são os serviços de resgate, como o Corpo de Bombeiros e o Samu. Segundo o coordenador do Centro de Operações de Bombeiros (Cobom), capitão Falcão, a corporação recebe muitos trotes, e a identificação pode ser feita no momento da chamada.

“Quando a ligação é muito obvia, quando só os próprios dizeres do solicitante já nos sugere uma situação muito absurda, já identificamos que é trote. Mas acontece de a gente só descobrir no local”, disse.

De acordo com o coordenador do Cobom, os trotes trazem uma série de consequências para a corporação e para a sociedade, além de ser um desperdício de recursos. “Existe o empenho de uma equipe inteira, a menor tem três militares. Então três militares dentro de uma viatura grande, tem despendo de tempo, de combustível, de material. Essa equipe e viatura são expostos aos riscos de trânsito. Quando a gente faz isso para um trote, é mais que um desperdício de recurso. É arriscar os nossos recursos desnecessariamente”.

E, assim como acontece com a PM, no Cobom a maior parte dos chamados falsos também é feita por crianças. “Tende a aumentar no período de férias, pois as crianças ficam mais ociosas, longe do ambiente escolar. Inclusive é mais fácil de identificar, pois quando as ligações são feitas por crianças, a gente tende a ligar de volta para aquele número para ver se alguém atende, se confirmam a história”, afirmou o capitão.
 
SAMU
Camila diz que o envio de viatura do Samu para um trote pode colocar uma vida em risco | Foto: Sílvio Azevedo


Os problemas de trotes não são exclusivos dos militares. Criado ano passado para atendimento de urgência e emergência, o Samu também é alvo dos trotes. Em algumas ocasiões, as viaturas são deslocadas de cidades desnecessariamente para atender uma ligação falsa.

“Nós temos ambulâncias em 16 municípios aqui da região Triângulo Norte e, em determinados locais, com apenas um veículo. Isso para atender os 26 municípios. Então se essa ambulância sai para fazer um atendimento de uma chamada que é trote em uma cidade vizinha, aquela região fica totalmente descoberta. Se houver uma ligação que é realmente urgência e emergência, até a equipe chegar no local, descobrir que é trote e retornar, aquela pessoa que precisa do atendimento está correndo risco de vida”, disse a coordenadora do Núcleo de Educação Permanente (NEP), Camila Pequi.

Segundo dados do Consórcio Público Intermunicipal de Saúde da Rede de Urgência e Emergência da Macrorregião do Triângulo Norte (Cistri), o Samu já recebeu 128.724 ligações desde que começaram os atendimentos, em junho de 2018, até o fim da manhã da última segunda (5). Dessas, 4.767 eram trotes, o que representou 3,7% dos chamados.

Para evitar esse tipo de chamada, o Cistri tem realizado ações de conscientização junto à comunidade. Equipes tem visitado estabelecimentos comerciais e educacionais mostrando que o trabalho do Samu é sério e as chamadas devem ser feitas por motivos reais.

“Estamos fazendo trabalhos em escolas, empresas, estabelecimentos de saúde para esclarecer que um trote é uma vida que se perde. Uma conscientização que um trote, não só 192, mas Corpo de Bombeiros e Polícia Militar, acarreta num dano muito grande. Não é simplesmente uma ambulância que desloca, é dinheiro público que está sendo gasto, é uma vida que pode se perder devido a isso. A gente pede um pouco mais de consciência da população, pois o 192 não é um número de brincar, mas de salvar vidas”, explicou Camila.

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