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01/08/2019 às 07h51min - Atualizada em 01/08/2019 às 07h51min

Espetáculo "O Mistério de Irma Vap" é apresentado em Uberlândia

Peça dirigida por Jorge Farjalla e estrelada por Luís Miranda e Mateus Solano terá três sessões no Teatro Municipal

ADREANA OLIVEIRA
Mateus Solano e Luís Miranda em ação | Foto: Priscila Prade/Divulgação

O diretor Jorge Farjalla estava em cartaz com seu “Vou deixar de ser feliz por medo de ficar triste?” em 2018. Em uma das sessões estavam os produtores executivos Priscila Prade e Marco Griesi, que viram no trabalho de Farjalla o que precisavam para um novo projeto, a remontagem de “O Mistério de Irma Vap”, clássico do escritor americano Charles Ludlam (1943-1987).

Egresso na Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e nascido em Catalão (GO), Farjalla ouviu a proposta e comentou com Priscila e Griesi que não seria somente uma remontagem. A sua versão permitiria tirar a história do cenário realista em que costuma ser encenada. “A primeira coisa que fiz foi levar a peça para outro lugar: um Trem Fantasma”.

“Mateus Solando e Luís Miranda seriam os protagonistas perfeitos. Eu não conhecia nenhum deles pessoalmente, mas conhecia bem seus trabalhos”, contou Farjalla, em entrevista ao Diário de Uberlândia às vésperas da viagem para a cidade onde o espetáculo será encenado sexta (2), sábado (3) e domingo (4).

Por meio da produtora de elenco Marcela Altberg ele entrou em contato com Miranda e Solano. “Eu não conhecia o Farjalla e ouvi elogios sobre a forma como ele se entrega aos seus trabalhos, como é amoroso e consciente do que quer fazer”, disse Miranda ao Diário.

Também em entrevista ao Diário, Solano afirmou que a princípio recusou o convite. “Eu não via sentido em montar ‘Irma vap’ no país em que estamos vivendo, mas o Farjalla me garantiu que de alguma forma esse momento seria colocado no contexto do espetáculo”, explicou.

“Eu coloco a política de forma crítica, sem julgar, mas muita gente encara como se eu estivesse deturpando algo. O Mateus e o Luís também se saneiam em cena e não podemos esquecer que essa peça é um besteirol rasgado apesar de toda sua qualidade artística, requinte e sofisticação”, disse Farjalla, que completou que nas temporadas do Rio de Janeiro e São Paulo foram mais de 40 mil espectadores.

“O Mistério de Irma Vap” teve sua primeira montagem brasileira em 1986 dirigida pela saudosa atriz Marília Pêra com atuação de Ney Latorraca e Marco Nanini. A produção ficou 11 anos em cartaz e está no livro “Guinness Book”. Segundo Farjalla, a peça ficou marcada na história do teatro por uma espécie de gincana de troca de figurinos por Nanini e Latorraca. “Agucei mais essa troca de roupas, quis levá-la para diante dos olhos do público, isso tem muito da minha assinatura. E na minha ‘loucura’ ainda inseri outros quatro atores na produção que serão os músicos da banda Freak Show e o público os verá nessa movimentação da coxia”, disse o diretor, que escalou Fagundes Emanuel, Greco Trevisan, Kauan Scaldelai e Thomas Marcondes.

Para Farjalla, o mais importante nesta montagem é trabalhar o ator. “A obra é uma grande ode, uma homenagem ao fazer teatral”.

O MISTÉRIO EM UBERLÂNDIA
A versão original de “O Mistério de Irma Vap” se passa em um lugar remoto da Inglaterra e conta a história de Lady Enid (Solano), a nova esposa do excêntrico Lord Edgar (Miranda). Ela tem que se adaptar a viver em uma mansão mal-assombrada pelo fantasma da primeira esposa do marido, Irma Vap – lugar onde o filho do casal foi morto por um lobisomem. Na casa, há uma governanta, Jane (Miranda), que assume a posição de rival da recém-chegada. Para retomar o amor de seu marido, Lady Enid come o pão que o diabo amassou e pratica peripécias divertidas.

O texto foi montado pela primeira vez em 1984 em um pequeno teatro em Greenwich Village, em Nova York, pela Ridiculous Theatrical Company, do próprio Ludlam. Ele fez uma paródia dos clássicos e inspirou-se em um gênero da Inglaterra Vitoriana chamado “penny dreadful” (que pode ser traduzido como terror a tostão) para criar um novo tipo de comédias, o melodrama vitoriano. A nova montagem de Farjalla, traz a história para um trem fantasma.

Nas temporadas do Rio de Janeiro e São Paulo foram ingressos esgotados para todas as sessões e na semana passada a peça foi indicada a três Prêmio Shell: Melhor Ator (Luis Miranda), Figurino (Karen Brusttolin) e Iluminação (Cesar Pivetti). “Esse teatro exagerado, escrachado e sem sentido ganhou também um tom de Brechtiano, um poder de fazer denúncia que inseri e isso gerou essa uma explosão de curiosidade sobre o espetáculo”, conta o diretor.

Por sua ligação com Uberlândia, Farjalla se esforçou para que a cidade fosse a primeira a receber a turnê do espetáculo. “É um acontecimento na área do teatro em 2019 e trazê-la para a cidade onde me formei, próxima da minha cidade natal é uma conquista e conversei sobre isso com o elenco. Recebemos uma avalanche de convites. É preciso enaltecer o trabalho da produção local por meio do Uberlândia na Rota do Teatro na pessoa do Carlos Guimarães Coelho, o trabalho que ele faz não é fácil”, disse Farjalla, que com “Dorotéia” (2016) também fez essa dobradinha com Guimarães.

Os dois protagonistas também já se apresentaram por aqui, Mateus Solano com “Selfie” e Luís Miranda em “Sete Conto” e no projeto “Terças Insanas”.

A LEVEZA POLITIZADA
Solano e Miranda interpretam os vários personagens, entre humanos e assombrações. Segundo Miranda, toda vez que se faz uma remontagem corre-se o risco das comparações, mas isso não acontece na versão de Farjalla de “O Mistério de Irma Vap”. “Eu faço o personagem que foi do Latorraca e percebo que essa montagem conseguiu atravessar essa barreira da comparação e a peça se tornou importante para classe teatral. É extremamente politizado, inteligente e incomoda e ao mesmo tempo entretem. Estamos muito felizes com o resultado”, comentou.

Para ele, o Brasil caiu em uma raiva individual às classes inferiores promovida por ódio de gente incomodada por ver a revolução que são capazes de fazer tendo acesso aos meios não só de cultura, de arte e desenvolvimento. “Isso incomodou a classe alta e a arte renasce para contestar mais uma vez o autoritarismo e essa coisa vergonhosa que o país se transformou”, disse ele, que valoriza o fato de haver um protagonista negro e um branco em cena.

Para Solano, a direção de Farjalla muda toda a forma de que texto normalmente é visto. “As outras montagens são muito parecidas, se passam no cenário realista e Farjalla a tirou desse lugar e levou para um Trem Fantasma, só isso já destrói de início qualquer identificação com outra montagem. Essa destruição contínua da forma da encenação é contada e ao expor as trocas de roupa faz uma necessária homenagem ao fazer teatral, à magia que acontece dentro da sala do teatro quando a gente senta e finge que acredita em algo por 140 minutos”, adiantou.

Ele continua. “Antes de mais nada o público deve ir para rir de um besteirol, de uma comédia rasgada. Os artistas têm uma opinião e comumente está sempre na exposição coisas ruins para serem melhoradas...e que são pioradas no acaso. A intenção não é que reflitam sobre o que estamos passando, pelo contrário, é pra esquecer um pouco essa realidade”, disse Solano.

Os atores, apesar de terem agendas apertadas por conciliar teatro, cinema e televisão, afirmam que o período aproximado de cinco meses para preparação e ensaios foi essencial para o espetáculo ser o que é. “Nos divertimos muito nesse processo de ressignificar essa peça, foi um processo muito rico”, finalizou Solano.

SERVIÇO

O QUE: espetáculo “O mistério de Irma Vap”
QUANDO: sexta (2) e sábado (3), às 20h30, e domingo (4), às 19h
LOCAL: Teatro Municipal de Uberlândia
INGRESSOS: R$ 120 (inteira) e R$ 60 (meia entrada) à venda na Lynx ÓPtica (Av. Getúlio Vargas, 1655, Tabajaras), nas lojas Provanza do Center Shopping e Uberlândia Shopping, no Megabilheteria (com taxa de conveniência) e a partir de amanhã na bilheteria do teatro
CLASSIFICAÇÃO: 12 ANOS
INFORMAÇÃOES: 3235-1568
 
FICHA TÉCNICA
Texto: Charles Ludlam
Idealização: Andrea Francez
Direção, encenação e dramaturgia: Jorge Farjalla
Elenco: Luis Miranda, Mateus Solano, Fagundes Emanuel, Greco Trevisan, Kauan Scaldelai e Thomas Marcondes
Tradução: Simone Zucato
Assistente de direção: Raphaela Tafuri
Direção de Produção: Priscila Prade e Marco Griesi
Produção executiva: Daniella Griesi e Fernando Trauer
Direção Musical: Gilson Fukushima
Cenografia: Marco Lima
Iluminação: Cesar Pivetti
Figurinos: Karen Brusttolin. Fotografia: Priscila Prade
Comunicação Visual: Kelson Spalato e Murilo Lima
Redes Sociais: Tiago Cunha e Felipe Gonçalves
Mídia: Caio de Jesus
Assessoria Jurídica: Francez e Alonso Advogados
Produção de Elenco: Marcela Altberg
Realização: BricaBraque e TeTo Cultura
Produção local: Uberlândia na Rota do Teatro


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