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28/07/2019 às 10h40min - Atualizada em 28/07/2019 às 10h40min

Uberlândia demonstra aumento de cirurgias plásticas no inverno

Segundo o cirurgião Pascoal Lorecchio, o frio não gera dor nos procedimentos estéticos

GIOVANNA TEDESCHI
Uma batalha com o corpo. Essa é a justificativa da estudante L.R.R, de 19 anos, para fazer uma lipoaspiração. Ela afirma que, desde muito nova, tinha problemas com o peso e que já fez muitas dietas e atividades físicas, mas ainda não estava satisfeita com a imagem que via no espelho. “Tinha alguns locais onde a gordura não sairia apenas com exercícios ou dieta. A cirurgia plástica seria perfeita para isso”, explica.

De acordo com dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS), divulgados em novembro de 2018, o Brasil é o segundo país que mais realiza procedimentos estéticos, perdendo apenas para os Estados Unidos. São 10,4% do total mundial de cirurgias.

A época do ano também tem muita relação com a quantidade de operações realizadas. Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBPC), no inverno o número de procedimentos aumenta em até 50%. O frio favorece o pós-operatório, já que há menos inchaço e retenção de líquido e é mais difícil que o paciente tome sol, o que diminui a chance de escurecer cicatrizes e gerar manchas na pele.

“O número de cirurgias plásticas aumenta no frio primeiro porque a recuperação é muito mais agradável, mais tranquila. Normalmente a paciente que faz cirurgia tem que usar um sutiã próprio, uma cinta elástica e isso no calor incomoda mais. Além disso, é época de férias escolares”, explica o cirurgião plástico Pascoal Lorecchio, de 62 anos, que trabalha na área há 40. Formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), ele diz já ter realizado cerca de 6 a 7 mil cirurgias.

Quando se pensa em frio, há também a questão de dor: as temperaturas mais baixas podem deixar o corpo mais sensível e prejudicar a circulação de sangue no corpo. Apesar disso, Lorecchio afirma que o frio não costuma gerar dor em procedimentos estéticos. “É uma cirurgia que a gente chama de superfície. Nós não entramos dentro de uma cavidade, dentro do tórax, dentro do abdômen, nós operamos pele e tecido subcutâneo. É uma cirurgia que não tende a doer, ou, quando dói, é bem resolvida com analgésicos comuns”, diz. Sobre outras operações, não necessariamente estéticas, a estação do ano não costuma fazer tanta diferença. Os benefícios se relacionam à superfície externa corporal, que vai ser “machucada” com a plástica.
 
EXPERIÊNCIAS
Foi em 3 de julho de 2019 que
L.R.R passou pela operação que pesquisou durante meses. Moradora de Londres, na Inglaterra, ela decidiu fazer a cirurgia em Uberlândia por se sentir mais segura no lugar onde nasceu e ainda tem família. “Desde fevereiro eu já comecei a planejar, a pesquisar sobre o assunto. Eu queria fazer uma coisa bem feita, então eu permiti um tempo maior para me organizar”.

Para escolher o médico responsável por sua cirurgia, a jovem chegou a fazer pesquisas no Google, mas não conseguiu a certeza que queria. Foi entrando no site da SBCP que encontrou um cirurgião em que sentiu confiança. “Aí eu pesquisei o website e fui em todas as redes sociais dele. Então eu pesquisei muito sobre a cirurgia em si, mas também sobre o profissional que eu escolhi”, afirma.

Em junho,
L.R.R chegou ao Brasil e já se encaminhou para o consultório do médico, onde realizou a primeira consulta, que já estava marcada desde abril. Três semanas depois a cirurgia ocorreu. “O fato de fazer a cirurgia plástica no inverno na verdade não foi proposital, foi coincidência porque é a época que eu tenho férias mais longas da faculdade, então é o tempo que eu poderia ficar seis semanas no Brasil. Mas eu fico feliz que foi feita no inverno porque minha recuperação foi bem melhor”, relata.

O cirurgião escolhido pela estudante foi Francisco Naves, de 38 anos, também formado pela UFU e com 10 anos de experiência na área. “Eu tenho uma veia muito artística. Meu pai é artista plástico, eu fui criado com artistas. E eu percebi na cirurgia plástica que era a única especialidade em que havia uma confluência da arte com a medicina”, responde Naves, quando perguntado sobre a escolha da profissão. Os procedimentos mais feitos pelo médico são a lipoaspiração e o implante de próteses de mama.
 
CULTURA
Cirurgias plásticas costumavam ser um tabu na sociedade. A realização de um procedimento geralmente era feita em segredo e, quando revelada, podia gerar sentimentos de futilidade. De acordo com a historiadora e professora universitária Aída Cruz, a influência principal para a quebra deste tabu é a divulgação.

“No mesmo momento em que temos a estética sendo valorizada e cada vez mais explorada por cirurgias ou procedimentos invasivos, nós temos também uma releitura do corpo, que é o movimento de buscar o natural. A evolução da medicina contribuiu demais para se entender o corpo de uma outra maneira”, explica Cruz. Procedimentos que antigamente eram extremamente difíceis de se realizar, hoje podem demorar minutos em um consultório, por exemplo.

O médico Francisco Naves tem uma visão parecida, principalmente em relação ao aumento do público de procedimentos estéticos. “Antigamente era muito caro, muito elitizado. Hoje, o aumento do número de profissionais, as técnicas mais modernas, isso tudo barateou a cirurgia. Então hoje não importa a classe do paciente. Ele tem se programado, ele buscado realizar o sonho de operar, de resgatar a autoestima, de aumentar o amor próprio”, diz.

“Não tem mais aquela coisa de a cirurgia ser um tabu, de que quem faz cirurgia plástica são pessoas que não têm o que fazer. Isso é uma bobagem”, reforça o cirurgião Pascoal Lorecchio. “Antigamente, talvez por falta de informação, a pessoa convivia com aquela dificuldade ou deformidade. Hoje ela tem acesso e isso proporciona que ela volte a conviver socialmente sem problema, e volte a ter uma vida normal”, completa.

Cirurgião acredita que um procedimento estético costuma gerar uma reinserção social | Foto: Arquivo Pessoal 

A realização de uma cirurgia plástica pode ocorrer não só por motivos estéticos, mas reparadores, em caso de acidentes ou deformidades, por exemplo. De acordo com Lorecchio, um procedimento estético costuma gerar uma reinserção social, fazendo com que os pacientes frequentem locais que não se iam antes por falta de autoestima.

A internet foi uma das responsáveis pela divulgação em massa deste tipo de conteúdo. As Kardashians, socialites americanas conhecidas por um reality show que está no ar desde 2007, são exemplo: as integrantes da família já realizaram diversos procedimentos estéticos que são divulgados com frequência nas redes sociais. Essa exposição pode gerar, inclusive, a criação de um padrão corporal que só é alcançado por meio de cirurgias.

“Isso é uma influência cultural. Na medida em que as blogueiras, as artistas, todos os influencers fazem a divulgação desses procedimentos, necessariamente as pessoas que tem desejo ou insatisfação com alguma parte do seu corpo, se veem também possibilitadas a construir isso”, diz Aída Cruz. Apesar disso, a professora diz acreditar que a quebra do tabu ocorreria mesmo sem a internet: ela apenas fez com que a divulgação de conteúdo acontecesse de forma mais rápida.

Lorecchio recomenda que quem tem interesse em fazer uma cirurgia plástica não se baseie apenas em pesquisas na internet, mas busque informações diretamente com um médico. “É importante que se procure um cirurgião capacitado, indicado por alguém da família que tenha feito, que possa dar uma referência sobre isso. Procure esse profissional e busque tirar com ele todas as dúvidas e esclarecer tudo da melhor maneira”, aconselha.
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