Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
21/07/2019 às 08h00min - Atualizada em 21/07/2019 às 08h00min

Projeto reabilita animais silvestres para soltura

Em Minas Gerais, são 51 áreas cadastradas no IEF para retorno dos animais ao habitat natural

AGÊNCIA MINAS
Mesmo após retorno à natureza, animais são monitorados por meio de GPS | Foto: Divulgação/Semad

Animais silvestres vítimas de tráfico, atropelamento, cativeiro irregular, ferimentos por linhas de cerol, entre outros tipos de crimes ambientais, têm recebido acolhimento, tratamento e destinação adequados em Minas Gerais. Por meio do Instituto Estadual de Florestas (IEF), eles são recebidos nos Centros de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), onde recebem assistência até estarem saudáveis e preparados para envio às áreas de soltura do Projeto Asas (Áreas de Soltura de Animais Silvestres).

Em todo o estado, são 51 áreas cadastradas junto ao IEF e aptas para soltura. Minas Gerais conta atualmente com três Cetas, localizados em Juiz de Fora, na Zona da Mata; Montes Claros, no Norte de Minas, e, em Belo Horizonte, onde a unidade é compartilhada com o Ibama. Somente neste ano, 1.800 animais já foram recebidos nos Cetas e 970 foram soltos.

Durante o processo de acolhimento nos Cetas, os animais silvestres recebem todos os cuidados necessários e são constantemente avaliados para estarem aptos ao encaminhamento para o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras), uma outra unidade do IEF compartilhada com o Ibama.

“Lá, eles são treinados para a soltura em um ambiente semelhante ao seu habitat natural, sendo estimulados a terem comportamentos naturais no meio ambiente: busca por alimentos, relação com outros animais, condicionamento físico e principalmente aversão aos seres humanos”, explica o analista ambiental do IEF, Thiago Stehling.

Após longo período de reabilitação três tamanduás-bandeira retornaram à natureza, em junho, no Triângulo Mineiro, e, agora, chegou a vez do tamanduá-mirim, de 2 anos e 6 meses, batizado de Zeca pela equipe do Cetas de Belo Horizonte, viver em seu habitat natural, na região Central de Minas. Pronto para sua soltura, ele já poderá viver uma nova história. Os quatro mamíferos são órfãos, vítimas do atropelamento de suas mães. Sob os cuidados de uma equipe especializada e multidisciplinar os animais silvestres recebem tratamento desde filhotes até a vida adulta.

Durante todo o trabalho de acolhimento e reabilitação dos animais silvestres, os analistas ambientais aproveitam para estudar sobre as espécies. As informações são essenciais para manejo e conservação em outras localidades.

De acordo com a diretora de proteção à fauna do IEF, Liliana Adriana Nappi Mateus, as ações têm propiciado a soltura de uma média de 55% do total de animais recebidos. Ela também explica que algumas espécies necessitam de tempo maior de reabilitação para a soltura, como é o caso dos tamanduás, que pode variar de 6 meses a 1 ano e meio.
 
O PROJETO ASAS 
Atualmente, os responsáveis pelo projeto têm como meta aumentar o número de propriedades rurais propícias à soltura de animais silvestres em Minas Gerais. O programa identifica terrenos que possuem estrutura adequada para receber os animais silvestres. Para isso, são realizados levantamento faunístico, caracterização e avaliação da propriedade. As áreas rurais são selecionadas a partir da manifestação voluntária de proprietários interessados em participar do projeto, por meio de cadastro.

O Asas é uma parceria entre o Instituto Estadual de Florestas (IEF), o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e as organizações não governamentais (ONGs) Waita Instituto de Pesquisa e Conservação e a Águas Vivas Socioambiental.

De acordo com a analista ambiental Érika Procópio, os parceiros cadastrados voluntariamente são fundamentais para o sucesso do Projeto Asas. “Eles fornecem, além da sua alimentação, um espaço adequado, como um viveiro, para que o animal possa passar um período de adaptação ao habitat natural”, explica.

A presidente do Waita, Fernanda Sá, explica que os voluntários da ONG atuam dentro do Cetas, no recebimento, acolhimento e cuidados dos animais, além de promoverem ações de educação ambiental, principalmente com pessoas que realizam a entrega voluntária de animais silvestres no Cetas de BH e no monitoramento das espécies que são soltas na natureza. “Por meio da Waita conseguimos dar maior visibilidade ao trabalho com os animais silvestres, além de executar projetos diversos, oferecendo mão de obra e dando apoio na logística”, explica.

Interessados em cadastrar suas propriedades e contribuir com a conservação da fauna, acesse o site www.ief.mg.gov.br.
 
ZECA

Monitoramento é constante
Mesmo depois do retorno à natureza, a equipe do Projeto Asas continua tendo informações sobre o Zeca, que já está sendo monitorado por meio de Sistema de Posicionamento Global (GPS), essencial para indicar sua localização, permitindo um melhor acompanhamento. Se a adaptação ao equipamento continuar dentro do esperado, a porta será aberta para que ele saia voluntariamente.

Além do GPS, a equipe do Asas também acompanha os animais silvestres que são soltos na natureza por meio de câmeras trap e visitas a campo durante um período que varia de 1 a 2 anos, dependendo da espécie.
 
Tamanduá-mirim
De hábitos noturnos, este mamífero adora comer cupins e formigas e andar nas alturas, nas copas das árvores. No Brasil, a espécie ocorre em todos os biomas: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa. O tamanduá-mirim chega a pesar até 7kg, na fase adulta, e tem o comprimento total entre 47 e 77cm. Seu período de gestação é de 130 a 190 dias. A espécie está ameaçada de extinção, principalmente por atropelamento, caça ilegal, ataques de cães e perda de habitat.

Atitudes simples podem contribuir para que as populações do tamanduá-mirim sobrevivam: atenção redobrada nas estradas de modo a evitar atropelamentos, não os caçar, manter cães domésticos distantes de áreas de conservação, não praticar o desmatamento ilegal, não realizar queimadas, além de estudar e conhecer melhor sobre seus hábitos para saber como ajudá-lo a sobreviver no seu habitat natural.
 
Entrega voluntária
O tráfico de animais silvestres possui graves consequências em todo o mundo. A retirada desses animais da natureza causa danos ambientais que comprometem as funções ecológicas exercidas por essas espécies no habitat natural. Além disso, soma-se ao trauma da captura, o fato de esses animais serem transportados de forma precária, sendo expostos a diversos tipos de maus tratos.
Quem tem um animal silvestre e não mais deseja ficar com ele, o recomendável é fazer a entrega voluntária. Neste caso, a pessoa não sofrerá penalidades legais. Basta procurar o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) ou a Polícia Militar do Meio Ambiente de sua região e fazer a entrega.

Denúncias a respeito de animais silvestres mantidos sob guarda irregular podem ser realizadas no número 155 do Governo de Minas ou no 181 da Polícia Militar. Não é necessário se identificar, mas é importante ter o máximo de informações sobre a situação. Pessoas que vendem e compram animais silvestres ilegalmente também devem ser denunciadas.


Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90