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14/07/2019 às 08h00min - Atualizada em 14/07/2019 às 08h00min

Uberlândia recebe show dos Originais do Samba

Diário traz uma entrevista exclusiva com Bigode, único remanescente da primeira formação do grupo

ADREANA OLIVEIRA
Foto: Maurício Antônio/Divulgação

Nada de formalidades. Bigode atende o telefone chamando a repórter de “querida”. Desculpa-se pelo atraso de poucos minutos para a entrevista programada para às 13h da última quinta-feira (11). “Estava tomando banho. Tá muito frio aí? Aqui tá demais”, disse o músico, de sua casa em São Paulo, em entrevista exclusiva ao Diário de Uberlândia. Na próxima quinta-feira, no Teatro Municipal de Uberlândia, ele traz o melhor d´Os Originais do Samba no show “A história ontem, hoje e sempre”.

No início dos anos 1960, no Rio de Janeiro, Bigode (pandeiro e voz), Bidi (cuíca e voz), Chiquinho (ganzá e voz), Lelei (tamborim e voz), Mussum (reco-reco e voz) e Rubão (surdo e voz) começavam uma trajetória ímpar no samba brasileiro. “Sou o único remanescente da primeira formação que carrego no DNA os Originais do Samba e faço isso com muito prazer. Hoje, em turnê com esses músicos maravilhosos que me acompanham, mantenho vivo esse legado cheio de alegria”, comentou o músico que esbanja saúde aos 77 anos de idade.

Ele é acompanhado na linha de frente por Juninho (vocal), Marcos Scooby (cavaco) e Rogério Santos (violão), todos na faixa dos trinta e poucos anos. “Mas são músicos dedicados, que estudaram e têm um grande respeito pelo que representa os Originais do Samba”, disse Bigode. Outros cinco músicos em instrumentos de corda e percussão complementam o espetáculo. São eles: Hugo, Bolinha, Barba, Daniel, Rafael e Rafael.

“É um show muito bonito, muito alegre, não é do tipo que você vai só para olhar...você dança, você canta. E a gente vai em fino trato, todo mundo de sapato de verniz, terno bem cortado, camisa de seda, é pra estar no palco em alto estilo, à altura do que nossa história merece”.

Bigode comemora as casas de shows lotadas por onde passam, seja de pequeno, médio ou grande porte. Ele contou que no tradicional Bar Brahma, em São Paulo, lotaram todas as apresentações. “O que era para ser três apresentações virou uma temporada de seis anos e meio. E não é qualquer artista que põe 200 pessoas lá dentro”.

Com ou sem agenda, a rotina de ensaios é constante e o profissionalismo da as cartas. “Ensaiamos sempre, ninguém se atrasa ou falta. Antes do show de Uberlândia vamos para o Rio de Janeiro fazer o show da CBF que vai contar com a participação de grandes craques do futebol brasileiro, será uma semana muito boa”.

Sobre a boa forma, Bigode comenta que durante muitos anos a receita era “namorar e beijar muito na boca”, mas acredita que o fato de não usar drogas ou consumir álcool ajudam o corpo a acompanhar a mente. “Não tenho nada contra quem faz essas escolhas, nem critico. Cada um sabe de si, mas nunca enveredei por esses caminhos. Hoje já não tem mais os bailes de quinta a domingo – onde sempre dancei muito bem e conquistei muitas mulheres, afinal, estava por cima da carne seca”, brincou.

Hoje, ele afirma que boas noites de sono, uma dieta equilibrada e uma boa vida regada à música são suficientes para manter o coração em sintonia com seu tempo.

LEGADO
“Sou o único remanescente vivo do Originais do Samba e estou em um momento muito feliz. Me respeito e respeito a nossa história. Posso dizer que tudo que vem do samba vem depois de mim. Estou em um momento muito feliz”, reflete Bigode.

Ele reconhece a saudade dos companheiros que já se foram e conta que nem sempre tudo foi uma maravilha. “Houve um tempo em que fiquei um pouco triste. Tive problemas com ex-integrantes que sentiram, sei lá, ciúme, inveja, não faziam nada pelo grupo e se ressentiam que eu fizesse”.

Mussum, que deixou o grupo para se juntar aos Trapalhões, é um dos que mais deixou boas lembranças.

 

“Ele era um cara extraordinário, se foi cedo demais. Me lembro de nossa mudança do Rio de Janeiro para São Paulo. Um frio danado, todo mundo de sobretudo e o Mussum saía só de camiseta conhecendo pessoas e trazendo histórias pra gente. Era cada coisa que ele contava... a gente ainda perguntava: ‘mas isso é verdade mesmo?’, e ele respondia com aquele sorriso largo: ‘Claro que é, quero morrer pretinho se não for’”, recorda ele sobre o saudoso músico e humorista que ganhou o apelido Mussum do filho mais ilustre de Uberlândia, Grande Otelo.

 
ORIGENS
Formado por ritmistas de diferentes Escolas de Samba do Rio de Janeiro, Os Originais do Samba surgiram como um quinteto. Chegou a teatros e casas de show como o palco do Copacabana Palace, onde se apresentaram com o espetáculo "O teu cabelo não nega". Mudaram-se para São Paulo após voltarem de uma turnê pelo México. Em 1968, acompanharam Elis Regina na música vencedora da 1ª Bienal do Samba, “Lapinha”, de Baden Powell e P.C. Pinheiro. No ano seguinte, gravaram a música "Cadê Teresa", de Jorge Ben, um dos principais sucessos do grupo. Participaram de festivais e ganharam discos de ouro consolidando a carreira nos anos 1970.

Em diferentes formações, tocaram com grandes nomes da música brasileira, como Alex Luiz, Armando Geraldo, Jair Rodrigues e Vinicius de Moraes. Além do giro pelo México, se apresentaram nos Estados Unidos e Europa e foi o primeiro conjunto de samba a se apresentar no Olympia de Paris. “Sou muito grato por tudo que me foi proporcionado pela música e é para isso que vivo”, disse Bigode, único integrante vivo da formação inicial.
 
NAS ONDAS DO RÁDIO
Bigode afirma que, por conta de um glaucoma que atinge os dois olhos, ele já não enxerga tão bem, por tanto não lê tanto quanto antes ou assiste tanta TV. Por isso, o rádio tem sido seu companheiro constante e ele ouve o que tem surgido de mais novo no samba brasileiro. “Tem muita gente boa por aí desde a velha guarda como Leci Brandão, Demônios da Garoa, Fundo de Quintal, até os mais novos como Diogo Nogueira, Turma do Pagode, Maria Rita, eles não deixam o samba morrer. Eu digo sempre que o samba agoniza, mas não morre e nós seguramos essa bandeira”.
Em julho de 2017, em meio às comemorações dos 50 anos do grupo, um catálogo com 12 álbuns d´Os Originais do Samba chegou às plataformas digitais. São discos lançados entre 1969 e 1983, que pertencem à Sony Music. No mesmo ano lançaram o disco “Ontem, hoje e sempre” e seguem em turnê pelo Brasil. No repertório, samba e samba rock para contagiar uma audiência sedenta por música de qualidade.

 

“Minha beleza encontro no samba que faço
Minha tristeza se torna um alegre cantar
É que carrego o samba bem dentro do peito
Sem a cadência do samba não posso ficar”

Trecho de “Esperanças perdidas” do álbum “O samba é a corda...Os Originais a caçamba” (1972)

 
SERVIÇO
O QUE: show “A história ontem, hoje e sempre”
QUEM: Os Originais de Samba
QUANDO: Quinta-feira (18), às 21h
LOCAL: Teatro Municipal de Uberlândia
INGRESSOS: R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia-entrada) à venda na Lynx Óptica (Av. Getúlio Vargas, 1.655, Tabajaras) e no site megabilheteria.com (com taxa de conveniência)
CLASSIFICAÇÃO: livre
INFORMAÇÕES: 99866-1727


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