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06/05/2019 às 09h00min - Atualizada em 06/05/2019 às 09h00min

Cursos e estudantes de Uberlândia relatam receios após promessas de restringir concursos

Sala de aula em escola preparatória situada na zona leste de Uberlândia

VINÍCIUS LEMOS
Sala de aula em escola preparatória situada na zona leste de Uberlândia | Foto: Vinícius Lemos
Sem a previsão para realização de concursos públicos no âmbito federal e estadual no próximo ano, e, no caso de Minas Gerais, sem expectativa até para convocação de candidatos aprovados em concursos, como o da Polícia Militar, concurseiros e instituições de preparação para provas relatam receio com o futuro próximo. Para os cursos preparatórios, o momento é de pensar em diversificação de negócios, de acalmar alunos e de focar nos próximos editais já previstos, até porque, mesmo diante das decisões governamentais, existe a expectativa de abertura de quase 40 mil vagas em todo o Brasil ainda neste ano.

Ainda durante a campanha para o Governo de Minas Gerais, Romeu Zema disse que não pretendia fazer concursos públicos para área da segurança pública em seu mandato, posição que foi reforçada em fevereiro em uma publicação em seu perfil oficial em uma rede social.


 
“Tenho recebido questionamentos a respeito dos concursos, principalmente sobre o concurso 6/2018, de 29 de junho de 2018, da Polícia Militar. Quero esclarecer que a segurança é uma das prioridades do meu governo e entendo a urgência que temos por um contingente maior de policiais para a proteção dos mineiros. Contudo, assumimos um estado falido, sem condições de honrar compromissos importantes como salários e repasses. Seria uma irresponsabilidade nomear novos profissionais enquanto essa situação não for resolvida”, afirmou.
 

Zema ainda ressaltou que o concurso para soldados na Região Metropolitana de Belo Horizonte e no interior do Estado não teve o resultado divulgado e, portanto, não foi homologado. Dessa forma, as datas de início dos cursos exigidos foram adiadas por um ano, sem o cancelamento.

Já no âmbito federal, em abril, o presidente Jair Bolsonaro finalizava o projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) sem a previsão de concursos públicos no ano de 2020. O texto ainda deve ser enviado ao Congresso para análise. A intenção inicial é de reduzir o Estado, e, dessa forma, a LDO não só exclui concursos para órgãos da administração federal no próximo ano, como não prevê reajuste para servidores. A exceção possível são os militares.

O alinhamento entre o Estado e a União foi criticada pela professora de uma escola preparatória para concursos de Uberlândia, Alinne Grazielle Neves Costa. “O governo Zema dialoga com o Governo Federal. Para o Estado, vai ser uma perda em decorrência desse discurso no que tange a cargos públicos. Como eles querem enxugar esse setor [o público], isso vai ser muito ruim, e [vai gerar] uma perda para escolas que trabalham com concursos públicos. Os atuais concursos serão feitos, mas a posse vai ser dificultada, e depois pode haver a diminuição de abertura de novos editais”, afirmou.

Por sua vez, James Hoffmann, coordenador pedagógico de outra instituição, vê com ceticismo decisões radicais. Ele lembrou que declarações do tipo são recorrentes, com os governos em busca de medidas para frear ou reduzir o número de concursos. “Mas o histórico mostra que na prática não é bem assim que acontece.

Em 2016, por exemplo, o Governo Federal anunciou a suspensão dos concursos para 2017 e na ocasião foram publicados 176 editais com mais de 35 mil vagas. Já em 2018, mais de 78 mil vagas foram liberadas e distribuídas em concursos para órgãos das esferas Federal, Estadual e Municipal, com a liberação até mesmo de editais de grande relevância como Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Advocacia Geral da União”, disse.

Os dados apresentados por Hoffmann são reforçados pela previsão, feita já no mês de maio, de que 190 concursos seriam realizados em todo o País. O que diverge com Alinne Costa, que está pessimista com relação a novos editais no próximo ano, por exemplo.


Autônoma Delza Maria Parreiras estuda para concurso do TJMG | Foto: Caroline Aleixo

PREOCUPAÇÃO
O que é convergente entre as escolas preparatórias é preocupação que a possível restrição a concursos públicos traz entre os alunos, especialmente entre aqueles que começaram há pouco suas tentativas de se tronarem servidores públicos.

“Esse tipo de declaração afeta as escolas de modo geral, mas os principais prejudicados são os próprios alunos, já que por falta de informações, alguns deixam para iniciar sua preparação somente após a publicação dos editais, diminuindo assim as chances de se tornarem competitivos até a realização das provas e, consequentemente, as chances de conquistarem a aprovação”, afirmou James Hoffmann.

Trabalhadora autônoma, recentemente Delza Maria Parreiras mudou a rotina para se dedicar à preparação para o concurso do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), cuja expectativa de publicação de edital é no segundo semestre de 2019. Ele estuda até sete horas por dia. Ela teme que o esforço de estudos em casa e em uma escola preparatória, cuja rotina tem que ser dividida com o trabalho, seja perdido de alguma forma, caso haja restrição de editais no futuro.


 
“Preocupa porque é uma coisa que traz uma insegurança para a gente que busca estabilidade e um trabalho efetivo. Causa impacto em nós. A gente sabe que, muitas vezes, não se passa logo no primeiro concurso”, disse Delza Parreiras. Este é o segundo concurso que ela pretende prestar.


A estudante Mara Elizabeth Dias do Nascimento também busca uma vaga no TJMG e para isso deixou de lado a profissão de dentista, para a qual se formou no final de 2017. Esse será o terceiro concurso que vai prestar, depois de tentar duas vezes vagas administrativas na Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

“É uma estabilidade e sonho para nós. Muitos abandonam suas profissões para dedicar mais tempo aos estudos, e conviver com essa incerteza é bem complicado. Minha profissão exige que eu seja autônoma, essa estabilidade [como servidora pública efetiva] seria superimportante”, afirmou. Ela teme que não haja oportunidades do tipo futuramente.
 
Escolas diversificam cursos para sobreviver
Ainda que em parte das escolas preparatórias para concursos haja a incerteza de que haverá, de fato, restrição de novos editais nas esferas estadual ou federal, o que se vê, em Uberlândia, é a ampliação de cursos oferecidos por essas instituições, que ramificam suas aulas para outros tipos de provas e testes.

“Abrimos turmas para pré-vestibular e pré-Enem, por exemplo. Há escolas focadas apenas em concursos que acabaram fechando, assim expandimos os cursos”, disse a professora Alinne Neves Costa.

Outras possibilidades apontadas pelas escolas são a abertura de turmas regulares que buscam preparar alunos para concursos antes mesmo das publicações de editais e a abertura de turmas de Ensino Médio regular, além de cursos com foco em provas como a da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e outras ligadas à Justiça.

“Exames da Ordem ocorrem três vezes ao ano. Temos preparatório para a Carreira Diplomática, e o Instituto Rio Branco realiza processo seletivo todo ano. Nossos cursos preparatórios são mais voltados para a Carreira Jurídica, que pode diminuir, mas nunca acaba. Todos os concurseiros sabem que, para a carreira jurídica, necessitam de, pelo menos, três anos de preparação”, afirmou a gestora de um curso preparatório em Uberlândia, Simone Amaral.

A escola dela ainda investe em turmas de preparação para residência médica, pós-graduação em áreas do Direito, gestão de negócios, projetos, finanças e MBA no Agronegócio.

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