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21/04/2019 às 08h00min - Atualizada em 21/04/2019 às 08h00min

Conheça as fortes raízes de Jack Will em uma trajetória que está apenas começando

Artista fala ao Diário de Uberlândia sobre a formação pessoal e artística

ADREANA OLIVEIRA
Jack Will (Adreana Oliveira)
William Nunes Borges é o nome que consta na certidão de nascimento expedida no ano de 1988, em Uberlândia. No Centro da cidade, em uma casa na rua Tenente Virmondes, Joana Cândida Nunes Borges e Vicente de Paulo Borges viram o primogênito dar seus primeiros passos... e suas primeiras batucadas, em baterias improvisadas com tamboretes, latas, panelas e o que mais aparecesse pela frente. Hoje, mais conhecido como Jack Will, o William conta ao Diário de Uberlândia uma história que pouca gente deve conhecer e da importância da família em sua formação pessoal e artística.

Seu nome de batismo não foi em homenagem a nenhum músico ou estrela pop da época, é homenagem a um amigo falecido do pai. Mas a música “causou” na vida do pequeno nos primeiros meses de vida. “Acho que vem desde a barriga da minha mãe. Ela conta que estava assistindo TV enquanto me amamentava. Em um programa musical ouvi o som de bateria e percussão, virei a cabeça para a TV e só voltei a mamar quando acabou”, recorda o músico que continua a morar com os pais, agora no bairro Planalto, junto também com a irmã, Letícia Nunes Borges, e o sobrinho de 11 anos, Paulo Henrique.

“Meu sobrinho me faz refletir muito sobre a vida e essa convivência com a minha família é uma alegria só. É também um conforto que me permite fazer todas as experimentações possíveis. Sou nascido, criado e exilado em Uberlândia, vou para todos os lados e tenho muito orgulho ter a minha história escrita nessa cidade e pertencer à história dela”, disse o músico.

Até os 14 anos a família morou no centro e por isso não tinha como as crianças brincarem muito na rua. “Eu também não tinha muitos amigos. Brincava muito nos fundos de casa onde eu imaginava que tinha um estúdio e estava gravando. Também desenhava palcos, instrumentos, essas coisas.

William afirma que sempre foi um bom aluno, recorda-se até do lugar preferido: sempre na terceira carteira da fila. “Eu tive que ser um bom aluno porque a minha mãe estava sempre presente. As professoras falavam que ela não precisava ir, mas ela insistia e também fez o meu cartão e da minha irmã na Biblioteca Municipal”, conta.

E não é por acaso que a dona Joana se preocupava tanto com a educação do filho. “Minha mãe foi adotada por uma família que não tratou muito bem dela, beirando ao trabalho escravo mesmo. Ela aprendeu a ler e a escrever praticamente sozinha. Lia escondida embaixo da cama e nunca desistiu. Não sei como ela consegue, pra mim, é uma santa! Ela passou por tanta coisa triste na vida e é uma pessoa maravilhosa, grata e feliz”.

PROFISSIONALIZAÇÃO

William só começou a estudar música aos 12 anos de idade. Os pais se revezaram por várias vezes na fila, chegavam a passar a noite em algumas ocasiões, um rendendo o outro, até conseguirem uma vaga para ele no Conservatório Estadual de Música Cora Pavan Capparelli, no ano 2000.

Ele começou a estudar bateria e teoria musical, prática de conjunto e teve três ou quatro professores que realmente merecem a alcunha de mestres, que para além da técnica, o inspiraram para a vida, como profissional da música. “Quando entrei pensei: ‘vou realizar meu sonho’”.

Aos 16 anos o jazz abriu outro mundo para William. Foi a escola da escuta. “Eu ouvia o ‘Jazz by Jazz’ com o Ronaldo Albenzi, aos domingos das 19h às 20h na rádio Universitária. Eu gravava e ouvia a fita a semana toda...como não tinha dinheiro para comprar muitas fitas eu gravava por cima e assim foi por muitos anos”.

Em 2007 ele ingressou no curso de Música na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), via Programa Alternativo de Ingresso ao Ensino Superior (Paies). “Eu sabia que queria fazer faculdade, então, que fosse algo próximo do que eu gostava, que era a música. Apesar de já ter ido no campus desde 2005, onde buscava algumas dicas, cai no curso meio que de paraquedas mesmo porque era música clássica e eu sempre flertei com a improvisação na música popular. Eu não sabia o que estava fazendo em termo de gênero e estilos. Eu fazia meus sons experimentando tudo que ouvia na música brasileira”, disse ele que sempre teve o apoio dos pais.

Até então ele considera que apenas “tocava bateria”. Ao ter contato com a percussão melódica e instrumentos como instrumentos como marimba, vibrafone, tímpano, leitura de partitura deram um upgrade para a percepção dele, que demorou 10 anos para concluir o curso por conta dos compromissos profissionais que surgiram durante o curso.

Já são 15 anos de música daquele que virou Jack Will ainda nos corredores do Conservatório. O professor Alex Mororó, um dos exemplos em que Jack se inspira, começou chama-lo de Jack porque o achava muito parecido com outro baterista, Jack DeJohnette, baterista de jazz norte-americano, pianista, arranjador e compositor com papel importante na difusão do jazz fusion.

“Eu nem sabia quem ele era, mas o nome acabou pegando. Aí para colocar algo meu abreviei o William”, contou sobre o surgimento do nome artístico. Nesta época, entrou na Big Band e banda Sinfônica, com o maestro Robson Carvalho e o repertório foi ficando mais vasto.

NA NOITE

Saúde, estudo e cuidado com o espírito

O primeiro lugar em que Jack Will tocou fora do Conservatório foi em um bar chamado Empório Minas, que ficava no bairro Santa Mônica. “Eu comecei a tocar com a Cláudia Lima e o Alexandre Wendt”, recorda. Uma de suas características é não se prender a nenhum formato, repertório ou estilo. Jack está sempre a postos para novos desafios. Já participou de gravações de cerca de 15 álbuns de estúdio. “Sempre ouvi de tudo, música orquestral, jazz, samba, bossa, forró pé-de-serra. Sempre fui aberto para a música e não quero me amarrar a ninguém. Não quero me fechar, quero viver de música, tocando e gravando nessa escola com todas essas pessoas”.

Jack recebeu seu primeiro cachê naquele espaço, o Empório Minas. “Foram R$ 90 depois após quatro horas de show, fiquei muito orgulhoso. Meus pais nunca tiveram condição de comprar instrumentos para mim. Eu entregava todos os cachês para a minha mãe. Ela foi o meu banco até conseguirmos juntar o suficiente para comprar a minha primeira bateria”, recorda Jack.

E se os pais não tinham condições financeiras para ajudar, eles ajudaram de uma forma ainda mais significativa. “Meu pais trabalhava no Dmae, furava buracos o dia todo e ainda ia me levar para os shows. E ficava esperando no carro. E nunca ficou chateado com isso, estava sempre muito feliz”, disse Jack.

O músico afirma que faz questão de postar em suas mídias sociais vez ou outra o que adquire para o seu trabalho. “Muita gente não entende que fazer música de qualidade é caro, gravar em estúdio requer equipamento caro. Não entende porquê preciso de um par de baquetas que custam R$ 70 e não um de R$ 10. Às vezes nos oferecem cachês que não condizem com a realidade e prefiro ficar em casa estudando que ganho mais e isso não é ser mercenário ou coisa do tipo, é o compromisso com a qualidade do que entrego”.

Jack é um cara da noite, sempre teve à sua disposição álcool e drogas. E sempre que oferecem ele diz: “mais tarde”, ou “outro dia”. “Ficou algo até meio sarcástico da minha parte. Eu cuido da minha saúde e do meu espírito. Eu gosto muito de estudar, de pesquisar, de estar mais tempo na música. Eu quero fazer mais e por isso preciso estar bem. É uma busca incessante. A música é sagrada. Me entristece ver pessoas que de repente se dizem cantores, músicos como brincadeira, nem se dão ao trabalho de estudar, saem queimando etapas”.

SENTIDOS

Jack Will afirma ter poucos amigos. Para ele, quando se convive com muitas pessoas as coisas tendem a ficar superficiais demais. Até na adolescência foram poucos com quem compartilhou sobre como se sentia, que queriam saber da família. “Estou sempre ligado ao som e é preciso saber escolher seu caminho dentro do que chamamos de show business”.

Em 2010 Jack fez sua primeira viagem internacional para Londres e Paris com a banda Porcas Borboletas e também por todo o Brasil na época de ouro do circuito de festivais Fora do Eixo e é grato a essas e outras viagens proporcionadas pelo seu trabalho. “Fui para a Alemanha, Áustria, Espanha e Portugal. Se eu fosse como turista não conseguiria juntar dinheiro para viajar, sou muito grato por minha arte me possibilitar isso”.
O palco não é para todos mas Jack é para todos os palcos. “Eu amo criar coisas, estou sempre propondo novos projetos pela cidade”. Seja a rua, a praça da Bicota, os campi da universidade ou em conceituadas casas de jazz, sua entrega é sempre total. Felizmente, o mercado parece perceber bem isso.

Recentemente, enquanto fazia um show na Alfaiataria, recebeu uma ligação de um músico conhecido, Tiago Martins, guitarrista de Araxá, que precisava de um baterista para acompanhar Ney Conceição em uma miniturnê. Jack teve um dia para se preparar. Na segunda-feira de manhã estava embarcando de ônibus para Campinas. Deu tudo certo. “Fico feliz que se lembrem de mim e principalmente confiem no meu trabalho. Eram músicas bastante complexas”.

E apesar desses 15 anos tendo a música como profissão, o entusiasmo de Jack é de um menino que está apenas começando...

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