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12/03/2019 às 18h02min - Atualizada em 12/03/2019 às 18h02min

Familiares de desaparecidos em Brumadinho protestam contra falta de respostas da Vale

FOLHAPRESS
Foto: Corpo de Bombeiros/Divulgação
 Folhas de papel com os nomes de mais de cem desaparecidos na tragédia de Brumadinho (MG) foram colocadas no muro do IML (Instituto Médico Legal) de Belo Horizonte na manhã desta terça-feira (12) durante um protesto organizado por familiares das vítimas.

O grupo gritava "Vale assassina" e pedia justiça. Após 47 dias do rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão, reclamam que precisam buscar informações por conta própria e questionam a demora para a produção dos laudos de identificação. 

Segundo a última atualização da Defesa Civil de Minas Gerais, a tragédia deixou 200 mortos e 108 desaparecidos até o momento. 
"Eu vou até o fim, não vou parar até que a Vale seja responsabilizada pelo crime que ela cometeu. Porque não aconteceu uma vez, foram duas", diz Jéssica Evelyn Soares, 28, irmã de Francis Erik Soares Silva, 31. 

Ele trabalhava em uma terceirizada da Vale e estava na mina apenas para terminar um serviço que havia ficado pendente do dia anterior. O primo Luis Paulo Caetano, 31, que acompanhava Francis, foi identificado no dia 28 de fevereiro. O pai dele, Wilson Francelino Caetano, ia todos os dias ao local da tragédia. 

Agora, parentes se revezam em viagens diárias ao Córrego do Feijão em busca de notícias de Francis. Segundo a família, a informação repassada a eles é que Luis Paulo havia sido localizado no dia 30 de janeiro, cinco dias após o rompimento. 

"Como fica aqui 30 dias e a gente indo até lá? Isso é brincar com o sentimento da gente. A gente não sabe se ele está debaixo da lama ou aqui no IML", afirma o pai de Francis, Francisco Adalberto, 54. 

Desde o início dos resgates no local da tragédia, o IML registrou 424 casos, o que inclui corpos completos e segmentos. Destes, 251 foram solucionados e ajudaram a identificar os 201 mortos. Outras 173 vítimas ainda estão em processo de identificação. 

Segundo o diretor do IML, José Roberto de Rezende Costa, o tempo para identificar vítimas tem sido mais rápido do que o previsto em protocolos internacionais, que costumam levar até quatro meses. 

As maiores dificuldades têm sido a qualidade do material a ser analisado e o grande número de amostras para comparação. Foram registradas cerca de 900 amostras de DNA no banco de dados. 

"Quando a gente tem uma amostra que é sabidamente de um determinado indivíduo, esse exame de DNA seria bem rápido, duraria em torno de cinco a 10 dias. No entanto, como temos um universo muito grande de segmentos, faz com que seja muito mais complexo, porque o universo de dados é muito grande", explica ele. 

Costa ressaltou ainda que a lama do local tem feito com que corpos desenvolvam um componente parecido ao do processo de mumificação. Em geral, os corpos que estão soterrados têm sido resgatados em estado de conservação melhor que o habitual, diz ele. 

Quando um corpo é identificado, depois de passar por processo de checagem e reconferência, assistentes sociais do IML entram em contato com a família, e só depois o nome é encaminhado para as listas atualizadas. 

No fim da tarde desta segunda-feira (11), a família de Daiana Caroline Silva Santos, 33, que trabalhava na Vale desde 2013, foi comunicada sobre a identificação do corpo. Daiana estava no primeiro dia de trabalho depois de cinco meses em licença-maternidade. 

Segundo o irmão dela, Antônio Rosário da Silva, 47, desde o último sábado a família respondeu a várias perguntas sobre as roupas que ela estaria usando, cor das meias e se ela teria algum pino de metal em um dos braços, o que os levou a acreditar que o corpo teria sido resgatado quase inteiro. 

Ao chegar no IML na manhã desta terça, porém, descobriram que a família teria apenas um pé para entrar. Os irmãos de Daiana decidiram então cancelar o velório que estava programado em Brumadinho para aguardar por mais respostas. 

"A família está indignada. Porque enterrar assim, fica aquela pergunta no ar e achamos melhor não fazer o enterro. Não podemos aceitar qualquer coisa, parece que querem só colocar números", diz Antônio. 

Famílias que optam por enterrar segmentos estão assinando um termo abrindo mão de serem comunicados caso mais partes sejam identificadas. Segundo o IML, a medida é para evitar que as pessoas passem pelo processo do velório mais de uma vez. 

Os familiares também reclamam a falta de informações claras quanto aos resgates que vêm sendo feitos, os números de casos a espera e se podem ter expectativa de vir a enterrar as vítimas. 

Bruno Rocha Rodrigues, 26, filho da professora Andresa Rodrigues, 41, trabalhava há três anos na Vale. Segundo ela, além de não receber informações atualizadas, o salário do filho, que a Vale havia prometido que seguiria pagando, não foi depositado. 

"Seria perfeitamente possível minimizar nosso sofrimento, se eles quisessem. Eu não perdi uma agulha de bem material, mas perdi tudo", afirma ela. 

A reportagem entrou em contato com a mineradora, mas ainda não obteve resposta.

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