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04/03/2019 às 09h00min - Atualizada em 04/03/2019 às 09h00min

Padroeiro da Irlanda inspira festival cervejeiro neste mês em Uberlândia

Evento ocorre nos dias 15, 16 e 17 de março no estacionamento do Parque do Sabiá

ADREANA OLIVEIRA
Estamos em pleno Carnaval. As escolas de samba, os blocos e trios elétricos estão pelas ruas e avenidas do Brasil fazendo a alegria de milhões de brasileiros e estrangeiros na maior festa pagã brasileira. Em alguns dias, um outro carnaval será lembrado em Uberlândia: O Dia de São Patrício (Saint Patrick´s Day), em festival cervejeiro nos dias 15, 16 e 17 de março, que tem apoio do Diário de Uberlândia.

O Saint Patrick´s Beer Festival será realizado no estacionamento do estádio Parque do Sabiá, com entrada franca, a partir das 16h. Entre os shows confirmados estão Laguna, Sérgio Tolucci e banda, Super Drones, Bandit Rock Band e Autopilots.

TRADIÇÃO IRLANDESA
São Patrício (385-461) é o padroeiro da Irlanda que inspirou uma tradição, de cunho religioso, que tem ganhado cada vez mais adeptos pelo mundo mesmo, mesmo onde o inglês não é o idioma oficial. Mas você sabe algo da história desse padre, nascido na Inglaterra Romana no século V numa rica família, cuja data da morte, 17 de março, tornou-se um motivo de celebração?

O Diário de Uberlândia passou parte da manhã da última sexta-feira (1º) com o irlandês John David Bagnall, que chegou aqui no final de dezembro de 1976 como padre e fez da cidade o seu segundo lar. Hoje, o professor que trabalha com tradução e tradução simultânea e presta assessoria em eventos para várias cidades, tem orgulho quando vê que um pouco da cultura de seu país é conhecida mundo afora.

É ele quem nos conta um pouco da história e da mitologia que envolve o padroeiro, algo que os irlandeses aprendem mesmo antes de chegar à escola. “Ele foi primeiramente um missionário cristão sendo posteriormente sagrado bispo e padroeiro irlandês. Mas como ele chegou até aí? É isso que muita gente não sabe”, comentou John.

Ele explica que quando os romanos começaram suas batalhas pelo domínio dos países europeus, passaram por França e Inglaterra “levando o cristianismo do jeito deles”. Ao chegarem na Irlanda encontraram um povo pagão, que praticavam até sacrifícios humanos quando queriam pacificar um deus ou outro. “Os irlandeses também eram um tipo de pirata. Invadiam o País de Gales para povoar mais a Irlanda, para conseguir escravos. E foi numa dessas exposições que prenderam Patrick e o levaram para a Irlanda do Norte”, diz ele, apontando para o mapa que fica em sua sala. Estima-se que Patrick tinha 16 anos quando foi levado de casa como escravo.

Enquanto cuidava de ovelhas em um povoado, Patrick teve uma visão sobre como ajudar os irlandeses com o cristianismo ou catolicismo, como é mais comum dizer hoje. “Ele foi ajudado por uma freira quando começou a pregar. Mas a Irlanda sendo pagã e dominada por reis houve muitos conflitos. No dia da Páscoa o rei realizava a festa do fim da colheita, a festa da Primavera, uma grande festa pagã. Eles acenderam uma grande fogueira em uma colina chamada Tara e ninguém, em lugar nenhum, poderia acender outra”, contou John.

Mas São Patrício não era de seguir regras. Ele acendeu uma outra fogueira na colina de Slane, a 10 quilômetros de distância. Foi, claro, chamado pelo rei para prestar esclarecimentos. “O rei perguntou, ‘quem é você’?. E Patrício usou o trevo chamado shamrock para explicar a santíssima trindade e o seu trabalho ali.



O irlandês John David Bagnall vive em Uberlândia desde dezembro de 1976 | Foto: Adreana


Diferente daquele considerado o trevo da sorte, o de quatro folhas, o shamrock tem três folhas em um ramo. “E Patrício mostrou a planta ao rei e disse que esse trevo irlandês representava três pessoas em um Deus só”. Até hoje os irlandeses usam o shamrock para mostrar enaltecer suas origens. “É uma forma jogar na cara do outro que você é irlandês católico”, comentou.

Para John, ter essa história lembrada aqui no Brasil é uma forma de perpetuar essa cultura e outras lendas. “Dizem que depois que São Patrício converteu a todos ele também expulsou todas as cobras da Irlanda...dizem”, brincou.

IMIGRAÇÃO
John Bagnall conta um pouco ainda sobre como o Saint Patrick´s Day se espalhou pelos países de língua inglesa.
“A Irlanda, como um país pequeno e uma grande população, devido à dominação inglesa, passou por momentos difíceis em sua história nos últimos 200 anos. Chegou uma hora que ou o irlandês ia embora ou morria. Em 1845 houve a grande fome, as batatas apodreceram antes da colheita e entre fome e pessoas indo para a América ou a Austrália a população baixou de 8 milhões para 4 milhões de pessoas”.

Ele comenta que muitos irlandeses foram primeiramente para Chicago, Nova York e Boston, nos Estados Unidos e Melbourne, na Austrália. John lembra que um dos presidentes mais populares dos Estados Unidos, John F. Kennedy, é de família irlandesa.

Na América do Sul o fluxo foi maior na Argentina, principalmente no Sul do país, dos anos 40 ao 60 do século passado porque houve apoio para agricultura e produção de leite por parte dos argentinos que ajudaram os irlandeses a comprar terras e recomeçar a vida.

BRASIL
John chegou ao Brasil em 1976, em dezembro, em uma missão, ele era padre e foi o único que veio naquele ano. O grupo começou a chegar na região 10 ou 12 anos antes para missões em Uberlândia, Ituiutaba, sul de Goiás e também nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. “Dessa turma quase todos já morreram ou estão aposentados na Irlanda. Eu fiquei em Uberlândia, criei minha família, tenho meus filhos e netos e tudo que eu faço é pensando em aproximar as pessoas da Irlanda daqui com a Irlanda e da Irlanda como Brasil”, disse.

John está sempre envolvido em projetos da Prefeitura de Uberlândia com a Irlanda, como o acompanhamento dos atletas olímpicos e paraolímpicos que tiveram sua subsede antes dos jogos no Brasil. Sobre a história da Irlanda em Uberlândia ele lembra do histórico 7 x 1 que o Brasil marcou sobre os irlandeses em maio de 1982, no estádio Parque do Sabiá.

CELEBRAR A VIDA E O EXTRAORDINÁRIO
Segundo John Bagnall, os irlandeses não celebram a morte e sim tudo que São Patrício fez em vida. “É um Carnaval, uma grande festa para celebrar a alegria, feriado nacional na Irlanda. Para nós a morte não existe, há mais depois dela”, disse John.

Para o irlandês, os dias de hoje precisam de pessoas que cuidem mais do próprio quintal, olhem para si e interajam com os outros. “Se você liga a TV ou acompanha noticiário nacional ou internacional fica chocado. É muita gente enganando muita gente, motivados pelo desejo de poder e dinheiro e isso tem que mudar”.

Para o antropólogo Sebastião Vianney, a data instituída em 1997 mantém seu lado do turismo religioso. Porém, por outro lado, a festa de São Patrício é uma das muitas manifestações da cultura popular pelo mundo que têm como referência a celebração de um mito de origem.
“A festa, para aquele que está integrado nela, representa a alimentação de forças difíceis de serem encontradas para a superação do cotidiano ordinário. Ela representa, aliás, uma ruptura com este cotidiano e a vivência com um cotidiano extraordinário enquanto ela durar. Assim como o Carnaval, mesmo que esta seja uma festa pagã”, disse Vianney, que completa. “Essa vivência restaura, realimenta o sujeito, para que ele volte novamente fortalecido para o cotidiano ordinário”.

Portanto, no próximo 17 de março, ou se quiser começar no dia 15 no Saint Patrick´s Beer Festival em Uberlândia, vá de coração aberto e atitude positiva. Aproveite uma boa cerveja artesanal e volte para casa de alma lavada.

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