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26/02/2019 às 07h38min - Atualizada em 26/02/2019 às 07h38min

Falta de prevenção volta a preocupar

Município inicia campanha de conscientização sobre a Aids e a sífilis, doença que teve alta de notificações em 2018

NÚBIA MOTA
Cláudia Spirandelli, do Ambulatório Hebert de Souza, diz que jovens estão mais relapsos em relação ao uso da camisinha | Foto: Vinícius Lemos
“Use camisinha, porque viver com aids não é fácil. Eu não consigo tomar os remédios direitinho porque me dá reação e ainda vem outras doenças. Tenho toxoplasmose e agora não consigo andar, nem mexer o braço”. A fala é de Caroline Gomes, contaminada pelo vírus HIV quando nasceu, durante o parto.

A jovem de 21 anos faz parte de um quadro de 5.241 pessoas soropositivas em tratamento em Uberlândia, segundo o último boletim, divulgado em dezembro pelo Ministério da Saúde. Ultimamente, além da aids, outra doença vem causando grande preocupação pelo aumento de casos, a sífilis. Só no ano passado, 542 pessoas foram diagnosticadas em Uberlândia, mais do que em 2016 e 2017 juntos, quando houve 489 casos. Como a doença é subnotificada, esse número pode ser ainda maior. Cerca de 15% da população que procura atendimento no Ambulatório Municipal de Moléstias Infectocontagiosas Herbert de Souza (DST/Aids) têm a infecção. Tanto a sífilis, quanto a Aids são focos da campanha de prevenção a infecções sexualmente transmissíveis iniciada ontem na cidade, devido à aproximação do carnaval.

De acordo com a coordenadora do Programa IST/Aids e Hepatites Virais, Cláudia Spirandelli, no ambulatório Herbert de Souza, dos 300 casos de sífilis em adultos notificados no ano passado, 155 foram em gestantes e 87 foram congênitas, ou seja, transmitidas da mãe para o bebê durante a gestação. Já em relação ao HIV, foram 531 novos casos em 2018. Os jovens entre 16 e 29 anos fazem parte da faixa etária em que se percebe o maior aumento dessas doenças em Uberlândia. “Percebemos o descuido em todas as faixas etárias, mas entre os jovens é ainda maior. Ninguém está usando camisinha. É uma questão de não ter medo. Eles acham que como tem tratamento, tanto faz usar camisinha, porque se pegar Aids, ou outra doença, podem se tratar. Também tem a questão de achar que com eles não vai acontecer nada”, afirmou Cláudia.

Foi o caso de Fernanda, de 31 anos, que descobriu o vírus aos 18. Mesmo se relacionando com um homem soropositivo, nunca usou preservativo porque o contágio, segundo ela, não era uma preocupação. “Eu nunca me preocupei com isso, não, porque eu estudei e quando a gente passa a conhecer determinado assunto, passa a não ter medo daquilo. Eu sabia que corria esse risco, mas nunca foi um tabu, para mim nunca foi uma coisa ruim. Eu pensava, se pegar, pegou, porque hoje existe tratamento e não é uma doença que te causa sofrimento”, disse ela.

Fernanda é o nome social da uberabense, que por muito anos se travestia para fazer programa no Posto da Matinha, em Uberlândia, depois de ser expulsa de casa, aos 15 anos, ao assumir a homossexualidade. Mas o vírus foi contraído mesmo quando ela procurou por ajuda na Fraternidade Assistencial Lucas Evangelista (Fale) para se livrar das drogas. Foi lá onde conheceu o companheiro soropositivo. “Eu vivo bem com a Aids. Mas digo para os jovens se cuidarem, porque tem mais um monte de doença sexualmente transmissível. No caso da Aids, o sofrimento maior é o preconceito”, afirmou Fernanda.

COMPORTAMENTO

Segundo Cláudia Spirandelli, há muitos anos não se fala mais em “grupos de risco” para a Aids, mas sim em comportamento de risco. “Independe de orientação sexual, se é gay ou heterossexual. Se você faz sexo sem se prevenir, você tem um comportamento de risco. E a única forma de se evitar é o uso do preservativo, até mesmo quando se faz sexo oral”, afirmou a coordenadora do Programa IST/Aids e Hepatites Virais.

Desde que descobriu a doença, Fernanda conta que nunca teve problemas de saúde graves. Toma os remédios regularmente, é responsável por lavar as roupas dos outros moradores da Fale e cuida dos pacientes acamados ou em fase terminal. A pior sequela sofrida aconteceu há 2 anos e meio, quando voltava de uma consulta médica, na cidade de Frutal, onde morava, e quase foi morta. “O preconceito é que mata. Uma pessoa me viu indo para o médico e espalhou que eu tinha aids. Outra pessoa me deu 24 facadas. Não vi quem era porque estava de noite, eu estava entrando em casa e ele veio por trás. Só ouvi a voz de um homem dizendo ‘É você que está passando doença para o povo, né, viado?’. E eu nem fazia mais programa, desde que descobri a aids”, disse Fernanda, que por pouco não ficou paraplégica, mas perdeu 70% do intestino e hoje usa bolsa de colonoscopia. O agressor nunca foi pego.

HIV

Pacientes em tratamento: 5.241 pessoas
- 2016: 625 novos casos
- 2017: 552 novos casos
- 2018: 531 novos casos
 
Sífilis
 - 2016 e 2017             
Congênita: 85               
Gestante: 184              
Adquirida: 220
 
- 2018
Congênita: 87
Gestante: 155
Adquirida: 300

 

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