Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
17/02/2019 às 19h27min - Atualizada em 17/02/2019 às 19h27min

Invenção centenária, vitrola ainda tem entusiastas em Uberlândia

Apesar de termos atualmente a música na palma da mão, as vitrolas têm seus entusiastas

ADREANA OLIVEIRA
Juliana Gomes comprou uma vitrola que tem a ver com sua personalidade | Foto: Arquivo Pessoal
Silêncio. Um Long Play (LP) é colocado sobre o prato. O braço com a agulha é cuidadosamente colocado sobre ele. Iniciam-se as rotações com um certo “chiado” que antecede os primeiros acordes que tomarão conta dos autofalantes, ou do gramofone. Dalí sairão clássicos de Elvis Presley, dos Beatles, dos Rolling Stones, de BB King, do David Bowier, dos Mutantes, e, hoje em dia, até do Luan Santana e do Ed Sheeran.

A vitrola é uma invenção que vem acompanhada de nostalgia. Há mais de 100 anos proporcionou que as pessoas levassem música para dentro de suas casas e mesmo depois de termos a música na palma da mão - com MP3 players, iPods, smartphones e afins – ela mantém ainda um lugar na casa e no coração de muitas pessoas, seja em modelos mais tradicionais e antigos ou aqueles mais novos, com possibilidade de reprodução de CDs e pendrives.

Na casa dos pais do músico e DJ Tiago Bessa sempre teve toca-discos. “Eu era muito pequeno mas lembro dos discos dele de 78 rotações, que precederam os de 45 e 33 rotações, que são mais leves. Eles vinham numa embalagem de papelão, não tinham capa, foto, nome do artista ou logomarca. Era uma bolacha bem pesada que rodava mais do que o dobro da velocidade dos discos que a gente conhece hoje e fizeram parte de uma época em que os artistas lançavam 3, 4 músicas de cada vez, não álbuns”, disse.

O pai de Tiago gostava de bolero, música sertaneja raiz, Moacir Franco, Agnaldo Timóteo e Altemar Dutra. Mas a lembrança mais forte que Tiago tem foi quando o pai percebeu que ele gostava de Elvies Presley, artista de quem tinha uma fita K7 Basf de 90 minutos que ouvia sem parar.

“Essa fita deve estar aqui em casa em algum lugar. Meu pai viajou a trabalho para Belo Horizonte. Num sábado de manhã, me preparava para jogar futebol no poliesportivo perto de casa. Eu tinha 9 anos. Quando fui me levantar senti algo nos meus pés, ainda na cama. Quando acendi a luz era um disco do Elvis, em comemoração aos 50 anos dele, caso tivesse vivo. O ano era 1990 e ele havia sido prensado em 1985. Daí em diante não parei mais de comprar discos”, contou o músico.

Nos últimos cinco anos Tiago se propôs a se dedicar ao colecionismo de vinil, mas não só a ponto de acumular. Todo tempo livre que tem é dedicado à audiofilia. “Eu ouço, conheço a história do disco, isso é respeito ao artista”, disse Tiago.

Há um ano ele iniciou um projeto de discotecagem. Leva seus discos de acordo com o perfil da festa, sua vitrola e roda pelo menos um lado completo do disco.

“A gente aprende a ouvir música por pílulas. O rádio toca o que acha que será sucesso e muita gente não conhece toda a obra de um artista. O disco pra mim é como um livro e você não o abandona na metade. Mesmo que as pessoas estejam conversando entre elas, espero que tenham acesso às músicas que muita gente nem imaginava que era de determinado artista”, explicou.

RELÍQUIA
O publicitário Davi Miguelito tem uma Polivox original dos anos 80 e não a troca por nada, apesar de acompanhar a evolução dos modelos com o passar dos anos. Essa paixão surgiu a partir, claro, da paixão por discos de vinil. “É algo que me acompanha desde a infância. Meu tio tem uma coleção enorme de vinis e sempre frequentei muito a casa dele, sou apaixonado por essa mídia”, disse.

Para ele é uma relação emocional com a peça desde a chegada, o olhar sobre a capa, o encarte e finalmente “a bolacha” que vai rodar. “A minha ainda tem uma boa performance e gosto mais dos modelos vintage do que dos retrôs”, comentou o publicitário que tem uma página no Facebook (Som Vinil), dedicada ao assunto.

Com a retomada da produção de LPs no Brasil o mercado melhorou consequentemente para as vitrolas, que voltaram remodeladas. Miguelito explica que a produção delas nunca parou em outros países, foi um hiato aqui no Brasil. Hoje, muito mais difundida e apreciada por DJs e entusiastas do vinil, a vitrola ainda tem seu nicho. “

Técnicos mais antigos ainda realizam reparos. Ainda encontramos agulhas e correia para o motor facilmente no mercado. Mas, se o equipamento for muito antigo e quebrar o braço, por exemplo, não tem como arrumar”, explicou.


PERSONALIDADE
A cantora mineira Juliana Gomes, natural de Uberaba e radicada em Uberlândia atualmente, tem suas primeiras lembranças das vitrolas na casa dos pais, primeiro um toca-discos e depois o modelo chamado 3x1 (LP/K7/CD). O tem uma boa coleção de vinis da qual ela tira algum proveito uma vez ou outra. “Minha família é muito musical e era hábito nos reunirmos ao redor do som para ouvir música e sempre muito variada”, disse a cantora, que já foi uma das selecionadas para o reality musical “The Voice”.

Como intérprete, Juliana precisa estar antenada com tudo que rola no mercado fonográfico principalmente nos repertórios pop rock. Para otimizar o tempo ouve muitas músicas no computador ou smartphone via plataformas de streaming. “É mais prático para tirar as músicas, porém, na hora de relaxar, de descontrair eu coloco os discos de vinil pra tocar e aproveito cada momento”, comentou.

Juliana, que afirma ser uma pessoa muito indecisa, viu vários modelos de vitrola e que adquiriu uma Symphony. Foi quase um amor à primeira vista. “Vermelho é minha cor favorita, isso ajudou. Além de combinar com muita fidelidade com a minha personalidade”, conta Juliana que também é proprietária de uma lambreta.

OS “CULPADOS”
Foi graças à vitrola que as pessoas puderam, pela primeira vez, levar música para suas casas, o rádio veio um pouco depois. A invenção contou com um power trio que daria: o empresário e inventor Thomas Edison (1847-1931), o cientista Alexander Graham Bell (18471922) e o inventor Emile Berliner (1851-1929).

Patenteada em 1896, a vitrola começou a se moldar quando Edison, inventor do telégrafo e do telefone, entre outros, para gravar sons, forrou um cilindro com uma folha de metal. Foi em 1877 que ele criou o fonógrafo. Logo, Alexander Graham Bell aprimorou a ideia de Edison e usando cera no lugar do metal de cilindros chegou ao gramofone. Edison patenteou a criação em 1878. A cereja do bolo veio com a contribuição do alemão Berliner, inventor do disco patenteado em 1896.

Portanto, se hoje você leva sua música para onde quer, com o uso de diferentes tecnologias, agradeça a esse trio.

 

Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90