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15/02/2019 às 13h30min - Atualizada em 15/02/2019 às 13h30min

Funcionários da Vale são presos por rompimento de barragem de Brumadinho

Entre os presos estão engenheiros e gerentes de Gestão de Riscos e de Estruturas

FOLHAPRESS
Militares trabalhando no resgate após tragédia em Brumadinho | Foto: Corpo de Bombeiros
Uma operação realizada na manhã desta sexta-feira (15), prendeu oito funcionários da Vale nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. A ação foi deflagrada pelo Ministério Público de Minas Gerais, com apoio das polícias Civil e Militar, e ocorreu para apurar a responsabilidade pelo rompimento da barragem em Brumadinho, no dia 25 de janeiro, que deixou ao menos 166 mortos e mais de 315 desaparecidos. 

No dia 29 de janeiro, quatro dias após o rompimento, foram detidos para depoimentos os engenheiros André Yum Yassuda e Makoto Namba, da Tüv Süd, e César Augusto Paulino Grandchamp, Ricardo de Oliveira e Rodrigo Arthur Gomes, funcionários da Vale. Eles ficaram dez dias presos e foram liberados no último dia 7 de fevereiro.

Foram cumpridos 14 mandados de busca e apreensão, além dos oito mandados de prisão temporária. Os investigados presos possuem cargos de gerência e de equipes técnicas. Confira a lista de nomes abaixo.

São eles:
- Joaquim Pedro de Toledo
- Renzo Albieri Guimarães Carvalho
- Cristina Heloíza da Silva Malheiros
- Artur Bastos Ribeiro
- Alexandre de Paula Campanha, gerente-executivo de Gestão de Riscos e de Estruturas Geotécnicas Ferrosos
- Marilene Christina Oliveira Lopes de Assis Araújo, gerente de Gestão de Riscos e de Estruturas Geotécnicas Ferrosos
- Hélio Márcio Lopes de Cerqueira, engenheiro da Gerência de Gestão de Riscos e de Estruturas Geotécnicas Ferrosos
- Felipe Figueiredo Rocha

As prisões são temporárias, com prazo de até 30 dias. Segundo a Promotoria mineira, os detidos são investigados para determinar a autoria ou participação em "centenas de crimes" de homicídio qualificado, considerado hediondo.

Um dos presos, Alexandre de Paula Campanha foi citado no depoimento do engenheiro da Tüv Süd Makoto Namba à Polícia Federal (PF). A empresa foi a responsável pelos relatórios que atestaram a estabilidade da barragem.

Segundo Namba, Campanha teria interpelado o engenheiro, questionando-o: "A Tüv Süd vai assinar ou não a declaração de estabilidade?" De acordo o relatório da PF sobre o depoimento, Namba declarou ter sentido que a frase foi "uma maneira de pressionar o declarante e a Tüv Süd a assinar a declaração de condição de estabilidade sob o risco de perderem o contrato."

Outro detido é Helio Márcio Lopes de Cerqueira, também da gerência de gestão de riscos geotécnicos, planejamento e desenvolvimento de ferrosos. Um dia antes do rompimento da barragem, Cerqueira havia alertado uma empresa de tecnologia contratada pela Vale de que as leituras de piezômetros estavam com falhas e que isso poderia acarretar em multas da Agência Nacional de Mineração.

Felipe Figueiredo Rocha, outro engenheiro preso, é autor de documento da Vale que estimou em outubro de 2018 quanto custaria, quantas pessoas morreriam e quais as possíveis causas de um eventual colapso da barragem de Brumadinho. O estudo, chamado Resultados do Gerenciamento de Riscos Geotécnicos, foi usado pelo Ministério Público de Minas Gerais em ação civil pública em que pede a adoção de medidas imediatas para evitar novos desastres

Felipe e Marilene Christina Oliveira Lopes de Assis Araújo, também presa, ganharam, em 2018, um prêmio por projeto de gestão de risco de barragens de rejeito. Ele foi concedido a uma equipe de seis engenheiros, da qual também fazia parte Makoto Namba, da Tüv Süd. Concedido pela Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS), o projeto premiado era um estudo de caso da barragem de Itabiruçu, em Itabira que fica a 160 km de Brumadinho. 

Para efeito de comparação, a barragem de Itabiruçu comporta até 222,8 milhões de m³, quase 20 vezes o conteúdo expelido no rompimento da barragem da mina do Córrego do Feijão, que liberou cerca de 11,7 milhões de m³ de rejeitos de minério de ferro.

Os oito funcionários da Vale serão ouvidos pelo Ministério Público Estadual, em Belo Horizonte. Também são apurados crimes ambientais e de falsidade ideológica.

Além deles, quatro funcionários da Tüv Süd foram alvo de busca e apreensão em São Paulo e Belo Horizonte. Também foi feita busca e apreensão de documentos e provas na sede da Vale, no Rio de Janeiro. Foram apreendidos computadores, celulares e documentos. O material será analisado pelo Ministério Público de Minas Gerais.

Segundo a Promotoria, as medidas estão amparadas em "elementos concretos colhidos até o momento nas investigações". Em nota, a Vale diz que continuará contribuindo com as investigações.


 
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