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14/02/2019 às 09h37min - Atualizada em 14/02/2019 às 09h37min

Paulo Romes assume amanhã a Aciub

Em entrevista ao Diário de Uberlândia, novo presidente defende reformas tributária, fiscal e administrativa

NÚBIA MOTA
Foto: Divulgação
Pontualmente às 8h de ontem, o empresário Paulo Romes Junqueira chegou à sede da Associação Comercial e Industrial de Uberlândia (Aciub), no bairro Martins, a casa que ele passa a presidir a partir de amanhã, por um período de dois anos. Na noite anterior da entrevista exclusiva ao Diário de Uberlândia, ele havia chegado tarde de Brasília, onde se encontrou com George Pinheiro, presidente da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB). Mesmo tendo dormido já de madrugada, acordado bem cedo para correr vários quilômetros, assim como faz todas as manhãs, o novo presidente da Aciub se mostrou animado durante o bate-papo e otimista com o novo desafio que vem pela frente.

Paulo Romes foi vice dos três últimos presidentes da Aciub, Fábio Pergher, Rogério Nery e Rosalina Vilela e já está mais do que familiarizado com a associação. O empresário já foi também Secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Uberlândia, entre 2013 e 2014. É vice-presidente da instituição filantrópica CEAMI Reabilitação para a Vida, ex-presidente do Comitê Estratégico do Business Affair da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil), ex-presidente da Fundação de Apoio e Desenvolvimento Empresarial (Fade) e diretor do Sindicato da Alimentação.

Formado em Direito, com pós-graduação em Gestão Empresarial, Paulo Romes Junqueira é nascido em Ituiutaba. É diretor-presidente da Junco Indústria e Comércio Ltda, empresa especializada na fabricação de balas, doces, condimentos e artigos de festas, que está no mercado há 27 anos, com sede em Uberlândia. Em uma conversa descontraída, ele falou com a reportagem sobre o papel da associação, suas pretensões frente à Aciub, as expectativas sobre os novos governantes do país e Estado e as necessidades do empresariado local.
 
Diário de Uberlândia: Quando se fala em Aciub, se pensa sempre nas grandes empresas, nos maiores negócios de Uberlândia. Qual o público da Aciub?
Paulo Romes Junqueira: Toda a classe empresarial. As grandes empresas também, mas damos uma atenção muito especial para quem precisa da Associação Comercial, que é a micro, pequena e média empresa. Todos os empresários e toda classe empresarial é representada pela Aciub. Nosso corpo de associados representa bem esse número, porque a maior parte é de micro e pequenas empresas.

Diário de Uberlândia: Política e economia andam juntas. Como conduzir os interesses da entidade nas três esferas?
Paulo Romes Junqueira: Cada esfera de governo tem um porquê de existir e nós temos um porquê de estar lá. Mas é importante dizer que, nas três esferas, nosso comportamento vai ser o mesmo, de apoio aos governos, mas com muita isenção e independência. Essa é a palavra de ordem, independência. Estamos dispostos a ajudar as esferas municipal, estadual e federal. Estamos desejosos e entendemos que o Brasil vive um grande momento e as três esferas precisam mudar de comportamento. Estamos muito a fim de ajudar nesse momento de mudança.

Diário de Uberlândia: Como avalia esse primeiro mês dos governos federal e estadual?
Paulo Romes Junqueira: A melhoria que houve é de expectativa. Todos nós vivemos de esperança e de expectativa. Então quando você elege um governo novo, a primeira coisa é que, ao melhorar a expectativa, você já começa a criar um círculo virtuoso na economia e em tudo. Isso já aconteceu. Mudou o ânimo, mas por enquanto é só isso. Em um Estado tão grande como o nosso, em um país tão grande, não é possível tomar atitudes antes de fazer um diagnóstico. Qualquer atitude que você toma antes disso é precipitada. Mas acredito que os dois estão no caminho certo.

Diário de Uberlândia: Qual o maior desafio em ocupar a cadeira que o assume nessa sexta-feira?
Paulo Romes Junqueira: É o que a missão diz. É representar uma classe produtiva tão importante, responsável por geração de emprego, renda e imposto. As obrigações do empresário brasileiro, de quem produz no Brasil, é muito forte. Para que você seja um empresário responsável no Brasil, você tem uma carga pesada para carregar. E nós não estamos competindo só com a empresa do lado, mas também com as empresas do Brasil e, especialmente, nos últimos 20 anos, nós competimos com uma empresa que está na lá na China, está aqui no Paraguai. E o Brasil é um país com uma das maiores cargas tributárias, de maior peso e de maior burocracia, que entravam principalmente o crescimento da pequena e média empresa.

Diário de Uberlândia: Uberlândia já foi vista como uma cidade que atrai interesse de grupos estrangeiros. Isso ainda é uma realidade?
Paulo Romes Junqueira: Sim. Atrai os investimentos até por suas características, que ouvimos o tempo todo. Uberlândia tem uma posição geográfica privilegiada, porque estamos no centro do Brasil, por isso temos aqui um polo atacadista importante. Temos aqui indústrias que já foram atraídas no passado e tem total condição de continuar atraindo investimentos. Quando a gente perde um investimento aqui e outro ali para outros municípios, até sacrifica os governos que estão sentados na cadeira, mas isso é natural, é comum. O Brasil é muito grande e as outras cidades também estão atrás dos mesmos investimentos. Mas vamos concentrar naquilo que nós temos. Temos atraído grandes empresas, como a Ambev, por exemplo, que gera emprego e renda e continuamos mantendo empresas como a Souza Cruz e um polo atacadista importante.

Diário de Uberlândia: Seu antecessor na Aciub, o Fábio Pergher, sempre disse que Uberlândia precisa ter empresas que contratem mão de obra mais qualificada, porque a maior parte dos empregos são com salários muito baixos, como no caso do telemarketing, por exemplo. Essa também é uma preocupação sua?
Paulo Romes Junqueira: Essa preocupação tem que ser de uma comunidade inteira, que representa os segmentos econômicos da cidade, como as outras entidades, as outras associações e o poder público. As empresas que geram emprego de massa, mas com baixa renda, já temos aqui, mas Uberlândia tem passado por essa virada de chave. Por exemplo, o polo tecnológico será uma realidade aqui.  Empresas como a Sankhya, que dependem de inteligência no seu negócio, atraem empregos de maior renda. A Granja Marileusa é uma prova disso, pois é um polo de tecnologia, com empregos de alto valor agregado. Vamos continuar trabalhando nessa linha sempre, para melhorar a renda per capita de Uberlândia.

Diário de Uberlândia: Sempre fazemos matérias que falam da má qualidade de algumas rodovias que cortam a cidade, como a BR-365 e a MG-497. Isso é um impedimento para o desenvolvimento de negócios?
Paulo Romes Junqueira: Toda a falta de infraestrutura é um impedimento. Mas eu vou fazer a leitura do copo meio cheio ou meio vazio. Nossas rodovias são ruins se comparadas com o que? Se for comparado com o estado de São Paulo, você tem razão, porque lá é muito servido de rodovias. Mas vou dar o meu testemunho. Eu vim de Brasília ontem e fui de carro. Há muito não ia para Brasília e fiquei surpreso, porque a rodovia está duplicada. É um show de rodovia. De Catalão a Brasília não está tão bom assim, mas nós precisamos dar um novo olhar, uma nova oportunidade e vermos as conquistas feitas.

Diário de Uberlândia: Mas está um show porque foi privatizada nesse trecho que o senhor se refere. É a favor então da privatização das rodovias?
Paulo Romes Junqueira: Sim. O Estado tem que se concentrar naquilo que é dele. Basta olhar os países onde o desenvolvimento realmente chegou, que admiramos, que queremos pular o muro e ir pra lá. Lá, os governos se concentram naquilo que é inerente a eles. São três coisas fundamentais que o governo tem que garantir, que nós precisamos, mas não temos. Temos que ter segurança, educação igual e qualificada para todos e saúde. Então, que o governo se concentre nisso e deixe aquilo que a iniciativa privada faz bem e bem melhor. Empresa pública é para ser cabide de emprego. Todo mundo que está trabalhando lá quer que continue público, porque a exigência é baixa e os salários são altos.

Diário de Uberlândia: E sobre o aeroporto de Uberlândia, levando em consideração o terminal de cargas e o de passageiros? Ele ainda é entrave devido à capacidade?
Paulo Romes Junqueira: Se não é, será. O Coden [Conselho de Desenvolvimento Econômico Uberlândia], muito bem dirigido pelo seu fundador e presidente, o doutor Luiz Alberto Garcia, que foi inclusive presidente dessa casa, tem uma missão de olhar para os próximos 100 anos, para as próximas gerações e o aeroporto passa sim por essa preocupação. Nós temos que ampliar o aeroporto e todos os nossos modais de transportes. Uberlândia precisa ter um aeroporto mais bem qualificado para continuar sendo a cidade importante que é.

Diário de Uberlândia: Vocês, empresários, já se encontraram com o novo governador, Romeu Zema, algumas vezes, inclusive aqui em Uberlândia. O que foi dito e o que o Governo de Minas pode apoiar o empresariado neste momento?
Paulo Romes Junqueira: Já estivemos com ele algumas vezes. A primeira coisa que ele precisa fazer é o dever de casa e é o que está fazendo. É primeiro olhar para dentro do Estado e ver o que pode cortar de despesa. A fotografia que o Zema está tirando, nos passando e estamos acreditando nela, é que ele contratou uma empresa para fazer esse diagnóstico. Ele pegou um Estado gigantesco, com muitos cabides de emprego. Portanto, é um Estado pesado e caro. Não sobra dinheiro para investimento. O que o empresário quer é que o Estado faça o papel dele. E nós empresários vamos gerar emprego e renda, que é nosso papel. Nós não queremos ajuda do Estado, queremos que ele faça o papel dele, dando para a população saúde, educação e segurança.

Diário de Uberlândia: Se o senhor pudesse aconselhar os três governantes neste momento, para que fosse tomada uma medida que tivesse reflexo para o empresariado em um período de cinco anos. O que o senhor diria?
Paulo Romes Junqueira: O Brasil precisa urgentemente de uma reforma tributária, fiscal e administrativa. Quando se fala disso, nós pensamos apenas em diminuição da carga tributária, mas precisamos, principalmente de segurança jurídica. Hoje, o empresário convive com um cipoal de tributos e, por isso, é possível que pague de forma incorreta e é multado. Nós oferecemos a conta e o Estado pode nos fiscalizar para ver se a conta está correta. E muitas vezes a conta é vista de forma diferente. Por isso, nós queremos simplificação. Por que não um tributo único? Por que não um tributo já pago diretamente para o município, sem precisar passar pelo Estado primeiro. O que é do município vai para o município, do Estado vai para o Estado e o que é da Federação vai para a Federação. Porque hoje se concentra uma grande renda na União, a segunda maior, no Estado, e a pior renda fica no município, sendo que é onde nós vivemos.   

Diário de Uberlândia: Qual a visão do senhor em relação as políticas ambientais das três esferas?
Paulo Romes Junqueira: Primeiro, precisamos entender o que é uma boa política ambiental. Eu tenho certeza que muitas pessoas, sem conhecimento, vão em modismo e no que dizem para elas. Nós precisamos do meio ambiente saudável para viver, da mesma maneira que preciso de segurança jurídica. Tem muitas coisas que precisam ser feitas, mas precisamos parar de ser xiitas ambientais. Hoje conseguimos licença ambiental para produzir e vem uma pessoa que tem pouquíssimo ou nenhum conhecimento de meio ambiente e quer dar opinião como se fosse mestre nisso. Eu não vou me ater em fazer isso, porque não sou conhecedor profundo, mas nós precisamos, e muito, rever a legislação ambiental. O mundo lá fora está convivendo com o meio ambiente da mesma forma e tem uma legislação infinitamente mais simplificada, enquanto aqui é colocado um peso enorme para quem quer produzir. O meio ambiente é uma questão extremamente importante, mas precisa ser definido por quem entende do assunto.

Diário de Uberlândia: Qual setor o senhor acredita ser o mais promissor nos próximos cinco anos?
Paulo Romes Junqueira: Tem a indústria 4.0, que é a indústria da inteligência. A primeira, 1.0, foi quando o ser humano descobriu o vapor e deu um impulso na indústria. A segunda foi a mecânica, quando usou a força de instrumentos e a engenharia revolucionou a economia no mundo. E depois veio a elétrica e hoje não vivemos sem energia. Agora, estamos vivendo a indústria da inteligência artificial e cada dia mais vamos usá-la. Se eu fosse iniciar um negócio hoje, eu queria conhecer de tecnologia e inteligência artificial, facilitando a vida do ser humano.

Diário de Uberlândia: Ventila-se a possibilidade de um nome vindo do empresariado para as próximas eleições municipais. Como o senhor avalia esse cenário?
Paulo Romes Junqueira: Vejo de forma tranquila, porque é da democracia. Todos têm o direito e o dever de se movimentar politicamente, inclusive a classe empresarial. O empresário tem direito e até dever, porque através de decisões políticas é que mudamos nossas vidas. Como esperar algo dos políticos e não querer se envolver?

Diário de Uberlândia: Um exemplo é o próprio Romeu Zema, não é mesmo?
Paulo Romes Junqueira: Com certeza. Não só em Minas. Na eleição de São Paulo, ganhou o Dória, um homem da iniciativa privada que defende o mercado livre. É um progressista, não é político. O Zema ganhou com votação altíssima e nunca tinha se candidato a nada. Não vamos tratá-lo como um neófito. Ele pode ser novo na política, mas não é novo em gestão. No Distrito Federal, ganhou o presidente da OAB. Não era empresário, nem político. É advogado. Em Goiás, tem o Caiado, que é um empresário rural no meio político há muito tempo. No Rio Grande do Sul, ganhou um jovem, que tem experiência política também. Então, se olhar para o perfil de cada um, eu teria motivo para desconfiar, mas eu prefiro confiar. Eu prefiro dar um voto de confiança, especialmente para o Zema, nesse momento tão difícil.

Diário de Uberlândia: O senhor  também tem pretensão politica?
Paulo Romes Junqueira: Eu quero muito participar, mas não tenho pretensão de disputar uma eleição. Não tenho a menor pretensão para isso. Quero, exclusivamente, fazer o meu papel, aqui nesse momento, que é promover o desenvolvimento da classe empresarial e liderar iniciativas defendendo essa classe.

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