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12/02/2019 às 13h58min - Atualizada em 12/02/2019 às 13h58min

Frente à maioria masculina, mulheres têm espaço ao volante em Uberlândia

Mundo que antes era dominado pelo sexo masculino, dirigir é cada dia mais parte do trabalho para o universo feminino.

Mariely Dalmônica
Nos últimos cinco anos, mais de 20 mil mulheres tiraram Carteira Nacional de Habilitação (CNH) em Uberlândia. Para muitas, o documento é também licença de trabalho, já que escolheram ser motoristas como profissão.

Casada há 16 anos, mãe de duas e avó de dois, Karine Calábria dirige profissionalmente há sete anos, e nos últimos quatro tem uma rotina um pouco diferente, viaja de duas a três vezes por semana dirigindo uma carreta. Ela tem 41 anos e já trabalhou em diferentes áreas, como vendedora, telemarketing e promotora de vendas, mas garante que sua real vocação é ser motorista na estrada.


Foto: Arquivo Pessoal

Ela ingressou na carreira depois de ficar desempregada por dois anos. O marido de Karine é vendedor de carros e ela conseguiu um “bico” na concessionária, transportando os carros da empresa. Com o tempo, Karine pegou gosto pela direção, mudou a categoria de habilitação e começou a prestar serviço para a empresa Braspress fazendo entregas urbanas em pequenos caminhões. “Um dia eu vi as motoristas de São Paulo chegando na empresa e foi amor à primeira vista, as carretas são lindas e eu me encantei”, afirmou.

Atenta às oportunidades, se preparou para conduzir um veículo de grande porte e logo foi promovida a carreteira. Dos 26 motoristas da empresa que Karine trabalha, quatro são mulheres. “A empresa tem interessado cada dia mais a contratar mulheres. Nossos colegas de profissão nos tratam com respeito e admiração, até porque trabalhamos de igual para igual, dia ou noite, com determinação e muito profissionalismo”, disse.
 
Coletivos

Foto: Arquivo Pessoal

Dos 288 motoristas homens da empresa de ônibus São Miguel, oito são mulheres, e Sandra Maria Silva está entre elas. Quando entrou na empresa, trabalhou como monitora por dois meses e como já tinha a CNH na categoria D, logo ocupou o cargo ao volante.

Sandra percorre as ruas de Uberlândia diariamente há quase nove anos, e só pensar em mudar de profissão se for para continuar dirigindo. “Tenho filho, tenho que cuidar da casa, a gente acostuma com a correria. Mas ainda quero ter uma van escolar”, afirmou.

O primeiro emprego de Sandra Maria como motorista foi há 15 anos e, desde então, ela não largou mais a condução. “Trabalhava para uma advogada. No início todo mundo espantava com motoristas mulheres, tinha muito preconceito. Mas agora muitas pessoas elogiam, é bom andar com mulher, elas são mais cautelosas”, disse.

A empresa de ônibus Autotrans tem 290 motoristas homens e seis mulheres, e a Sorriso de Minas tem 298 condutores homens e está com duas mulheres em processo de treinamento.

Marilda Cristina Martins era dona de casa quando decidiu se tornar motorista de van escolar com o apoio e influência de algumas amigas. Agora, depois de 26 anos, ela se sente realizada com a profissão. “Amo o que faço e quanto ao serviço ser visto por muitos como uma profissão masculina, para mim não faz diferença, não vejo desta forma e já conquistei o meu espaço”, afirmou.
 
Aplicativos trazem novas oportunidades
Depois de passar por diferentes profissões, como ajudante na oficina de mecânica industrial dos filhos, Elivonir Fátima Guerra de 55 anos decidiu mudar de carreira e há seis meses passou a trabalhar como motorista no Uber, no 99 e no Femidriver, aplicativos de transporte.

“Sempre fui muita dinâmica. Acredito que para ganhar dinheiro com aplicativo tem que ter disciplina. É um trabalho que só depende de mim e que eu volto com dinheiro para casa”, disse Elivonir, que trabalha todos os dias, sai de casa às 6 da manhã e faz oito horas de expediente. “Não trabalho à noite porque tenho minha casa, meu esposo e meu filho”, afirmou a motorista.

Elivonir sempre gostou de dirigir, recebe elogios e tem como lema quebrar o ditado de que “mulher no volante é um perigo constante”. “Um dia peguei um senhor em um hotel com destino ao aeroporto, ao sair do carro ele me disse: Pode ir buscar a carteira. Não havia compreendido, mas ele explicou que era chefe do Detran. Isso é um baita de um elogio”, disse.

Para a motorista, quem trabalha com aplicativos também é um pouco psicólogo. “Ouvimos histórias diferentes a todo momento e isso me fascina”, afirmou Elivonir.
Andreia Franco trabalhou por anos como representante de vendas e depois de ficar desempregada decidiu se arriscar como motorista de aplicativo, e está há três meses na função. Ela já trabalhava com venda de semijoias e como dirigia diariamente para atender as clientes conseguiu unir os dois trabalhos.

“Gosto muito de carro, de viajar e de dirigir. Meu horário eu que faço, gosto mais de trabalhar das 17h30 às 23 horas”, disse a motorista, que mesmo curtindo o serviço, espera que ele seja temporário. Andreia disse que o emprego atual traz muitas coisas boas. “A gente faz muitas amizades, tem muita gente que gosta de conversa”, disse a motorista.
 
Serviço também em duas rodas

Foto: Arquivo Pessoal

Shinaydher Alves Ribeiro tem 24 anos e há quase três anos é dona do seu próprio negócio, o Moto Girls, que oferece serviço de office girl e de moto táxi só para mulheres. A jovem decidiu abrir a empresa porque queria trabalhar por conta própria investindo pouco e ter um retorno rápido.

“Nunca me encaixei em outros trabalhos e como aqui em Uberlândia não tinha esse tipo de serviço, decidi abrir”, afirmou Shinaydher, que passou a competir com o Uber, que chegou à cidade dois meses depois que ela abriu a empresa.

Agora, Shinaydher não tem mais equipe e trabalha grande parte do tempo como office girl. “Quem contrata o meu serviço prefere mulher. A gente é boa no trânsito e tem muitos homens que ficam de cara”, afirmou.

A jovem já sofreu alguns acidentes e mesmo gostando de moto, acha a rotina muito perigosa. Pensando nisso, a jovem quer abrir um novo negócio, mas claro, sem deixar a paixão pelo trânsito de lado. Ainda este ano, Shinaydher será dona de um estacionamento.
 
Seguro
O Sindicato dos Corretores de Seguros (Sincor) de Uberlândia sempre realiza pesquisas de trânsito e quando o assunto é mulher, o resultado é sempre o mesmo. “O índice de incidentes é menor, as seguradoras premiam a condutora, que costumam pagar de 10 a 15% mais barato em seguros, independente do veículo”, disse José Eustáquio Batista, delegado do sindicato.

Ainda segundo o delegado, existe outra razão para as mulheres pagarem menos nos seguros: mulheres batem menos o carro. “A intensidade e os danos são bem menores. Dizemos que a mulher bate por excesso de zelo e o homem por excesso de confiança”, afirmou Batista.

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