Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
29/12/2018 às 07h00min - Atualizada em 29/12/2018 às 07h00min

Abandonos crescem com as festas de fim de ano

Protetoras de Uberlândia estimam em um aumento de 10% de cães e gatos nas ruas

CAROLINA PORTILHO
Sem condições de novos resgates, protetora Drika cuida de mais de 40 animais em casa | Foto: Divulgação
A família resolve viajar de férias e nesse planejamento o animal de estimação não entra no pacote. Tudo bem, até porque existem hoje diversas formas de curtir as férias deixando o cachorro ou o gato na companhia de algum cuidador ou em espaços destinados a isso, como hotéis. A grande questão é que a realidade não é bem assim. Todo fim de ano aumenta o número de animais abandonados nas ruas por causa do período festivo. 

Sem ter como mensurar esses dados, a artesã e protetora de animais Elizabeth Santana estima que o aumento ultrapassa os 10%.

“A incidência é grande nessa época do ano. São pessoas que não têm compromisso com a vida e acham que o cachorro pode se virar na rua sem pensar nos riscos de atropelamento, ou de morrer de fome ou de sede. A animal não é um brinquedo que pode ser jogado fora quando achar que não tem mais serventia”, disse Elizabeth, conhecida como Betinha.

Abandonar animais é crime de maus-tratos e quem for pego cometendo o ato pode responder a inquérito policial e pagar multa que varia entre R$ 900 e R$ 3 mil, dependendo da gravidade. Betinha acredita que uma das maneiras de reverter a situação do abandono na cidade é mexendo no bolso do infrator. “Assim como foi na época do uso de cinto de segurança. Deu tão certo multar que hoje em dia é raro você ver quem comete alguma irregularidade. O mesmo deve ser feito com quem maltrata um animal de estimação, assim não teríamos tantos nas ruas”.

Além do abandono nessa época do ano, a protetora alerta para o uso de plaquinhas de identificação do animal que costuma fugir de medo por causa da queima de fogos. Betinha acredita que essa medida resolve 70% dos casos, sendo possível achar o dono e devolver o animal para o seu lar. “Basta por um telefone de contato. Isso ajuda a achar o dono e com isso é menos um animal na rua”.

A também protetora Drika disse que em Uberlândia há mais de 35 mil animais nas ruas. Além do dono abandonar o pet de estimação nessa época do ano, ela alerta que deixá-lo em casa sem cuidados diários também pode ser considerado maus-tratos. “Recebo muita denúncia que a pessoa viajou e deixou o bichinho em casa, sozinho. Pode até deixar água e comida achando ser suficiente, mas a realidade nem sempre é assim. Se um animal se machuca ou bebe toda a água e fica sem por muitos dias, pode acarretar sérios problemas. Tem casos que vamos com a polícia no local para fazer o resgate de animais”.

Drika reforça que quando o animal fica em casa sozinho por dias e tem medo do barulho dos fogos, a chance de acontecer algo com o bichano é grande. “Ele pode ficar preso em grades, em buracos, quebrar vidros, por exemplo, e se ele demora a ser socorrido pode vir a óbito. O cachorro tem cabeça de uma criança de 5 anos e ninguém deixa uma criança dessa idade sozinha. A mesma consciência precisa ocorrer com os animais, que têm que ter a supervisão de um adulto”.

A protetora também é a favor das penalidades para quem comete maus-tratos em animais, não só por meio de multas, mas de prisões. “Além disso, falta uma política pública em defesa dessa causa. Nosso trabalho é resultado de esforço de cada protetor, sem qualquer tipo de ajuda dos nossos governos, o que é lamentável. Animal não é coisa, nem um bichinho de pelúcia”.

CÂMARA
Projeto de Lei proíbe fogos com barulho

Cidades como Florianópolis, São Paulo e Araxá decidiram, pela primeira vez este ano, que a queima de fogos durante os shows do Réveillon será apenas de artifícios com efeito visual, sem estampido. O assunto tem sido amplamente discutido em diversas partes do país, inclusive em Uberlândia.

O tema está sendo tratado pelo vereador Paulo César (SD), o PC, que já protocolou na Câmara um projeto de Lei de sua autoria que visa a proibição dos fogos com barulho. A medida vale para foguetes, bombinhas, traques, entre outros artefatos. A preocupação do vereador não é somente com os animais, que entram em pânico e podem fugir, mas evitar que a queima de fogos provoque mutilação de dedos, mãos e olhos, por exemplo, e ainda afete a audição de pessoas mais sensíveis, como idosos, crianças, pessoas acamadas, crianças autistas e pessoas com transtornos mentais.

“O projeto chegou a entrar em pauta, mas decidimos adiar a votação por conta de alguns comerciantes do ramo que mobilizaram alguns vereadores por serem contra essa medida, alegando que teriam perdas com as vendas de artefatos. Se o objetivo de soltar fogos com estampidos é demonstrar alegria a todos em sua volta, sugiro que passemos a refletir sobre o assunto e buscar algo mais duradouro e menos lesivo a outras pessoas e também aos animais”, disse o vereador.


Projeto de lei do PC vale para foguetes, bombinhas, traques, entre
utros artefatos | Foto: Aline Rezende/CMU

Dicas

O barulho da tradicional queima de fogos no Ano-Novo afeta alguns animais de estimação, podendo, inclusive, colocar em risco sua saúde. Para amenizar os transtornos, o veterinário Gustavo Ferreira Mota sugere algumas dicas, como cobrir o animal com pano ou toalha de forma que ele fique protegido, além de colocar algodão nos ouvidos.

Ele também orienta que é importante não deixar o cão ou gato sozinho. “Em casas, eles tendem a fugir em busca de seus donos, e em apartamentos há o risco de queda da varanda também na tentativa de fuga do animal. Ter uma pessoa por perto, eles se sentem mais seguro”.

Gustavo alerta para o uso de medicamentos sem orientação de um profissional da área, pois pode pior a situação do animal, caso ele seja cardiopata, por exemplo. “O barulho dos fogos faz com que o animal fique agitado, ofegante, e essa descarga de adrenalina é perigosa à sua saúde”.

Outras dicas

- Caso o animal fique em área externa, como quintal, é recomendável que ele seja levado para dentro de casa
- Deixe que o animal procure um local da casa em que se sinta protegido. A melhor opção é um cômodo com pouca interferência do barulho de ambientes externos
- Para quem tem gatos, a dica é deixar armários com as portas abertas para que eles encontrem espaços tranquilos para se esconder
- Quando o animal estiver no local que ele escolheu como seguro, não tente tirá-lo de lá
- A tranquilidade do dono ajuda a acalmar o animal
Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90