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16/12/2018 às 07h32min - Atualizada em 16/12/2018 às 07h32min

A corrente do bem

Voluntários que dedicam parte do seu tempo e trabalho dizem sentir gratidão quando ajudam o próximo

MARIELY DALMÔNICA
Ricardo fundou a ONG na companhia de um amigo e ajuda jovens da periferia | Foto: Divulgação
Enquanto algumas pessoas reclamam do trabalho que fazem, dizem não ter tempo para ir à academia ou não se decidem entre diversas peças de roupa para vestir, outras tiram um dia da semana para ajudar os outros sem ganhar nenhum dinheiro em troca, mas em recompensa, muita gratidão.

Existe um ditado que diz que “nunca devemos deixar nossa criança interior morrer”, e o Paulo Henrique da Silva realmente leva a afirmação ao pé da letra. Há 13 anos, ele prestou um concurso para ser brinquedista hospitalar no Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU), e a atividade só reforçou o que ele já sabia: Paulo Henrique nasceu para trabalhar com crianças, independente de ser remunerado ou não por isso.

Há quatro anos, o brinquedista, que sempre gostou da figura do palhaço, convidou o grupo de voluntários Amigos da Alegria para visitar a brinquedoteca do hospital. Quando Paulo Henrique os conheceu, logo decidiu que também queria fazer parte do projeto. “Isso me engrandece muito. O voluntário não procura ascensão pessoal, o que me interessa é a satisfação da pessoa, a maioria sempre fica melhor depois da minha visita. O retorno é muito grande, é muito gratificante”, afirmou o voluntário, que leva alegria para os pacientes dentro e fora do turno que trabalha.

Os Amigos da Alegria visitam asilos, orfanatos, festas comunitárias, a pediatria do Hospital de Clínicas e o Hospital do Câncer. Além disso, eles oferecem abraços grátis no Parque do Sabiá e em praças de Uberlândia. Atualmente, o grupo conta com cerca de 80 pessoas envolvidas, entre elas, 25 são palhaços, e sempre há vagas para quem tiver interesse em integrar o projeto. “Como a cidade não fornece um curso de palhaço, nós fazemos alguns cursos menores. Eu sou um palhaço fabricado por mim”, disse Paulo Henrique.

Além de se fantasiar para alegrar pessoas de todas as idades, o brinquedista, que também é dançarino há 20 anos, já deu aulas de graça para crianças que moram no bairro Shopping Park. O projeto não tem nome e nem lugar, mas ainda existe, e segundo Paulo Henrique, os voluntários estão apenas aguardando a liberação de um Poliesportivo para continuarem caminhando com o trabalho.

Paulo Henrique passou os ensinamentos para o filho mais velho, Jemerson Carlos da Silva, conhecido como Bob, que segue o caminho do pai, é dançarino e também faz parte dos Amigos da Alegria.


Paulo Henrique diz que nasceu para trabalhar com crianças | Foto: Divulgação

RELIGAR
Projeto leva esporte, cultura e literatura a crianças

 
Qual criança não gosta de futebol? Pensando nisso, o psicólogo Ricardo Augusto Dumont fundou na companhia de um amigo a Organização Não Governamental (ONG) Religar Brasil. O objetivo inicial era dar aulas de futebol para meninos e meninas do assentamento Santa Clara, no bairro Morumbi.

Além do Religol, que atende crianças do assentamento através da escolinha de futebol, a ONG tem diversos projetos, como o Fulorescê, que promove cultura através do teatro, da literatura, de danças e de contação de história. Outro projeto do Religar é a Escola Chegança, que foi criada em parceria com a ONG Jocum Cerrado e ensina sobre a biodiversidade do cerrado brasileiro e sustentabilidade. A Casa do Futuro engloba projetos de cinema, atendimento médico, odontológico e psicológico, cursos profissionalizantes, reforço escolar, violão, inglês e judô.

“Estávamos querendo fazer um trabalho social que focasse em compreender a necessidade da comunidade. Eu já trabalhei como psicólogo próximo ao local e lembrei do assentamento. A gente andou pela comunidade, perguntamos qual o desejo deles, qual atividade faltava, todos falavam que era futebol, então juntamos alguns voluntários e começamos a dar aulas”, conta Ricardo. Atualmente, o projeto tem cerca de 20 voluntários ativos e atende 120 crianças.

Para o voluntário, onde há pobreza, existe tráfico e violência, e mudar isso é muito importante. Além de oferecer atividades no assentamento, a ONG fundada por Ricardo também leva as crianças para o shopping, no cinema e até na Biblioteca Municipal.

O psicólogo faz trabalhos voluntários desde a adolescência. Com 16 anos visitava pessoas em situação de rua com o grupo Misericórdia, criava vínculos com os moradores e construía possibilidades de vida para eles.

Segundo o voluntário, o trabalho social é uma forma de não reclamar de coisas supérfluas e praticar atividades dentro das próprias limitações. “É tentar fazer diferença na sociedade. Eu acredito nessas microrrevoluções, elas são necessárias. O trabalho voluntário é uma forma de fazer uma política social bastante assertiva.”


Ricardo fundou a ONG na companhia de um amigo e ajuda jovens da periferia | Foto: Divulgação
 
VALORIZAR
Trabalho voluntário é algo transformador

 
Ensinamentos vêm de família e o gerente de tecnologia André Borges levou isso a sério ao ver o pai ajudar moradores carentes do bairro Lagoinha, quando ele tinha apenas nove anos de idade. André nunca passou por dificuldades, estudou em boas escolas, sempre teve o que comer e viajava com a família durante as férias. Após avaliar essa realidade, notou o quanto era beneficiado.

Depois de adulto, André passou a frequentar uma casa espírita e se envolveu com novos trabalhos voluntários. Há sete anos, o gerente de tecnologia visita famílias que moram no bairro Shopping Park, levando cestas de alimento, ajudando as crianças com a escola e os pais a procurarem emprego e fazer currículos. “Eu tenho tudo que preciso, até para conseguir o que não preciso, o que posso doar um pouco? Mesmo que você não tenha R$ 1 para ajudar ninguém, você tem ouvidos e palavras”, disse André.

O voluntário também faz rondas nas ruas e se encontra com os moradores. Segundo André, mesmo precisando, a maioria opta por pouco. Preferem comer um pão a dois pães, pegam apenas duas camisetas, mesmo quando é oferecido mais, e grande parte quer apenas conversar. “Quando a gente tem oportunidade de ver a vida como ela é, passamos a valorizar o que a gente tem. Surge um sentimento de gratidão quase de imediato”, disse.

Para André, o trabalho voluntário é algo transformador, e existe campo para qualquer um atuar. “No final, quem mais ganha não é quem estamos ajudando, mas a gente mesmo”, afirmou. Atualmente, o gerente de tecnologia já leva os dois filhos durante as visitas ao bairro Shopping Park.

Segundo a psicóloga de família Poliana Soares, o trabalho voluntário é importante para o desenvolvimento pessoal e uma forma de se sentir bem consigo mesmo, além de ser considerado um fator cultural, porque muitas vezes é passado de geração em geração.

Para Poliana, a troca que acontece nesses trabalhos sociais é algo gratificante. “Quando você doa a sua atenção, seu afeto ou algo material, o brilho no olhar do próximo não tem preço. Essa reciprocidade é muito importante”, afirmou a psicóloga.


André: quem mais ganha não é quem estamos ajudando, mas a gente mesmo | Foto: Divulgação
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