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30/10/2018 às 08h46min - Atualizada em 30/10/2018 às 08h46min

Professor e artista mineiro leva sua arte onde o público está

Fernando Barcelos circula com “Circuito Iago" por campis da UFU e vai também ao interior paulista neste mês

ADREANA OLIVEIRA
Apresentações acontecem em espaços urbanos, menos convencionais | Foto: Renata Silva/Divulgação
Um personagem surgido por volta de 1603 em uma das obras primas de William Shakesperare (1546-1616) o sub-oficial Iago, de “Otelo – O Mouro de Veneza” inspira o mais novo trabalho do professor e artista de cena mineiro Fernando Barcellos. Natural de Belo Horizonte, radicado em Uberlândia desde o ano passado, depois de circular por aqui, Rio de Janeiro (RJ), São João Del-Rei (MG) e Santo André (SP) ele fará agora uma turnê pelos campi da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

“Circuito Iago” será apresentado no dia 5 de novembro nos campus Monte Carmelo, dia 8 no campus Pontal (Ituiutaba) e no dia 28 no campus Patos de Minas. Segundo o artista e professor de técnica e criação em dança do curso de Bacharelado em Dança da UFU, a circulação foi viabilizada pelo Programa Institucional de Apoio à Cultura (Piac), da Diretoria de Cultura da Pró-reitoria de Extensão e Cultura da instituição. Com uma repercussão boa por onde passa, estão confirmadas, ainda neste mês, apresentações em quatro cidades do interior paulista.

“A receptividade do público tem sido sempre muito positiva. O que acho interessante nesse espetáculo é que ele tem um formato de dança muito diferente do que a maioria das pessoas estão acostumadas. Ele acontece em espaços públicos, que não são necessariamente espetaculares como são os teatros. Além disso eu converso efetivamente com a audiência durante todo o espetáculo, não há aquele velho distanciamento entre o artista e o público, o que contribui para que o espectador se envolva ativamente nas ações que acontecem no trabalho”, disse Barcellos ao Diário de Uberlândia.

Por onde passou, ele destaca duas apresentações especiais. A de São João del-Rei, onde realizou o espetáculo em um percurso de 200m, seguido pelo público, que crescia conforme o espetáculo ocorria, e a do Rio de Janeiro, no Largo das Neves, onde houve uma participação muito bonita do público presente, sobretudo das crianças. “Isso, pra mim, foi uma grande surpresa, já que no trabalho trato de temas fortes. Para mim é fundamental essa relação com o público que não é ‘especializado’, ou seja, o público que tem pouco contato com formatos artísticos alternativos. Encontros com eles têm sido incríveis, e acredito que é nessas pessoas que todos os formatos possíveis de arte precisam chegar nos tempos atuais”, comentou.

Barcellos tem desenvolvido, desde 2015, pesquisas teórico-práticas em que investiga as relações entre dança contemporânea e tragédia. Ele classifica seu solo “Circuito Iago” como uma “obra em processo”. A partir das ações de Iago em “Otelo”, Barcellos aborda temas atuais como golpes resultantes de conspirações políticas, transfobia, feminicídio e racismo. Para ele, propostas artísticas que abordam tais temáticas são urgentes. “O Brasil contemporâneo parece viver – como escreveu o artista francês Antonin Artaud no início do século 20 a respeito do cenário cultural europeu – ‘um esboroamento generalizado da vida’”, afirmou. Barcellos explica ainda que a arte funciona como ferramenta que auxilia na construção de modos pelos quais as diferenças possam coexistir sem se aniquilarem.

Na obra, o artista ainda se questiona a respeito da indissociabilidade das funções de artista e professor em sua prática criativa. Até que ponto o artista deixa de ser professor quando está em cena? Outra questão levantada por ele em cena diz respeito aos espaços “ideais” para apresentação de seus trabalhos. Nos últimos tempos, o artista tem percebido que as apresentações em contextos e espaços alternativos (espaços de convívios de escolas e universidades, por exemplo) têm sido tão ou mais potentes que as apresentações realizadas em teatros e salas de espetáculos.

“Surge aí um território de potências. No encontro entre o trabalho artístico e a experiência do outro, emerge o poder da alteridade. Reside aí o interesse em me apresentar nos diferentes campi da UFU”, comentou.

SINOPSE
“Circuito Iago” propõe-se a investigar relações entre tragédia e dança contemporânea, partindo das ações de Iago em “Otelo”, de William Shakespeare. O intérprete-criador articula em cena sua leitura da obra, acontecimentos contemporâneos que ele considera trágicos e sua prática entre a dança e o teatro, para produzir cinco células coreográficas que podem ser apresentadas em espaços públicos ou não convencionais. Juntas, constituem um circuito que envolve artista e público nas ações desenvolvidas.

FICHA TÉCNICA
“Circuito Iago”
Intérprete-criador: Fernando Barcellos
Trilha sonora: Fernando Barcellos e Barulhista
Operação de som: Fernando Barcellos, Isabela Palhares e Mariana Rabelo
Identidade visual: Izabela Marcolino
Fotos: Renata Silva
Cinegrafista: Bruno Silva
Coordenação de Produção: Mariana Rabelo
Realização: Coletivo Sala Vazia e Marbelo Produções
 
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