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17/10/2018 às 07h47min - Atualizada em 17/10/2018 às 07h47min

Candidatos do PT perdem espaço local

Votação em cargos majoritários em Uberlândia era predominada por nomes petistas, o que não aconteceu na eleição deste ano

NÚBIA MOTA
Dilma e Pimentel foram os mais votados em 2014 na cidade | Foto: Manoel Marques/Arquivo Flickr PT
Em uma pesquisa rápida sobre os resultados no primeiro turno das duas últimas eleições em Uberlândia, seria inimaginável apontar para o que hoje é visto no panorama político local. Em 2014, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e o atual governador Fernando Pimentel (PT) receberam 40,86% e 54,22%, respectivamente, dos votos válidos computados nas urnas da cidade, bem acima dos segundos colocados e principais adversários. Quatro anos depois, nas eleições de 2018, eles não conseguiram se eleger e ainda perderam espaço para candidatos pertencentes a partidos até então com pouca expressão.

Dilma não conseguiu uma das duas vagas de Minas Gerais para o Senado Federal disponibilizadas nesse ano e obteve 13,63% dos votos locais, ficando em terceiro lugar na cidade, enquanto Pimentel ganhou 17,26% dos votos locais e ficou fora do segundo turno para o Governo de Minas, disputado entre o novato Romeu Zema (Novo), com 61,72% dos votos, e Antonio Anastasia (PSDB), que surpreendentemente teve uma votação ainda menor do que o candidato petista dentro de Uberlândia, com 16,4% dos votos. 

No primeiro turno, a vitória de Jair Bolsonaro (PSL) sobre Fernando Haddad (PT) dentro de Uberlândia foi acima da média estadual e nacional. Enquanto no Brasil o deputado federal obteve 46,03% dos votos frente aos 29,28% do ex-prefeito de São Paulo, em Minas os números subiram para 48,31% e 27,65% e, em Uberlândia, saltou ainda mais, para 53,49% e 20,32%, respectivamente.

Para a doutora em História Social Jane de Fátima Silva Rodrigues, o resultado nas urnas é reflexo da onda de conservadorismo observada há cerca de uma década em países europeus e nos Estados Unidos, associada aos escândalos políticos recentes do Brasil, batizados de Mensalão e Petrolão. “Houve uma implosão de dois grandes partidos políticos, que é o PT e o PSDB. Essa necessidade de saneamento da política brasileira, que não quer mais aqueles partidos tradicionais que estavam no poder, explica em parte a manifestação do povo brasileiro, o maior receptor de políticas mal planejadas, que está sem o salário, sem emprego, sem acesso à saúde, educação e lazer, e teve uma grande decepção por um partido que se premiava pela ética e dava esperança de acessibilidade aos brasileiros de baixa renda”, disse a historiadora.

Para o antropólogo e mestre em educação Sebastião Vianney Rodrigues Ferreira, historicamente, Uberlândia é uma cidade com uma tendência mais conservadora, com apenas dois gestores na história voltados à esquerda, que são os ex-prefeitos Zaire Resende (MDB - 1983-1988 e 2001-2004) e Gilmar Machado (PT - 2012-2016). Além da prisão do ex-presidente Lula, as acusações que recaíram sobre o ex-prefeito petista, detido duas vezes neste ano, também podem ter justificado a perda de credibilidade do partido em grau ainda maior na cidade do que no resto do Brasil. “Eu não estou dizendo que houve só irregularidade no governo dele (Gilmar), e não que não havia anteriormente ou até mesmo na gestão atual, mas a gente só tem percebido essa judicialização agora. E com a politização do Judiciário, e por ser uma cidade mais conservadora, os deslizes ocorridos na gestão do PT ganharam uma proporção maior em Uberlândia, assim como aconteceu nacionalmente”, afirmou Vianney.

MINAS GERAIS

Bolsonaro interrompe sequência de vitórias do PT  

Em Minas Gerais, estado com 853 municípios, Bolsonaro interrompeu a sequência de vitórias petistas no primeiro turno em 141 cidades. Embora não tenha vencido na capital, Belo Horizonte, ele conquistou cidades de destaque em diversas regiões. Além de Uberlândia, venceu em Ipatinga (Vale do Aço), Montes Claros (Norte), Juiz de Fora (Zona da Mata), Teófilo Otoni (Mucuri), Betim e Ribeirão das Neves (Região Metropolitana). Em Juiz de Fora, cidade palco do atentado a faca contra Bolsonaro, o capitão reformado quebrou uma tradição de vitórias petistas em eleições nacionais que vinha desde 1998. Em 2002, foram 83% de votos para Lula na disputa contra José Serra (PSDB). Ao mesmo tempo em que a cidade da Zona da Mata mantém um perfil universitário, com movimento estudantil e comunidade LGBT organizados, também tem a presença de um contingente militar expressivo, com dois batalhões do Exército e três da Polícia Militar.

Segundo Carlos Ranulfo, cientista político da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a vitória de Bolsonaro em grandes cidades mineiras não é um fenômeno específico do estado, ao contrário, faz parte de uma tendência nacional. Ele ainda vê dificuldade para Haddad entre cidades maiores e entre a classe média. Por isso, perdeu em Montes Claros, por exemplo, que apesar de estar no Norte mineiro, onde o petismo é expressivo, é uma das mais populosas de Minas. "Minas reflete o que aconteceu no Brasil. Os únicos lugares em que o PT venceu foram em algumas regiões mais pobres do Norte, que são basicamente muito parecidas com o Nordeste. No Sul e Triângulo, o PT venceu quando estava na maré a montante, ganhando em todo lugar", disse.

Ranulfo lembra que o recuo do PT em Minas estava anunciado desde 2016, quando passou de 114 prefeituras para 37. Bolsonaro, por sua vez, pode ter sido impulsionado por candidatos a deputado e senador que, mesmo em outros partidos, aderiram a ele.

Políticos da chapa de Antonio Anastasia, candidato a governador do PSDB, passaram a pedir votos a Bolsonaro ainda no primeiro turno. O tucano não declarou apoio, mas se disse contrário ao PT no segundo turno. Já seu adversário Romeu Zema (Novo) foi mais explícito e dará palanque ao capitão reformado. Surpresa da eleição, o empresário terminou em primeiro no domingo (7) pegando carona no PSL.
 
LIBERALISMO ECONÔMICO 

Para o antropólogo Sebastião Vianney, o primeiro turno das eleições se pautou pela passionalidade. Ele explica que mais do que votos a favor de Bolsonaro, os eleitores votaram contra a política tradicional, o que, de certa forma, gera contradição, porque o candidato do PSL está há quase 30 anos na política e prega o liberalismo econômico, surgido no século 18, com a ideia de não participação do estado na economia. “Ele não está trazendo nada de novo e é preocupante, porque na política liberal é cada um por si e Deus por todos. O estado se afasta. Foi o que ocorreu quando houve a famosa quebra da bolsa de Nova Iorque em 1929, o centro do capitalismo”, lembrou o pesquisador.

Em um cenário mais recente, a historiadora Jane de Fátima lembra ainda da crise da Grécia, iniciada em 2009, e na Espanha, em 2008, duas economias sólidas arrasadas pelo neoliberalismo. “A Grécia ainda está tentando sair da crise e a Espanha já se equilibrou”, disse Jane.

A doutora em História Social chama ainda a atenção para o impacto da doutrina socioeconômica neoliberal sobre a conquista de importantes direitos dos trabalhadores e cidadãos ao longo dos séculos.  “Nós estamos no século 21, o século de direito à diferença. Se no século 20 apregoaram o direto à igualdade, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, o século 21 já traspôs e estamos no patamar de discutir uma justiça de equidade (respeito à igualdade de direitos). Essa onda conservadora na economia também atinge em cheio todas as conquistas realizadas no século 19, durante a terceira grande Revolução Industrial, a respeito dos movimentos trabalhistas. Vamos retroceder mais de um século com a possibilidade de perdermos algumas garantias fundamentais. Vença o candidato que vencer, nenhum direito pode ser retirado do trabalhador, do social, da educação. Mas como manter esses direitos com a economia neoliberal é o grande problema”, disse Jane de Fátima.

ELEIÇÕES

Primeiro Turno

(com recorte apenas dos votos de Uberlândia)
 
Presidente

2018
Candidato                                          votação                                %

Jair Bolsonaro (PSL)                       190.765                                53,49%
Fernando Haddad (PT)                     72.492                                  20,32%
Ciro Gomes (PDT)                           51.275                                  14,38%
 
2014
Candidato                                          votação                                %

Dilma Rousseff (PT)                       139.323                                40,86%
Aécio Neves (PSDB)                      113.598                                33,32%
Marina Silva (PSB)                         72.027                        21,13%
 
2010
Candidato                                          votação                                %

Dilma Rousseff (PT)                        186.797                                56,74%
José Serra (PSDB)                         70.680                                  21,47%
Marina Silva (PV)                            66.218                                  20,11%
 
2006
Candidato                                          votação                                %

Luiz Inácio Lula da Silva (PT)        157.774                                54,12%
Geraldo Alckmin (PSDB)              101.945                                34,97%
Heloísa Helena (PSOL)                  23.609                    8,099%
 
Governador
 
2018
Candidato                                          votação                                %

Romeu Zema  (Novo)                   190.948                                61,72%
Fernando Pimentel (PT)                53.386                                  17,26%
Antonio Anastasia (PSDB)           49.617                                  16,04%
 
2014
Candidato                                          votação                                %

Fernando Pimentel (PT)                    163.816                                54,22%
Pimenta da Veiga (PSDB)                  116.901                                38,69%
Tarcísio Delgado  (PSB)                     15.754                                  5,21%
 
2010
Candidato                                          votação                                %

Hélio Costa (MDB)                          168.107                               55,17%
Antonio Anastasia (PSDB)           129.044                                42,35%
 
2006
Candidato                                          votação                                %

Aécio Neves (PSDB)                      166.506                                61,63%
Nilmário Miranda (PT)                     100.439                                37,18%
 
Senador
 
2018
Candidato                                          votação                                %

Dinis Pinheiro (Solidariedade)       125.236                                22,97%
Rodrigo Pacheco (DEM)                97.714                                  17,93%
Dilma Rousseff (PT)                       74.307                                  13.63%
 
2014
Candidato                                          votação                                %

Antonio Anastasia(PSDB)            122.814                                45,29%
Josué Alencar (MDB)                    136.335                                50,27%
Margarida Vieira (PSB)                   8.712                                    3,21%
 
2010
Candidato                                          votação                                %

Fernando Pimentel (PT)                   176.041                               30,59%
Aécio Neves (PSDB)                       170.668                                29,65%
Itamar Franco (PPS)                        126.146                                21,92%
 
2006
Candidato                                          votação                                %

Eliseu Resende (PFL)                     126.875                                58,11%
Newton Cardoso (PMDB)                 67.818                                 31,06%
 
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