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08/10/2018 às 18h49min - Atualizada em 08/10/2018 às 18h49min

Vereadores lamentam fragmentação

Parlamentares atribuem derrotas à pulverização de votos, ao excesso de concorrentes e à falta de empenho de lideranças

WALACE TORRES
Com sete vereadores candidatos na eleição do último domingo e nenhum eleito, a primeira sessão de outubro na Câmara Municipal de Uberlândia foi marcada por lamentações e análises do resultado das urnas. Não fosse a homenagem sobre o Outubro Rosa prestada pela vereadora Dra. Jussara (PSB) a mulheres que passaram pelo tratamento de câncer de mama, nesta segunda (8), a sessão teria transcorrido num clima de “velório eleitoral”.

Entre os vereadores que tentaram uma cadeira em outras instâncias do legislativo é unânime a avaliação de que Uberlândia, considerado o segundo maior colégio eleitoral do Estado, irá sentir os reflexos de ver sua representatividade reduzida pela metade a partir do próximo ano.

“Uberlândia vai perder muito e vai pagar um alto preço por isso. Agora vamos ter que passar o pires na mão e ir atrás dos deputados de outras cidades da região pedindo emendas para a cidade”, avalia Silésio Miranda (PT), candidato a deputado estadual. “O prefeito Odelmo [Leão] tem um grande problema pela frente e o futuro prefeito depois dele também. Há um preço a se pagar por essa equivocada estratégia”, completa Silésio, se referindo ao fato de que as lideranças políticas permitiram que um quadro de pulverização de votos se materializasse em função da grande quantidade de candidaturas.

“As lideranças precisam dialogar mais, precisa chegar num consenso, buscar fazer o melhor para a população, que seria ter um número maior de representantes. Tivemos muitos candidatos, pulverizou os votos”, disse o vereador Roger Dantas (Patriota), candidato a deputado federal.

Pelo menos 45 candidatos a deputado estadual e 28 a deputado federal com domicílio eleitoral em Uberlândia disputaram o pleito deste ano. Houve ainda mais três candidatos que tiveram o registro impugnado e, portanto, não puderam ser votados. Como resultado, a cidade teve quatro eleitos – um federal e três estaduais – ante oito deputados eleitos em 2014.

“O que mais comprometeu foi a quantidade de candidaturas que a gente não reconhecia no cenário, muitos nomes fora do cenário político. Essa onda do PSL do Bolsonaro e do Novo, a gente também não fazia essa leitura. Uberlândia já vinha numa situação sem a mesma envergadura política de anos atrás, mas agora ficou muito fraca [a representatividade no legislativo]”, diz Wender Marques (PSB), que tentou o cargo de deputado estadual.

Além da quantidade de candidatos lançada pela cidade, outro fator apontado pelos vereadores como reflexo do resultado foi a quantidade de votos dada a concorrentes de outras localidades.

“Infelizmente Uberlândia pulverizou muitos votos, votou em muita gente de fora, gente que nunca pisou aqui e teve 9 mil votos na cidade. Percebo também que foi uma campanha da vaidade. Quem nunca foi nada, de repente resolveu ser alguma coisa”, disse a vereadora Michele Bretas (Avante), que também não conseguiu se eleger para a Câmara dos Deputados.

Considerada a maior referência política da cidade justamente pelo cargo que ocupa, o prefeito Odelmo Leão também foi citado pelos vereadores candidatos como responsável pelo cenário pós-eleição. “É impossível não creditar boa parte desse insucesso ao gestor, ao político que hoje, por ser prefeito da cidade, é um líder. A maneira como ele conduziu o processo foi desastrosa. Pelo menos com os deputados ligados a ele, os políticos, houve uma exagerada concorrência por parte deles mesmos, com campanhas milionárias. Ninguém do lado dele foi eleito deputado federal, e o que foi eleito deputado estadual não contou com o apoio dele, que foi o Luiz Humberto, que teve o apoio do Anastasia. Quem ele apoiou, ficou longe de ser eleito”, avaliou Thiago Fernandes (PRP), candidato derrotado a deputado federal.

“Acredito que faltou sabedoria ao grupo hoje dominante da cidade, estratégia, porque se uniu a apenas dois candidatos, deixando lideranças que sempre foram apoiadoras de seus mandatos, a exemplo do deputado estadual Felipe Attiê, e deu no que deu. Quem perde é a cidade. Ter apenas um representante na Câmara Federal é até inadmissível pelo que nós representamos para o Estado de Minas. Esse grupo tem que sentar e ver onde errou”, completa Adriano Zago (MDB), que também não conseguiu uma vaga de deputado federal.

“O momento é de analisarmos todo esse contexto, mas o que temos observado é que a política tem tomado um outro rumo, as pessoas querem mudança. Há pessoas novas surgindo”, frisou Zago.

DESILUSÃO

Para o vereador Paulo César, o PC (Solidariedade), o momento de desilusão do eleitor com a política se somou à falta de organização dos grupos políticos locais, que em momento algum cogitaram a perspectiva de Uberlândia ter sua representatividade na Assembleia Legislativa e no Congresso Nacional fragmentada. “Outra coisa negativa foi a própria postura do prefeito em apoiar apenas um candidato a estadual, polarizou num só nome, sendo que havia vários nomes. Uma perda para a cidade num momento difícil. Os tempos são outros. O eleitor cansou desse político tradicional. A ida do [Romeu] Zema para o segundo turno [no Estado] mostra isso, o Brasil e Minas estão mudando”, disse PC.

Esse sentimento de renovação foi o que motivou a vereadora Michele Bretas a tomar a decisão de não tentar um terceiro mandato na Câmara Municipal no próximo pleito. “Eu acredito que a renovação precisa acontecer, defendo isso. Fui eleita e reeleita para vereadora em Uberlândia. Então eu fecho o meu ciclo terminando meu trabalho como vereadora. Uma decisão que tomei antes mesmo de ser candidata à deputada federal, pois acredito na renovação”, disse.


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