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05/10/2018 às 08h02min - Atualizada em 05/10/2018 às 08h02min

Uma comédia musical brincante

ADREANA OLIVEIRA
Espetáculo com Matheus Nachtergaele e grande elenco é primeira montagem brasileira de texto de Sabina Berman | Foto: Victor Iemini/Divulgação
A escritora mexicana Sabina Berman criou fábula a partir de um encontro real entre dois gênios da dramaturgia francesa, Jean Racine (1639-1699) e Jean-Baptiste Poquelin, ou Molière (1622-1633). O texto chamou a atenção dos atores Elcio Nogueira Seixas e Renato Borghi, que fizeram a tradução para o português. “Molière – Uma Comédia Musical de Sabina Berman” estreou no início do ano sua primeira montagem, 100% brasileira, com 14 atores e músicos em cena sob a direção de Diego Fortes e adaptação de Fortes e Luci Collin. Uberlândia poderá conferir o resultado em curta temporada do espetáculo de hoje a domingo, com três sessões no Teatro Municipal de Uberlândia.

Para viver o protagonista convidaram o ator Matheus Nachtergaele, que havia voltado ao teatro depois de 10 anos com o monólogo “Processo de Conscerto do Desejo” (2015), no qual presta uma homenagem à mãe, a poetisa Maria Cecília Nachtergaele, que morreu quando ele tinha três meses.

“Voltei para o teatro com tudo e não largo mais. Ainda circulo com o ‘Processo’... e agora estamos com ‘Moliére’, uma experiência diferente. Na primeira eu estava acompanhado de um músico e neste tem um elenco maravilhoso que faz de tudo. Canta, dança, interpreta. É um espetáculo muito rico e apesar de Molière dar nome a ele não existe um protagonista, todos são protagonistas”, afirmou Mateus Nachtergaele, em entrevista por telefone ao Diário de Uberlândia.
Para ele, Molière é o maior dramaturgo comigo francês e talvez do mundo. Já Racine, no espetáculo interpresado por Elcio Nogueira Seixas, é o grande trágico francês. A briga pelos dois pelo domínio dos palcos da corte de Luiz XIV (Nilton Bicuto) é o fio condutor dessa tragicomédia. Ambos querem o poder, porém, o poder tem significado diferente para cada um deles.

“Racine se ligou ao alto clero careta para conseguir viver sob o abrigo do poder. Ele nasceu na classe pobre e ficou deslumbrado com isso, tornando-se um sucesso oligárquico. Racine abriu mão de suas prioridades éticas e artísticas em nome do bem-estar. Já o poder para Molière é a possibilidade de fazer sua crítica social e sua aposta na alegria de maneira mais confortável. Nascido na nobreza, era crítico dela, do alto clero, da burguesia e acabou sua vida de maneira humilde apostando no que teatro no qual acreditava”, conta Matheus.

O fanático Arcebispo Péréfixe (Renato Borghi), entusiasta da guerra, se aproveita do conflito entre os artistas para banir do reino o próprio Teatro, instaurando no país uma era de censura, violência e sacrifício. “Sabina é uma autora contemporânea e conseguimos valorizar seu trabalho com muita gente de teatro reunida. É uma comédia musical brincante e politizada de fundo trágico”, comenta Matheus.

O ator afirma que desde abril as temporadas em São Paulo e no Rio de Janeiro foram de extremos sucesso. A orquestra do maestro Lully (Fábio Cardoso) embala essa tumultuada França do século XVII com o toque tropical das músicas do cancioneiro Caetano Veloso, uma tração à parte no espetáculo. “O Caetano assistiu à montagem no Rio de Janeiro e adorou. E posso afirmar que com o tempo a peça tem ganhado um fundo mais político, de aqui e de agora”, comentou Matheus sobre o momento político pré-eleição no País. Em tempo, a equipe de “Molière” vai ter que justificar o voto. “Quem se organizou vai poder votar em trânsito mas creio que a maioria vai justificar”, comentou Matheus.

O cenário de André Cortez evidencia o jogo de transições entre teatro e realidade ao mesmo tempo em que dissipa os limites entre palco e plateia. O público, enquanto assiste a uma encenação de Molière ou de Racine, também acompanha as reações do Rei Luís XIV e do Arcebispo Péréfixe ao espetáculo. Os figurinos de Karlla Girotto brincam com a ideia irreverente de uma "França Tropical", ou melhor, de uma delirante "Tropicália Francesa" irrompendo em plena corte absolutista do século XVII.

O artista ainda comenta que o palco de Molière é de todos e que está cada vez mais difícil fazer peças grandes no Brasil. Mesmo assim, ainda que pare por alguns meses para gravar um longa, novela ou minissérie, o ator não se afasta mais dos tablados.

“Voltei com muita energia fazendo a peça sobre minha mãe e porque percebi claramente que a gente se aproxima de um momento em que o teatro será o último lugar de encontro ritual livre entre nós. É terreiro livre para a propagação do rir e chorar, de quem nós somos, sem dogma com liberdade filosófica. O teatro inclui todos os conhecimentos adquiridos ao longo do tempo e é um ritual de libertação”, afirmou Matheus.

O ator aposta todas as suas fichas na alegria e segue a dica de Molière: “que a ética seja da alegria, do sair do armário mesmo quando tudo fica perigoso”. Ele cita a Antropofagia como último movimento artístico brasileiro citando a frase icônica do autor do Manifesto Antropófago, Oswald de Andrade (1890-1954): “A alegria é a prova dos nove”.

“Quanto mais pessoas felizes, melhor para o mundo. Ninguém sai do teatro da mesma forma que entrou, o teatro é poderoso. Nesse tempo de vivência de internet e relacionamentos através da nuvem é muito bacana e muito bonito entregar meu corpo meu coração e minhas técnicas para a cerimônia que o teatro me permite a cada dia”, finalizou Matheus, que afirma estar super feliz pela volta à Uberlândia. “Sou apaixonado por essa cidade, adoro estar ai”.

SERVIÇO
O QUE: espetáculo teatral “Molière – Uma Comédia Musical de Sabina Berman”
QUANDO: hoje e amanhã (6) às 20h30 e domingo (7) às 19h
LOCAL: Teatro Municipal de Uberlândia (Av. Rondon Pacheco, 7.070, Tibery)
CLASSIFICAÇÃO: 16 anos
DURAÇÃO: 120 minutos
INGRESSOS: R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia-entrada) à venda nas lojas Provanza do Uberlândia Shopping e Center Shopping, na bilheteria do teatro a partir das 12h e pelo site megabilheteria.com (com taxa de conveniência)
INFORMAÇÕES: 3235-1568
 
Ficha Técnica
Texto: Sabina Berman | Tradução: Elcio Nogueira Seixas e Renato Borghi | Adaptação: Diego Fortes e Luci Collin | Direção: Diego Fortes | Cenografia: André Cortez | Figurino: Karlla Girotto | Direção Musical: Gilson Fukushima | Iluminação: Beto Bruel e Nadja Naira | Assistente de Direção: Carol Carreiro | Fotos: Eika Yabusame, Jamil Kubruk e Luísa Bonin, Paulo Uras - Estúdio FB |  Assessoria de Imprensa: Adriana Monteiro - Ofício das Letras | Direção de Produção: Camila Bevilacqua e Fioravante Almeida I Coordenação de Produção: Luís Henrique Daltrozo (Luque) | Idealização: Teatro Promíscuo, Flo Produções e Lady Camis | Produção: Daltrozo Produções | Produção local: Carlos Guimarães Coelho – Uberlândia na Rota do Teatro

ELENCO
Matheus Nachtergaele ....... Molière
Elcio Nogueira Seixas ........ Racine
Renato Borghi ................. Arcebispo Péréfixe
Nilton Bicudo ................. Luís XIV, o Rei Sol
Rafael Camargo .............. La Fontaine
Luciana Borghi ............... Madeleine e Rainha Mãe
Georgette Fadel.............. Gonzago
Regina França ................ Mademoiselle Du Parc e Madame Parnelle
Marco Bravo ................... Baron e Primeiro Médico
Débora Veneziani ............ Armande
Edith de Camargo ............ Marquês e instrumentista da orquestra de Lully
Fábio Cardoso ................ Lully, o maestro
Maria Fernanda .............. Anjo e instrumentista da orquestra de Lully
Beatriz Lima……………......... Instrumentista da orquestra de Lully
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