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22/05/2018 às 05h51min - Atualizada em 22/05/2018 às 05h51min

Uberlândia tem pelo menos 130 startups em atividade

A barreira do tradicionalismo dos próprios clientes é um desafio a ser vencido

VINÍCIUS LEMOS | REPÓRTER
Gustavo Debs e seus sócios empregam mais de 500 pessoas | Foto: Vinícius Lemos
 
Negócio do presente. A tecnologia está literalmente à mão de um grande número de brasileiros e seus smartphones, por isso as chamadas startups são a onda a ser surfada. Elas já são 130 conhecidas em Uberlândia, de acordo com o Sebrae, e entre os processos de inovação tão citados entre quem se arrisca no ramo, a barreira do tradicionalismo dos próprios clientes e a velha dificuldade de manter empresas principiantes são desafios a serem vencidos pelos empreendedores.

Até porque uma em cada três delas foi fechada no último ano, segundo pesquisa do próprio Sebrae junto ao Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Apesar de estar sujeita aos solavancos do mercado como qualquer outra, ela não é vista como uma empresa comum, principalmente no que tange à estratégia.
Startups são de negócios nascentes que aplicam modelos de diferentes, mas que sólido o suficiente para crescer de maneira  uniforme e replicável. O modelo é diferente justamente por introduzir inovação ou buscar soluções para problemas de clientes. Dentro desse pacote inclua o uso da tecnologia como plataforma para sua aplicação e desenvolvimento e temos uma explicação geral deste tipo de empresa.

Em Uberlândia, o movimento se expande e ganhou uma série de centros dentro grandes empresas e universidades, onde há pesquisas e apoio para que ideias saiam do papel. Não há, entretanto, um estudo que mostre o faturamento do setor no Município. Ao mesmo tempo, no ano passado, 42 novas startups foram criadas na cidade e ecossistemas de inovação são comuns, na junção de empresas, empreendedores, poder público e associações para troca experiências e aceleração das novas ideias. Um deles é o chamado Uberhub, ecossistema composto por instituições de ensino, startups, empresas de base tecnológica, incubadoras e outros. O Sebrae apoia financeiramente algumas empresas através do SebraeTec, que é uma Subvenção Econômica, além de apoiar eventos sobre este mercado.

SERVIÇOS

Boa parte dos negócios em Uberlândia está ligada à prestação de serviços, seja para pessoas físicas ou para outras empresas. No último caso, a diversidade é grande, passando por indústrias, comércios ou demais prestadores de serviços. As áreas são variadas e as soluções podem ser aplicadas em vendas, transporte ou mesmo no campo burocrático de um cartório, por exemplo.

INFILTRAÇÃO

O analista do Sebrae Fabiano Alves afirmou que o interesse de investimento e a possibilidade de infiltração do tipo de negócio se deu com o desenvolvimento de tecnologias cada vez mais populares, com o símbolo dos smartphones. Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo divulgada em abril mostrou que há 220 milhões de aparelhos do tipo ativos no Brasil, o que significa mais de um por habitante no País.

Dessa forma, é possível criar soluções tecnológicas que chegam ao grande público, muito além das empresas em si, costumeiras na busca por novos softwares ou inovações em seus parques físicos para melhoria dos negócios. “É a indústria 4.0 com a digitalização dos serviços existentes”, disse Alves.

Ele ainda explicou que as startups têm seu início ainda nos anos 1980 nos Estados Unidos, mas que o boom acontece nos anos 200 com a popularização das internet. Assim, a partir de 2010 há a intensificação no Brasil.

É UM NEGÓCIO DE RISCO

Como qualquer coisa muito nova, há riscos a serem medidos. Entre os apontados pelo Sebrae está a dificuldade de apresentação de novidades ao empresariado e ao público que deve ser educado a entender do que se trata a proposição da startup. Além disso, é preciso administrar a nova empresa como qualquer outra e nem sempre o empreendedor pode mantê-la. “É um negócio novo e que pode demandar uma série de testes. Muitas vezes o empreendedor não tem o capital e a disposição para bancar”, afirmou o analista Fabiano Alves.

Cerca de 30% das startups analisadas pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços e também pelo Sebrae fecharam as portas em levantamento feito no ano passado no programa Inovativa Brasil. Foram ouvidas 1.044 companhias, principalmente de Tecnologia da Informação e da Comunicação (31%), Desenvolvimento de Software (21%) e Serviços (18%).

As empresas entrevistadas apontaram como principal motivo para o fechamento a dificuldade de acesso a capital (40%), obstáculos para entrar no mercado (16%) e divergências entre os sócios (12%).

DUAS FECHADAS, TRÊS ENCAMINHADAS

O empreendedor Douglas Resende teve nos últimos anos duas startups liquidadas por ele mesmo por questões econômicas e de mercado. Ele vendeu sua carteira de clientes e se mudou para a Europa, onde passou por países como Irlanda e Portugal. A ideia era trabalhar e adquirir experiência, mas percebeu que poderia empreender. Em um ano e meio, criou novos negócios na área de tecnologia com sócios nos países em que esteve. Ambos estão em desenvolvimento, assim como em Uberlândia hoje ele desenvolve um tipo de inteligência artificial aplicável em cartórios para otimizar processos com documentação. “Estou testando com dois clientes em Uberlândia (o novo negócio) e o faturamento ainda não aconteceu, já que a empresa ainda não foi para o mercado. Mas ele está aquecido na cidade”, disse.

Exemplo típico do que a resiliência vale para o mercado de startups, explicou Fabiano Alves. Há mais erros do que acertos no ramo, segundo ele. Dessa forma, a persistência somada à habilidade de adaptação devem mais a observação do tamanho do mercado a ser desbravado e qual será a dificuldade para abertura são importantes para sobrevida da nova empresa.

DE UMA STARTUP A 550 FUNCIONÁRIOS

Fundada por Gustavo Debs e três sócios, a Zup Inovation teve uma história parecida com demais startups, focada em soluções técnicas para demais empresas. Seis anos depois, o empresário explicou que hoje participam da concepção e o planejamento inteiro no processo de digitalização de uma corporação. Atualmente a empresa está presente em sete cidades, incluindo São Paulo, Belo Horizonte e Lisboa, em Portugal, mais recentemente.

A expansão se deu por uma questão de necessidade de mão de obra, que Debs aponta ser escassa em Uberlândia e também para que a empresa pudesse ampliar sua carteira de clientes, que hoje incluem bancos e empresas telecom. Segundo o empresário, o faturamento da Zup passou a crescer mais de 100% ano a ano, desde 2014. A chegada a Lisboa ainda aconteceu em novembro de 2017 e a ideia é poder prospectar o mercado e, futuramente, expandir pela Europa.

“Não tivemos um ponto de virada, com o dia a dia vimos a oportunidade e abraçamos. É importante que as empresas entendam que em 10 ou 15 anos muitas vão desaparecer se não estiverem devidamente inseridas no mercado digital”, afirmou Gustavo Debs.

INVESTIDORES AJUDARAM NO PASSO SEGUINTE

Criada em janeiro de 2016, o primeiro cliente da Inngage, startup de Octávio Braga e seu sócio, só conseguiu fechar com seu primeiro cliente em maio do ano passado, numa negociação que demorou dez meses aproximadamente. Hoje com outros grandes clientes que usam o sistema de comunicação que promete maior eficiência com clientela, o empresário tem três investidores de mercado para que a empresa siga em frente e cresça. “Sobreviver no mercado é difícil com capital próprio, mesmo com um produto bacana. É preciso ganhar fôlego”, disse Braga.

Paciência e apresentação convincente sobre a efetividade do produto são armas citadas pelo empreendedor para que a empresa prospere. Com o tempo e ganhando o mercado, as startup também ganha credibilidade e a receptividade de empresas tradicionais se torna maior. O próximo passo para a Inngage é buscar o mercado de São Paulo.
 
ENTENDA 

O que os investidores chamam de startup?

Muitas pessoas dizem que qualquer pequena empresa em seu período inicial pode ser considerada uma startup. Outros defendem que uma startup é uma empresa inovadora com custos de manutenção muito baixos, mas que consegue crescer rapidamente e gerar lucros cada vez maiores. No entanto, há uma definição mais atual, que parece satisfazer a diversos especialistas e investidores: uma startup é um grupo de pessoas à procura de um modelo de negócios repetível e escalável, trabalhando em condições de extrema incerteza.

Conceitos

Apesar de curta, essa definição envolve vários conceitos:

Um cenário de incerteza significa que não há como afirmar se aquela ideia e projeto de empresa irão realmente dar certo – ou ao menos se provarem sustentáveis.

O modelo de negócios é como a startup gera valor – ou seja, como transforma seu trabalho em dinheiro. Por exemplo, um dos modelos de negócios do Google é cobrar por cada click nos anúncios mostrados nos resultados de busca – e esse modelo também é usado pelo Buscapé.com.

Um outro exemplo seria o modelo de negócio de franquias: você paga royalties por uma marca, mas tem acesso a uma receita de sucesso com suporte do franqueador – e por isso aumenta suas chances de gerar lucro.

Ser repetível significa ser capaz de entregar o mesmo produto novamente em escala potencialmente ilimitada, sem muitas customizações ou adaptações para cada cliente. Isso pode ser feito tanto ao vender a mesma unidade do produto várias vezes, ou tendo-os sempre disponíveis independente da demanda. Uma analogia simples para isso seria o modelo de venda de filmes: não é possível vender a mesma unidade de DVD várias vezes, pois é preciso fabricar um diferente a cada cópia vendida. Por outro lado, é possível ser repetível com o modelo pay-per-view – o mesmo filme é distribuído a qualquer um que queira pagar por ele sem que isso impacte na disponibilidade do produto ou no aumento significativo do custo por cópia vendida.

Ser escalável é a chave de uma startup: significa crescer cada vez mais, sem que isso influencie no modelo de negócios. Crescer em receita, mas com custos crescendo bem mais lentamente. Isso fará com que a margem seja cada vez maior, acumulando lucros e gerando cada vez mais riqueza.


Os passos seguintes

É justamente por esse ambiente de incerteza (até que o modelo seja encontrado) que tanto se fala em investimento para startups – sem capital de risco, é muito difícil persistir na busca pelo modelo de negócios enquanto não existe receita. Após a comprovação de que ele existe e a receita começar a crescer, provavelmente será necessária uma nova leva de investimento para essa startup se tornar uma empresa sustentável. Quando se torna escalável, a startup deixa de existir e dá lugar a uma empresa altamente lucrativa. Caso contrário, ela precisa se reinventar – ou enfrenta a ameaça de morrer prematuramente.

Startups são somente empresas de internet?

Não necessariamente. Elas só são mais frequentes na internet porque é bem mais barato criar uma empresa de software do que uma de agronegócio ou biotecnologia, por exemplo, e a web torna a expansão do negócio bem mais fácil, rápida e barata – além da venda ser repetível. Mesmo assim, um grupo de pesquisadores com uma patente inovadora pode também ser uma startup – desde que ela comprove um negócio repetível e escalável.
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