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08/04/2018 às 05h03min - Atualizada em 08/04/2018 às 05h03min

Contra a crise, número de academias cresce em Uberlândia

Em 2016 foram abertas 24 unidades e, em 2017, 18 foram inauguradas; permanência dos alunos é baixa após matricula

MARIELY DALMÔNICA | REPÓRTER

Algumas academias de Uberlândia parecem não ter sentido as consequências econômicas do país. De acordo com uma pesquisa feita pela Junta Comercial do Estado de Minas Gerais (Jucemg), o crescimento de academias na cidade foi de 16% nos últimos anos. Porém, grande parte das pessoas que se matriculam para malhar não permanece por muito tempo.

Em 2016 foram abertas 24 academias na cidade, e em 2017, 18 foram inauguradas. Neste ano, cinco estabelecimentos abriram as portas, só no primeiro trimestre de 2018. Atualmente, 248 academias de ginásticas estão ativas em Uberlândia. 

Bruno Tyrone é dono de uma rede de academias e atualmente conta com seis unidades em funcionamento. Para ele, o número de academias aumentou mais do que o número de usuários. “A quantidade de pessoas interessadas cresce organicamente, e acredito que a maior influência são as mídias sociais, que divulgam muito o estilo de vida fitness”.

Segundo uma pesquisa realizada pelo IHRSA Global Report (International Health, Racquet & Sportsclub Association), o Brasil é o segundo país com o maior número de academias por habitante. Atualmente, o país conta com cerca de 31.800 academias e com 7,952 milhões de alunos matriculados.

O gerente de uma unidade Paulo Ricardo Gonçalves acredita que os alunos não se habituam a uma rotina fitness facilmente. “Muitas pessoas se atraem com a estrutura do local e se sentem motivadas a fazer exercício no começo, mas a maioria desiste em uns três meses”.

O estudo feito pelo IHRSA ainda mostra que a taxa de permanência dos brasileiros é bem baixa, apenas 3,97% continuam frequentando a academia. “O giro de alunos é muito alto já que a motivação é temporária. Algumas pessoas querem ver resultados rápidos e acabam desistindo”, contou Tyrone.

O corretor de imóveis Álvaro Alves se matriculou algumas vezes na academia, mas acabou desistindo por conta de mudanças na rotina. “Já malhei por muito tempo, parei e voltei no ano passado. Mas larguei recentemente por conta do meu horário de trabalho”.

Bárbara Fernandes é estudante e começou a levar a academia a sério só neste ano. “Não gosto tanto de malhar, mas acho importante treinar todos os dias da semana”. Para ela, muitas pessoas procuram a academia pela estética, mas com o tempo começam a se preocupar também com a saúde.

Tyrone percebeu que enquanto os seus clientes mais novos desistem nos primeiros meses de malhação, os alunos idosos são os mais frequentes nos treinos e permanecem mais tempo matriculados na academia.

De acordo com Gonçalves o segredo é incentivar os clientes a partir do momento em que eles procuram a academia para uma aula experimental ou para se matricularem. “Nós temos estratégias para ajudar e incentivar as pessoas desde o início, oferecemos outras aulas e também fazemos projetos paralelos com os alunos”, contou.

EM ALTA

CrossFit não machuca tanto quanto parece

GABRIEL ALVES | FOLHAPRESS

Movimentos funcionais variados e realizados em alta intensidade, selfies em redes sociais, treinos inusitados e competições são o mantra da modalidade conhecida como CrossFit e de outros treinamentos funcionais similares. A promessa é de um corpo atlético sem a monotonia dos treinos de musculação e/ou corrida.

Lesões, aparentemente, também fazem parte desse universo  –  a maioria dos praticantes de treino funcional ou de CrossFit conhece alguém que se machucou durante algum treino ou competição. Mas a impressão de que se trata de uma modalidade particularmente perigosa para saúde parece estar equivocada. Em comparação a outros esportes, como futebol, judô, vôlei e até mesmo os aparentemente mais leves corrida e badminton, o CrossFit se passa por esporte inofensivo.

São 3,1 lesões a cada mil horas de treino, segundo um estudo publicado na revista especializada The Journal of Strength & Conditioning Research. No Futebol, essa taxa é de 7,6; no judô, de 16,3.

Um estudo brasileiro, conduzido por pesquisadores da Santa Casa de São Paulo e publicado na revista Orthopaedic Journal of Sports Medicine, tem números na mesma linha. Entre os praticantes de CrossFit, 31% relataram já terem tido alguma lesão relacionada à atividade. Para o futebol, esse número é de cerca de 60%.

A chance de lesão no CrossFit está intimamente associada ao nível de envolvimento do professor (ou coach, como se usa no jargão crossfiteiro). Um estudo mostrou que a probabilidade mais que dobra em turmas em que o professor tem baixa participação em relação àquelas em que a atenção é total. A parte do corpo mais sujeita a risco são os ombros, principalmente graças aos elementos de levantamento de peso, seguida dos joelhos e da coluna lombar.

"Não são movimentos absurdos, são funcionais  – ou seja, aqueles que fazemos no dia a dia, como agachar, subir escada, levantar. O problema é que eles são feitos com grande intensidade. Daí vem o ganho de força, flexibilidade, coordenação motora, resistência", diz o ortopedista Moisés Cohen. A lesão quando a carga é inadequada para o praticante. "Para um sedentário, mesmo sem sobrecarga o exercício pode já ser intenso."

O supervisor de compras e importação Danniel Bandeira, 33, que pratica treinamento funcional, é um dos que tem história de lesões para contar.

Durante a edição de abril de 2017 da Bravus Race, competição que ele compara com as Olimpíadas do Faustão, composta por provas de obstáculos, escalada e corrida, ele teve uma lesão de joelho, a qual ele atribui a um excesso de confiança. Quando tentava escalar uma trave de madeira, as mãos escorregaram – não havia onde agarrar, daí a dificuldade. Na segunda tentativa, saltou e, ao fim da queda, o ligamento cruzado anterior de seu joelho direito foi destruído, e o ligamento colateral medial estava capenga. "Na hora, achei que era só um cãibra. Depois de ser atendido, eu voltei e terminei a corrida. Não sabia que era algo sério."

Depois de encarar a cirurgia para reconstruir o ligamento, dezenas de sessões de fisioterapia e treinos de musculação, ele estava competindo de novo. "Hoje meu joelho está 98%, eu diria. Ainda aparecem uns estirões quando vou correr, mas passa."

Gabriel Pecchia, ortopedista especializado em joelho e trauma esportivo, porém, diz que é importante tirar a impressão de que a modalidade machuca bastante. "Claro que, para evitar a lesão, é importante corrigir os movimentos para que sejam executados com a técnica correta e, eventualmente usar acessórios como joelheiras e cintos."

Pecchia afirma ainda que o rumor de que praticantes iniciantes são particularmente suscetíveis às lesões também não encontra lastro na literatura científica  – talvez porque recebam mais atenção dos professores.

CUIDADOS

Lesão se dá por sobrecarga em músculos e articulações

Segundo o professor de CrossFit Rafael Guaraldo, a modalidade é aberta inclusive para idosos, crianças, obesos e sedentários. O caminho para se evitar lesões no CrossFit, diz Guaraldo, é seguir uma trajetória de desenvolvimento consistente. "Geralmente a lesão se dá por sobrecarga de uma articulação ou músculo ainda não desenvolvidos pelo aluno."

Essa é a explicação da atleta e treinadora de CrossFit Michelle Cotuvio para a sua lesão de ombro. "Aconteceu por causa da falta de qualidade em um determinado movimento no início dos treinos." Ela diz que o praticante que ainda não tem consciência corporal para realizar os movimentos com o próprio peso não pode e não deve adicionar carga e a intensidade deve ser controlada.

"Um profissional competente é capaz de saber exatamente em qual fase de treinamento se encontra cada um", afirma Cotuvio.

Segundo Guaraldo, esse desenvolvimento depende das atuações dos coaches. Para uma aula para cerca de 15 alunos, são necessários dois ou três instrutores para garantir a qualidade da execução do movimento.

Às vezes a sensação de bem-estar após os exercícios é tamanha que as pessoas chegam a se viciar nos exercícios. "Mais da metade dos pacientes da área de medicina do esporte são lesões de sobrecarga, causadas por overtraining [síndrome provocada pelo excesso de treinamento]", diz Cohen. "No exagero, as lesões aparecem", afirma o professor.
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