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31/12/2017 às 05h22min - Atualizada em 31/12/2017 às 05h22min

UAIs serão licitadas no início do ano

Odelmo Leão disse que todas as oito unidades deverão passar pela transição

WALACE TORRES | EDITOR
“Em 2018, vamos continuar atentos à situação de caixa” / Foto: Valter de Paula/Secom/PMU

 

O ano de 2018 ainda será bastante complicado para as prefeituras, que ao longo de 2017 conviveram com atrasos no repasse de recursos pelo Estado. Em Uberlândia, não deve ser diferente, conforme prevê o prefeito Odelmo Leão. Mas o ano novo também traz novas perspectivas para a administração municipal. As UAIs devem passar por um novo processo de escolha de gestão. Também há previsão de licitação para novos terminais de ônibus, que já têm dinheiro assegurado, e a possibilidade de adquirir uma linha de crédito de R$ 140 milhões para infraestrutura viária.

Em entrevista exclusiva ao Diário do Comércio, Odelmo também falou sobre o funcionamento de equipamentos construídos na gestão anterior, como o corredor de ônibus do Santa Mônica, o terminal no bairro Novo Mundo e a UPA Pacaembu.

 

Diário do Comércio - Como o senhor encerra esse primeiro ano de mandato, conseguiu colocar a “casa” em ordem?

Odelmo Leão - Diria que foi um ano muito complexo, complicado, não só pela economia da cidade mas do Estado como um todo, do País, estamos vivendo um período de retração e isso atinge toda a economia. Logo no começo do ano fizemos uma auditoria que mostrou uma dívida flutuante de R$ 225 milhões aproximadamente, de dívida fundada em torno de R$ 247 milhões, uma disponibilidade financeira de R$ 102 milhões, que é de conta vinculada, e uma dívida pública levantada em torno de R$ 370 milhões. Mediante essa situação de crise, procurei fazer o melhor possível, reequilibrar contas, reequilibrar administração em vários setores, reorganizar a administração da forma que eu entendo que deva ser. E nós tivemos progresso em 2017, tivemos minimamente de investimentos, priorizei áreas como saúde, educação, social, enfim, aquilo que está próximo do povo. Mediante todas essas dificuldades, só em 2017 eu gastei de recursos do meu orçamento em torno de R$ 160 milhões pagando contas que ficaram na Prefeitura. Eu ainda tenho de contas herdadas e não quitadas algo em torno de R$ 140 milhões para o próximo ano. Eu tenho que tomar muito cuidado como vou proceder nisso porque a população espera resposta de um governo. Por isso, estou tentando fazer uma gestão pública que não prejudique o povo e cumpra com meu dever perante a administração pública. Vamos ter um 2018 com dificuldades, haja vista a situação do país, que apresenta sinais de melhoras, mas temos que ter uma situação consolidada. Temos um Estado que cresceu menos que a economia nacional, isso afeta todos os municípios mineiros. Em 2018, vamos continuar atentos à situação de caixa, continuar mantendo as melhorias na área da saúde. Por exemplo, eu recebi (a prefeitura) com 55% de estoque em remédio. Hoje eu tenho uma falta de estoque em torno de 7%. Ainda falta alguma coisa? Falta. As UAIs, por exemplo, fizemos parcerias com vários empresários, estamos fazendo limpeza das unidades, pintura no Martins, Morumbi e Tibery e vamos prosseguir isso para que o povo tenha um atendimento onde se sinta bem. Na área de atendimento nós entramos novamente com o horário do trabalhador, tivemos dificuldade de contratação de médicos, inclusive essa questão da Fundasus nós mandamos um projeto de lei em janeiro para extingui-la. O promotor Fernando Martins entrou com ação contra mim e o professor Gladstone (Rodrigues, secretário de Saúde). Entendo a posição dele que, enquanto Curador das Fundações, tem a obrigação de tomar as suas posições. E nós, como gestores, temos que mostrar ao promotor, ao juiz quais foram as razões pelas quais não pudemos avançar tanto. Nós ainda temos cerca de 1.400 servidores na Fundasus. Como eu faço uma transição desses servidores para uma nova administração dessas áreas de saúde? Em janeiro eu devo lançar os editais de chamamento público para começar a migrar essas administrações.

 

Seriam novas organizações sociais assumindo as UAIs?

Novas organizações, inclusive é pensamento nosso que a própria SPDM (que administra o Hospital Municipal) possa pegar alguns setores da cidade. Vamos fazer essas licitações por setores.

 

Quantas UAIs vão passar por esse processo?

Acho que praticamente todas, temos que renovar, fazer um novo contrato. E nesses contratos, quem ficar na administração terá que ter aquela meta de plano de gestão, de atendimento, como procuramos deixar em 2012. Então teremos que ter uma comissão de fiscalização, as contratações não podem ser sem um chamamento público. Estamos nos organizando para atender inclusive o Ministério Público. Por exemplo, tivemos uma dívida que no princípio era de R$ 18 milhões de impostos da Fundasus. Para encerrar o CNPJ tem que quitar a dívida, e pela dificuldade financeira da prefeitura você fica até impedido de fazer determinadas coisas.

 

E na Educação?

A maioria das escolas precisa passar por reformas, temos obrigação de fazer isso mas será paulatinamente, mesmo porque você esbarra mais uma vez na questão de recursos. Temos que ver como vamos proceder na contratação de professores no ano que vem, porque temos que ter um concurso público. A Prefeitura já está preparando esse concurso. Melhoramos o atendimento na área da merenda escolar; entregamos o kit escolar com algum atraso e no próximo ano espero que possamos entregar logo no início de fevereiro. Vou entregar aos alunos uma camiseta, nesse momento não vou poder dar um conjunto de uniformes, mesmo porque não posso fazer compromissos que depois não terei condições de arcar. Sou um gestor público e tenho que ter responsabilidade com as minhas ações, mas sempre priorizando a melhora e o atendimento à população.

 

Em relação ao corredor de ônibus do Santa Mônica e o terminal do Novo Mundo, quase prontos, e a UPA Pacaembu que estava concluída, para 2018 é possível ativar esses equipamentos?

O corredor de ônibus ainda falta 7% da obra. A empresa tinha desistido e retomou o contrato com a condição de que terá que cumprir o que está previsto. Falta acabar as estações, o terminal ainda não está concluído. As passagens elevadas (na avenida Segismundo Pereira) estão acima do desejado, vou inclusive justificar ao Ministério Público. A empresa fez o compromisso de retornar em janeiro, e eu já disse que se ela não retomar a obra eu vou cancelar o contrato e faço outra licitação para concluir. É o caminho que tenho. A UPA Pacaembu, nós levamos um engenheiro da UFU que ajudou na construção do Hospital Municipal e entende dessa área hospitalar. Ele apontou 25 questionamentos naquela obra, inclusive na sala de radiografia não tinha os instrumentos para a contenção dos raios; tem problemas no telhado; há problemas no depósito de água. Teremos que fazer as intervenções para quando abrir a unidade, o usuário seja respeitado. As outras UPAs estão iniciadas, mas ainda falta concluir, só que não tem dinheiro na conta, o saldo não é suficiente para terminar. O Ministério da Saúde já foi informado disso tudo, com laudos de vistoria do engenheiro. Para concluir a UPA Pacaembu ainda gasto mais R$ 2,5 milhões.

 

E quanto aos novos corredores e terminais que estão no planejamento, o que será prioridade?

Nós vamos dar prioridade aos terminais, inclusive temos recursos pra isso na Caixa. Os terminais você implanta, já o corredor é mais complicado. Já determinei que se coloque em licitação para que possam ser construídos, e gradativamente, vai implantando os corredores de maneira organizada. Não vai concluir em 2018, lógico. Falando em terminal, temos a questão do trânsito que me preocupa muito. Agora que estamos concluindo a licitação para pintura das ruas. A compra de tintas também. Vamos começar a fazer intervenções e já recomendei ao secretário que procure especialistas em trânsito em grandes cidades para que ele observe e diga o que precisamos mudar. Não adianta eu achar, tem que se mudar com técnica.

 

O trânsito é um problema sério, temos hoje quase um carro para cada habitante.

Então, você tem a ponte do Uberabinha que é antiga, tem a ponte Cícero Naves de Ávila que já não suporta o gargalo. Inclusive já determinei que na região Sul não se aprove mais nenhum projeto sem que essas obras estejam iniciadas através de parceria. O entroncamento da Nicomedes é outro problema. Vou solicitar à Câmara autorização para que a Caixa abra uma linha de crédito de R$ 140 milhões para que eu possa fazer os investimentos em infraestrutura. Na rotatória do Planalto, por exemplo, tá um congestionamento louco. São intervenções necessárias serem feitas, mas eu quero que uma pessoa entendida em trânsito possa contribuir. O tipo de semáforo que temos também está ultrapassado. Isso tudo demanda investimento e estamos planejando para ver qual o melhor caminho. E onde puder fazer parceria público-privada (PPP) eu vou fazer. Já estamos fazendo na iluminação pública.

 

O que o senhor fez em 2017 que não repetiria em 2018?

Acho que fiz tudo o que tinha que ser feito dentro da possibilidade. Nada que fiz me arrependo. Posso ter errado, é normal errar. Só não erra quem não faz. Acho que repetiria de novo esse modelo de gestão, de aprimoramento financeiro, fiscal, isso tudo era necessário ter feito e vamos continuar fazendo para que ao final do meu mandato eu possa cumprir aquilo que eu disse: eu vou recuperar a nossa cidade.

 

Por que a Prefeitura de Uberlândia saiu da Amvap esse ano?

Ela não saiu, nós tínhamos uma dívida na Amvap que não foi possível de ser paga este ano. Então como é que eu posso ser associado se eu não paguei a minha contribuição de 2016? Não tem como.

 

2016 não foi pago?

Havia pendências. Numa crise financeira dessa como eu vou assumir compromisso de pagamento? É uma despesa mínima, mas no final ela é grande.


Uberlândia irá voltar para a associação ainda na sua gestão?

Lógico, lógico. Não há nenhuma prevenção, nada. Foi uma questão administrativa e financeira. Só isso. A AMM (Associação Mineira de Municípios), também não faço parte. Confederação Nacional dos Municípios, também não faço parte. Eu não saí. Só não me inscrevi em 2017. Soma as três associações para ver no final. Então dá um montante que eu posso gostar em outro lugar, em atendimento que é prioridade do povo. Eu segui isso.

 

Como será sua atuação no ano eleitoral? Vários candidatos vão querer se aproximar e pedir apoio.

Logicamente que o grupo político vai ter seus candidatos. Agora, essa decisão eu não interfiro. Cada um tem que avaliar. Será uma eleição complexa, difícil. Se você fizer um levantamento, pouco mais de 50% (dos eleitores) se cadastrou na biometria. Em fevereiro, quem não cadastrou terá o título cancelado. Existe por parte do povo, eu respeito, uma vontade de não participar (das eleições) – isso muita culpa de nós agentes públicos. Mas por outro lado eu digo: a democracia é igual tempero. Ou você ajuda a fazer ela e põe a pimenta que você gosta ou vai comer a pimenta que o outro pôs. Então o melhor caminho é escolher os melhores candidatos para as áreas que serão disputadas. É o momento de mudar o Brasil.

 

Está difícil escolher um nome para presidente da República?

Eu acho que isso está muito complexo, não tem uma definição. A mesma coisa o Governo de Minas, está complexo. Depende muito de decisões que serão tomadas. Te confesso que nesse momento eu estou preocupado com Uberlândia. A responsabilidade que tenho e vou trabalhar para fazer o melhor que puder. Mas acho uma eleição muito complicada. Os agentes políticos têm que motivar o povo a querer ir decidir, o que será também um momento difícil. Não que o povo não tenha razão, pelo contrário, o povo tá coberto de razão por tudo que está assistindo nesse país.

 

Vários políticos já declararam que se decepcionaram com a postura do PSDB e também com o senador Aécio Neves. O senhor também se decepcionou?

Se você for partir para o lado da decepção, acho que todos os partidos decepcionaram. Não existe o partido A, B, C ou Z. Os partidos políticos precisam fazer uma revisão de postura nesse país. Eu fui deputado por cinco mandatos. Não quero dizer que a gente era melhor que os outros, mas voltei agora num ambiente totalmente diferente.

 

O senhor estranhou Brasília nesse último mandato?

O que deve estar à frente de um homem público é o interesse do povo. Eu, como povo, assisto o que a gente vê no noticiário com muita tristeza. Eu fui líder por oito anos consecutivos (na Câmara), liderei a fusão de duas bancadas. Nós tínhamos lá Delfim Neto, Roberto Campos, Dornelles, Adilson Mota, Ibrahim Abi Akel, enfim, não vou mencionar nomes para não esquecer pessoas importantes. E hoje você tem um quadro na Câmara diferente. Antes você tinha o líder Luís Eduardo Magalhães, Miro Teixeira, tinha outros nomes. E você perguntava “quem é o líder?” e lembrava do nome. E hoje? Então precisamos voltar a ter referências. Agora, essa postura toda é nossa culpa, agentes políticos. Se o agente político não entender que o momento é outro e que as coisas mudaram, vou dar uma sugestão: é melhor sair da vida pública.


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