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26/11/2017 às 05h02min - Atualizada em 26/11/2017 às 05h02min

Falta de conscientização é ameaça para cachoeiras

Maioria das áreas da região não tem controle de acesso

WALACE TORRES | EDITOR

Qual praticante de mountain bike ou trekking em Uberlândia nunca terminou uma trilha matinal de domingo numa cachoeira? Que atire a primeira pedra quem nunca se atreveu a um banho gelado nas águas de Bom Jardim ou Sucupira. E o que dizer então dos adeptos de esportes mais radicais, como rapel e tirolesa. Descer paredões ou atravessar cânions rente à correnteza merece um mergulho de roupa e tudo.

Até pra quem não curte tanta adrenalina, mas precisa aliviar o estresse e o cansaço da semana e recarregar as baterias antes de recomeçar toda a rotina, os passeios ecológicos com destino a cachoeiras também se tornaram uma das melhores opções, senão a mais barata.

A cachoeira de Sucupira, que fica a 17 km do Centro de Uberlândia e é considerada um cartão postal, é a mais visitada. Nos fins de semana, o complexo hídrico chega a receber mais de mil pessoas num único dia, segundo profissionais do setor de turismo. Tanta visitação também traz um problema: a degradação ambiental. Apesar de estar em propriedade particular, como na maioria das cachoeiras da região, o acesso a Sucupira não é controlado. Visitantes e banhistas entram e saem tranquilamente, seja pulando a cerca ou passando em uma das brechas abertas no arame.

O complexo, que no passado já teve até um restaurante que abria aos fins de semana, está tomado pelo mato. Do antigo quiosque sobraram ruínas. Falta controle, mas falta também conscientização de quem utiliza o espaço. O lixo está por toda parte. Garrafas, latas, plástico, papel, tocos de cigarro e até churrasqueiras improvisadas ficam para trás após um dia de diversão e lazer. Os atuais proprietários das terras onde fica Sucupira são de Uberaba e têm como principal atividade econômica as lavouras de grãos. A Promotoria de Meio Ambiente já acionou os donos da terra para tomarem providências. A reportagem tentou contato com os donos, que preferiram não se posicionar por enquanto.

Na cachoeira de Bom Jardim, um pouco mais acima, não é diferente. Vestígios de um piquenique à beira d’água são comuns. A cachoeira é a mais visitada por grupos de ciclistas. Muitos até recolhem o lixo deixado por banhistas. Mas basta que uma nova turma sem consciência ambiental frequente o local para que a sujeira se acumule novamente.

Até mesmo em cachoeiras mais afastadas, como a de Mirandinha, que fica a 30 km de Uberlândia, a poluição ambiental é evidente. A presença de velas queimadas e garrafas de bebida alcóolica demonstram que nem mesmo os praticantes de rituais místicos respeitam as leis da natureza.

Diante da procura cada vez maior e da falta de conscientização, algumas cachoeiras ainda pouco exploradas estão sendo cercadas e tendo o acesso restringido pelos proprietários das terras. Uma das medidas para manter o controle e evitar a degradação é a cobrança de uma taxa, como já acontece nos parques florestais e outras regiões onde há balneários naturais com grande atrativo turístico.

Na cachoeira de Mandaguari, no município de Indianópolis, o proprietário implantou recentemente a cobrança de R$ 10 por visitante. Também colocou na entrada da propriedade uma placa com orientações aos usuários. “A natureza pertence a todo mundo, mas quero trazer a ideia de uma natureza sustentável. Se deixar aberto, sem controle, daqui a dez anos não será o que é hoje e o que já foi antigamente”, diz o engenheiro Raphael Platini, proprietário da fazenda.

Ele conta que o dinheiro arrecadado com a entrada será investido na melhoria da infraestrutura, como, por exemplo, a colocação de pedras ao longo da trilha até a cachoeira para proteger o solo. Outra iniciativa é que as visitações de grandes grupos e a prática de esportes no entorno da cachoeira sejam permitidos por meio de parceira com agências e guias de turismo regularizados. “A ideia é preservar o lugar ao máximo. Quero fazer as ações por etapas, bem estruturadas e da maneira mais simples possível”, diz Platini, que tem planos de adotar algumas iniciativas bem-sucedidas que ele conheceu ao visitar países europeus.

Também situada nos limites de Indianópolis, a cachoeira dos Macacos é uma das mais altas da região - são 70 metros de queda livre - e considerada um paraíso por adeptos de rapel. Justamente por ser tão imponente, os sinais de degradação também já são evidentes, o que motivou o proprietário a restringir o acesso a partir de dezembro. A cerca de arame foi ampliada em 500 metros para impedir a entrada de veículos. Ele também pretende cobrar taxa de acesso, que deverá ser feito por intermédio de profissionais credenciados. “Não dá para trabalhar no amadorismo correndo o risco de um acidente. Me preocupa muito isso. Quem for explorar, que tenha capacitação comprovada, seguro de vida e o mínimo de segurança”, diz o engenheiro José Humberto Miranda, dono da terra por onde passa a cachoeira.

O proprietário ainda está elaborando um estudo de viabilidade para definir o que pode ser implantado na localidade para dar suporte aos visitantes sem comprometer a natureza e não gerar dor de cabeça. “A terra que comprei está causando prejuízo. Hoje só gera custo, insatisfação e constrangimento”, diz. Até a placa com os dizeres “Leve seu lixo de volta”, instalada na entrada da propriedade, foi partida ao meio.

 

RECURSOS NATURAIS

Uberlândia tem mais de 140 cachoeiras

Banhada por dezenas de lagos, represas e rios, a macrorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba é privilegiada também por uma grande quantidade de cachoeiras. Estima-se que haja mais de 3 mil quedas d’água com altura a partir de dois metros. Somente nos limites do município de Uberlândia são mais de 140, de acordo com estimativa de guias turísticos.

Hoje, há quem visite somente para curtir a natureza e aproveitar o momento, como há quem faz desse destino um negócio profissional. Agências e operadores de turismo têm pacotes específicos para quem quer passar o dia em corredeiras, cascatas ou praticando esportes de aventura.

Douglas Abrahão é um deles e tem na atividade sua principal renda. Sua agência de ecoturismo e turismo de aventura chega a realizar quatro passeios por semana, o que atende, em média, 200 pessoas por mês. “Quando a gente começou, há oito anos, o passeio mais procurado era de rapel e tirolesa, que tinham a questão da aventura atrelada à atividade. Nos últimos dois anos os processos mudaram. Os passeios de 4x4 (veículo) que têm só visitas a cachoeiras e caminhadas têm sido mais procurados”, conta.

Ele cita que a maioria dos proprietários rurais ainda não considera as cachoeiras e recursos naturais como um potencial de valor econômico, o que pode ser constatado na falta de controle e a consequente degradação desses espaços. “O acesso é fácil e sem controle, o que acaba gerando uma visitação massificada. Com isso, as pessoas vão para regiões naturais, mas tendo os mesmos hábitos urbanos. Isso é um movimento a nível nacional”, aponta.

O jornal Diário do Comércio acompanhou uma excursão da agência Trilhas Interpretativas por cinco cachoeiras da região (veja fotos na página ao lado), a convite da empresa Cardápio de Turismo. Nenhum dos locais visitados tem uma estrutura pronta para receber visitantes, preservar as condições naturais e controlar o acesso. E quanto mais distante do centro urbano, maior é a tendência de atrair novos turistas.

 

Conheça algumas cachoeiras da região

Sucupira

- Distante a 17km do centro de Uberlândia

- Queda d´água de 15 m e paredão de 25 m a 30 m de largura

- Rio Uberabinha

- Sem controle de acesso

 

Mirandinha

- Distante 30 km do centro de Uberlândia

- Queda d’água de 25 m

- Primeira cachoeira após a usina hidrelétrica de Miranda

- Acesso liberado

 

Macacos

- Distante 45 km de Uberlândia, já no município de Indianópolis

- Queda d’água de 70 m, sem contato com o paredão

- Ribeirão Boa Vista

- Acesso será controlado a partir de dezembro

 

Furnas

- Distante 60 km de Uberlândia, no município de Indianópolis

- Queda d’água de 60 m, sem contato com o paredão

- Ribeirão das Furnas

- Acesso não liberado, mas sem controle

 

Mandaguari

- Distante 65 km de Uberlândia, no município de Indianópolis

- Queda d’água de 30 m (a parte alta tem outra cascata com 5 m)

- Ribeirão Mandaguari

- Acesso controlado – taxa de R$ 10

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