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21/10/2017 às 05h45min - Atualizada em 21/10/2017 às 05h45min

Mais de 300 anos de história

Cidade que foi a sétima vila do ouro ainda preserva casarões coloniais, igrejas e fatos marcantes

WALACE TORRES | EDITOR
Conjunto arquitetônico de Pitangui foi tombado como patrimônio histórico em 2008; a cidade de 302 anos tem pouco mais de 25 mil habitantes / Fotos: Walace Torres

 

Considerada a sétima cidade mais antiga do Estado e, portanto, uma das oito vilas do ouro, Pitangui e seus personagens ilustres exerceram certa influência nos desfechos que levaram à Inconfidência Mineira e até na independência do Brasil de Portugal. O turista que chega pela primeira vez ao município mais antigo da região Centro-Oeste não imagina o que encontrará pela frente ao bater um papo com moradores antigos e visitar museus, igrejas e casarões coloniais. Muitos deles resistiram ao tempo e às vontades de famílias tradicionais e influentes, que retardaram o processo de tombamento da cidade, mas não impediram que parte dos 302 anos de história fosse esquecida – ou até mesmo virasse pó junto com tantos casarões que hoje não podem ser vistos nem mesmo nos livros de história e fotografias antigas.

O tombamento definitivo do conjunto arquitetônico só aconteceu em 2008. Bem antes disso, as outras vilas do ouro, como Ouro Preto, Diamantina, Mariana tiveram seus casarões preservados pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha). O fundador do Iepha era um pitanguiense, Gustavo Capanema, que por ter muitos parentes em Pitangui, deixou de decretar os tombamentos para evitar que os imóveis da família fossem impedidos de sofrer alterações ou até mesmo serem vendidos.

Para a sorte do visitante, a cidade respira história por meio de seu povo e das construções centenárias ainda conservadas. A começar pela igreja de São Francisco de Assis, erguida em 1850 no Alto das Cavalhadas. O relógio foi trazido de Portugal em 1811 e o sino veio mais tarde, em 1862. Por muitos anos, a igreja recebeu as principais festividades religiosas. A cruz de madeira em frente, os casarões que margeiam as duas ruas até o templo e a praça com luminárias antigas e jardinagem impecável formam um verdadeiro cartão postal. Um pouco mais abaixo está a igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar, que foi reconstruída em meados do século XX, após um incêndio destruir totalmente o templo original em 1914 por causa do descuido de um sacristão que se esqueceu de apagar a vela.

Dizem que os restos mortais de padre Belchior Pinheiro de Oliveira estão enterrados nas escadarias da igreja, a pedido dele, que dizia querer ser pisado por todos os fiéis. O pároco foi um dos moradores mais ilustres de Pitangui. Segundo a história, foi por sua causa que Dom Pedro I ergueu a espada no Vale do Ipiranga e declarou a célebre frase que deu início à independência do Brasil. Padre Belchior era tido como o principal conselheiro do imperador, que ao receber uma carta de Portugal, conclamando-o a retornar à terra natal, ouviu dele a seguinte orientação: “Se vossa Alteza não se faz rei do Brasil será prisioneiro das côrtes e talvez deserdado por elas. Não há outro caminho senão a independência e a separação”.

Quem é da terra também garante que a Revolta do Quinto começou em Pitangui, com o capitão Baltazar, e não em Ouro Preto, como é mais conhecida a história. Quando o governador proibiu o consumo da cachaça, Pitangui também se destacou - foi a cidade que mais se revoltou, pois abrigava muitos escravos que haviam fugido de outras partes do país para tentar uma vida melhor nas minas de ouro. A cachaça era a principal bebida usada para acalmar os escravos.

A antiga estação de trem hoje é sede do centro de informações turísticas e de um museu. Lá, estão documentos valiosos que contam parte dessas histórias e de outros contos curiosos. Um deles demonstra quão forte era a religiosidade local. As pessoas que pegavam dinheiro emprestado no banco assinavam um compromisso dando a sua alma como garantia.

Pitangui já foi considerada a cidade mãe na região Centro-Oeste, com dimensões maiores que muitos países europeus. O desmembramento de suas terras deu origem a cerca de 40 municípios, entre eles alguns que hoje tem população bem superior a Pitangui, como Divinópolis, Pará de Minas e Nova Serrana.

 

FÁBRICA

Com 20 fábricas, cidade é pioneira em cigarros de palha no país

A cidade que já teve o ouro como sua principal fonte de riqueza, hoje conta com outros meios de geração de emprego e renda. O ouro ainda é explorado por uma multinacional que tem autorização para atuar no subsolo, mas a grande força de trabalho vem de duas siderúrgicas, granjas de frango, pecuária e a fabricação de cigarros de palha. Pitangui tem cerca de 20 fábricas de cigarros de palha, sendo que a Souza Paiol é a maior e também a pioneira do segmento no país. A produção teve início em 1998. “Sempre gostei de fumar mas não sabia enrolar o cigarro. Procurava no mercado e não achava pronto. Aí chamei um cunhado que estava desempregado para montar o negócio”, diz o empresário José Aroldo Vasconcelos, que até então atuava no setor de autopeças.

Direta e indiretamente a empresa emprega mais de três mil pessoas num município que tem pouco mais de 25 mil habitantes. Os cigarros são feitos manualmente por artesãos que trabalham em casa. Na fábrica acontece apenas os processos de seleção, aparo e envaze do produto. A palha é produzida por 170 pequenos produtores da agricultura familiar, o que ajuda a movimentar a economia na zona rural. Por semana, uma família com quatro pessoas consegue uma renda bruta de R$ 3,8 mil apenas com o fornecimento da palha de milho.

Em Pitangui também se encontra hospedagem aconchegante. A Pousada Monsenhor Vicente é a mais tradicional e conceituada. A hospedaria fica num casarão bicentenário no centro histórico que foi totalmente reformado. Móveis rústicos, traços coloniais e pinturas gigantes que retratam a história da cidade harmonizam com o moderno e o conforto. Todos os quartos têm wifi, ar condicionado, frigobar, cama box queen e TV, e alguns ainda contam com hidromassagem. A diária na suíte com hidro sai a R$ 290 o casal, incluso café da manhã.

Se o turista preferir um lugar mais afastado, a opção é o Hotel Fazenda Santa Felicidade, que fica no alto da serra, a menos de dois 2km da cidade. São 24 apartamentos e sete chalés, com quadra de tênis, futsal, pista de caminhada, salão de jogos, sauna, piscina e bar molhado. A diária para o casal fica em R$ 420; o pacote de sexta a domingo custa R$ 680, com café, almoço e jantar.


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