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24/09/2017 às 05h15min - Atualizada em 24/09/2017 às 05h15min

Por ano, 11 mil pessoas tiram a própria vida, aponta governo

Ministério da Saúde divulgou dados como parte do Setembro Amarelo

VINÍCIUS ROMARIO* | REPÓRTER
Divulgação faz parte das ações do Setembro Amarelo / Foto: José Cruz/Agência Brasil

 

Cerca de 11 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos no Brasil. De acordo com o primeiro boletim epidemiológico sobre suicídio, divulgado na última quinta-feira (21) pelo Ministério da Saúde, entre 2011 e 2016, 62.804 pessoas tiraram suas próprias vidas no País. Do total, 79% delas são homens e 21% são mulheres. A divulgação faz parte das ações do Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção ao suicídio. 

A taxa de mortalidade por suicídio entre os homens foi quatro vezes maior que a das mulheres, entre 2011 e 2015. São 8,7 suicídios de homens e 2,4 de mulheres por 100 mil habitantes.

Para a diretora do Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos Não-Transmissíveis e Promoção da Saúde do Ministério da Saúde, Fátima Marinho, esse número é maior, pois há uma perda de diagnóstico dos casos de suicídio. Segundo ela, nas classes sociais mais altas há um tabu sobre o tema, questões relacionadas a seguros de vida e diagnósticos feitos por médicos da família. “As pessoas mais pobres, em geral, captamos a morte porque ele vai pro IML [Instituto Médico Legal]”, explicou.

Das 1,2 milhão de mortes, em 2015, 17% tiveram causa externa. Dessas 40% são registradas por causas não determinadas, segundo Fátima. “Ainda tem 6% de mortes que ainda não conseguimos chegar na causa. São cerca de 10 mil mortes que foram por causa externa, violenta, mas não sabe-se porquê. Por isso temos esse subdiagnóstico do suicídio”, disse.

No Brasil, os idosos, de 70 anos ou mais, apresentaram as maiores taxas, com 8,9 suicídios para cada 100 mil habitantes, mas, segundo Fátima, em números absolutos, a população idosa vem aumentando. Além disso, eles sofrem mais com doenças crônicas, depressão e abandono familiar. Ela explica que esse índice alto de suicídio entre idosos é observado no mundo todo.

Os dados apontam que 62% dos suicídios foram causados por enforcamento. Entre os outros meios utilizados estão intoxicação e arma de fogo. Fátima conta que nos Estados Unidos são registrados mais suicídios por armas de fogo porque o acesso é mais facilitado.

A proporção de óbitos por suicídio também foi maior entre as pessoas que não têm um relacionamento conjugal, 60,4% são solteiras, viúvas ou divorciadas e 31,5% estão casadas ou em união estável. “E os homens casados se suicidam menos. O casamento é um fator de proteção para os homens e de risco para as mulheres”, disse Fátima, explicando que existe uma associação das tentativas de suicídio das mulheres com a violência intradomiciliar. Ela compara que as mulheres tentam mais e, por outro lado, os homens anunciam menos, mas são os que mais morrem por suicídio.

A cada 100 mil habitantes são registrados 15,2 mortes por suicídio entre indígenas; 5,9 entre brancos; 4,7 entre negros; e 2,4 mortes entre os amarelos.

 

TENTATIVAS

As notificações de lesões autoprovocadas tornaram-se obrigatórias a partir de 2011 e elas seguem aumentando. Entre 2011 e 2016, foram notificadas 176.226 lesões autoprovocadas; 27,4% delas, ou seja, 48.204 foram tentativas de suicídio.

As tentativas de suicídios são mais frequentes em mulheres. Das 48.204 pessoas que tentaram tirar a própria vida entre 2011 e 2016, 69% era mulheres e 31%, homens. A proporção de tentativas de suicídio, de caráter repetitivo também é maior entre as mulheres. Entre 2011 e 2016, daqueles que tentaram suicídio mais de uma vez, 31,3% são mulheres e 26,4 são homens.

O meio mais utilizado nas tentativas de suicídio foi por envenenamento, 58%. Seguido de objeto pérfuro-cortante, 6,5%; enforcamento, 5,8%.


DIAGNÓSTICO 

Causas são diversas e tratamento, individual

Conforme o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, entre os fatores de risco para o suicídio estão transtornos mentais, como depressão, alcoolismo, esquizofrenia; questões sociodemográficas, como isolamento social; psicológicas, como perdas recentes; e condições incapacitantes, como lesões desfigurantes, dor crônica e neoplasias malignas. No entanto, a pasta ressalta que tais aspectos não podem ser considerados de forma isolada e cada caso deve ser tratado de forma individual.

Outro aspecto a ser considerado, desta vez segundo o psiquiatra Bruno Caetano, de Uberlândia, é a desmistificação de questões sobre autoextermínio, como as barreiras em falar sobre o assunto. “Muita gente pensa que tratar abertamente sobre o suicídio pode incentivar quem tem esse pensamento, mas, se não for por meio da conversa, como saberemos os desejos das pessoas?”, questiona o médico. 

Ainda de acordo com ele, é importante que a família tenha envolvimento quando souber que algum parente passa por uma situação como a depressão. “O principal fator de ajuda é tratar os doentes. Atualmente existem remédios que, bem indicados, ajudam muito a quem precisa”, disse Caetano.

Outro ponto apresentado por ele faz relação às ameaças. “Quando dizem: ‘esse aí fica ameaçando se matar para chamar a atenção da família’. Claro que existe quem faça isso, mas é preciso analisar se essas falas ou ameaças são verdadeiras, pois, em um ato de impulso, a pessoa pode realmente acabar se matando”, alerta o psiquiatra. 

 

ASSISTÊNCIA

Segundo o Ministério da Saúde, a existência de um Centro de Atenção Psicossocial (Caps) no município reduz em 14% o risco de suicídio. Na análise feita, é o único fator de proteção ao suicídio. A diretora do Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos Não-Transmissíveis e Promoção da Saúde do Ministério da Saúde, Fátima Marinho, ressalta, entretanto, que é preciso uma melhor distribuição desses centros, principalmente nas áreas com mais concentração de suicídios. Existem hoje no Brasil 2.463 Caps em funcionamento.

Em Uberlândia, são cinco Caps, mas, segundo Waleska Rodrigues, que trabalha no apoio técnico da Coordenação de Saúde Mental do Município, o atendimento a pessoas com problemas mentais começa já nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs). “Temos os profissionais preparados para esses atendimentos, que, após a primeira avalição, saberão informar se aquela pessoa pode ser acompanhada à distância e com apoio da família ou se já precisa de internação”, afirmou a profissional.

 

AGENDA GLOBAL

Meta é reduzir taxa em 10% até 2020

Mais de 800 mil pessoas tiram a própria vida por ano no mundo. Por isso, em 2013, a Organização Mundial da Saúde desenvolveu um plano de ações em saúde mental que pretende reduzir em 10% da taxa de suicídio até 2020.

O coordenador de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas do Ministério da Saúde, Quirino Cordeiro, disse que o governo promovia ações na área de prevenção ao suicídio, mas agora que está começando a fazer uma política focada no tema. Uma das ações estratégicas é a construção do Plano Nacional de Prevenção ao Suicídio, para ampliar as ações para as populações vulneráveis.

Segundo ele, o Ministério da Saúde quer expandir a rede de CAPS, inclusive entre a população indígena, além de outras estratégias de cuidados na saúde mental. É importante ainda cruzar os mapas para identificar possíveis associações de causas de suicídios, como a associação com pesticidas. Outros órgãos e ministérios serão convidados para apoiar futuras ações.

 

ACORDO COM O CVV

O Ministério da Saúde, desde 2015, tem uma parceria com o Centro de Valorização da Vida (CVV), que começou com um projeto-piloto no Rio Grande do Sul. O CVV realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail, chat e voip 24 horas todos os dias.

O objetivo da parceria é ampliar gradualmente a gratuidade de ligações para o CVV, mesmo que por celular, por meio do número 188. Além do Rio Grande do Sul, a partir de 1º de outubro, pessoas de mais oito estados poderão ligar gratuitamente para o serviço: Acre, Amapá, Mato Grosso do Sul, Piauí, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Rondônia e Roraima.

De acordo com o Ministério da Saúde, 21% da população brasileira reside nos nove estados a serem atendidos gratuitamente pelo CVV, o que garante uma ampla cobertura. O acordo já ampliou o número de atendimentos, de 4,5 mil em setembro de 2015, para 58,8 mil em agosto de 2017. Até 2020 todo o território nacional poderá contar com o atendimento pelo 188.

No restante dos estados, o CVV ainda atende pelo número 141 ou diretamente no posto regional. Em cidades sem posto de atendimento do CVV, como é o caso de Uberlândia, as pessoas podem utilizar o atendimento por chat, skype e e-mail disponíveis na página do CVV: www.cvv.org.br/postos-de-atendimento/.

 

DADOS

- Cerca de 11 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos no Brasil

- 79% homens
- 21% mulheres

- São 8,7 suicídios de homens e 2,4 de mulheres por 100 mil habitantes

- Entre 2011 e 2016, foram notificadas 176.226 lesões autoprovocadas 

27,4% delas foram tentativas de suicídio

 

Tentativas

Das 48.204 pessoas que tentaram tirar a própria vida entre 2011 e 2016

69% eram mulheres 
31% eram homens

Entre 2011 e 2016, daqueles que tentaram suicídio mais de uma vez, 31,3% são mulheres e 26,4 são homens

(*) Com dados da Agência Brasil


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