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10/09/2017 às 05h58min - Atualizada em 10/09/2017 às 05h58min

Intrigantes questionamentos da arte

Exposição 'Narrativas do Invisível', em cartaz em São Paulo, tem dois uberlandenses entre os selecionados

ADREANA OLIVEIRA | EDITORA
“Sistema Circulatório”, de Anaisa Franco, uberlandense radicada em São Paulo, na mostra “Narrativas do invisível” / Foto: Divulgação

 

Os caminhos de Yuji Martins Kodato(MG), Gabriela Bílá (DF), Anaisa Franco (MG), Solon Ribeiro (CE) e Luiz Netto (PE) cruzaram-se por meio da arte. Yuji é artista audiovisual uberlandense, Gabriela é uma arquiteta de Brasília. A artista plástica Anaisa nasceu em Uberlândia e mora em São Paulo, Solon é artista plástico e Luiz é fotógrafo. E mesmo sem uma conversa travada, as obras deles dialogam entre si. Em comum, eles tiveram projetos aprovados no Rumos do Itaú Cultural, edição 2015-2016 e entre os 117 contemplados estão entre os 12 selecionados para a mostra “Narrativas do Invisível”, em cartaz até novembro.

Eles trazem inquietações do passado, do presente e trazem o futuro para diante dos olhos dos espectadores. Gabriela Bílá estava atenta aos blocos de seu Mundo Mosaico em 35 maquetes, que faz parte da instalação “Teleport City – A arte como veículo do tempo”. Um dia antes da abertura da exposição, ela construía sua cidade possível. O que seria somente um projeto de conclusão do curso de Arquitetura e Urbanismo ganhou status de obra de arte, algo que tomou quase dois anos do tempo da arquiteta e também artista.

“Aqui as pessoas interagem com a instalação e o teletransporte é possível. No Mundo Mosaico você tira parte do bloco de uma cidade e o transporta para outro e, dessa forma, a pessoa viaja sem sair do lugar”, explica Gabriela ao mostrar o trabalho a jornalistas. 

Para a curadora da mostra, Galiana Brasil, a intenção do Itaú Cultural é levar essas obras para um número cada vez maior de pessoas. “A acessibilidade também é um ponto que estamos trabalhando incansavelmente”, disse. A mostra conta com recursos como interpretação em Libras (Língua Brasileira de Sinais), audiodescrição, textos em braille e réplicas táteis de obras.

Enquanto Gabriela teletransporta seus espectadores, em “São Francisco Submerso” Luiz Netto os leva para o fundo do rio São Francisco para lições do passado que não devem ser esquecidas. Em um projeto iniciado em 2012 e coordenado por ele, o fotógrafo tem registrado e mapeado as ruínas de cidades inundadas por conta da construção de usinas hidrelétricas nas regiões por onde corre o rio São Francisco. Com apoio do Rumos, eles registraram trechos dos municípios de Itacuruba (PE) e Rodelas (BA). O público tem  acesso a imagens de algo que parece muito longe de sua realidade.

Em “O golpe do corte” ,Solon Ribeiro faz uma viagem por um rico acervo de mais de 30 mil fotogramas iniciado por seu avô, Ubaldo Uberaba Solon, que foi proprietário de um cinema na região de Cariri (CE). Agora catalogada e digitalizada, a coleção está disponível pelo site.

 

VOO

Anaisa Franco aposta na arte pública interativa

Anaisa Franco nasceu em Uberlândia, cidade que visita frequentemente. Estudou artes desde de a infância na Escola Casa de Ideias, do artista plástico Alexandre França. Aos 17 anos foi morar em Londres para estudar e logo depois cursou Artes Plásticas na Faap (SP). Fez mestrado na Inglaterra em 2007 e desde então morou em vários países trabalhando, como Espanha, Alemanha, França, Taiwan, Austrália e Estados Unidos. Atualmente mora em São Paulo.

Há alguns anos ela fez um curso de curso de pilotagem de avião privado. Sempre a fascinou investigar as rotas tão precisas e invisíveis da circulação dos aviões na atmosfera. “Ficava imaginando: ‘quantos aviões estão voando agora?’ ‘Quantas pessoas são deslocadas de seus pa- íses de origem para outra cultura totalmente diferente?’ O mundo está totalmente conectado, produzindo relações internacionais intelectualmente, culturalmente, economicamente e emocionalmente”, explica ela, que a partir daí criou o “Sistema Circulatório”, contemplado no Rumos do Itaú Cultural e selecionado para a mostra “Narrativas do invisível”.

Segundo a artista, o projeto trata da reflexão entre o macro, a atmosfera circulatória do planeta e o micro, o sistema circulatório humano. Ela trouxe o planeta e sua atmosfera para uma sala de exposição, sendo possível visualizar os dados aéreos em uma escala humana através da produção de um software generativo que exibe graficamente o tráfego aéreo em todo o mundo em uma animação de linhas que desenham os pontos de partida e chegada de todos os aviões em movimento no planeta. O software é projetado sobre uma bola de 2 m de diâmetro, utilizando 6 projetores.

Pelo seu portfolio percebe-se que a artista busca criar obras que expandem os sentidos humanos, desenvolvendo interfaces que interligam o físico com o digital. “A interatividade é uma ferramenta utilizada para atingir meus conceitos para cada projeto. Me interesso em criar obras em diversas escalas, tendo uma fascinação principal por arte pública interativa, utilizando novos materiais e pesquisa em tecnologia”, disse ela, que utiliza conceitos da psicologia, das ciências cognitivas e dos universos oníricos e tem um trabalho que engloba uma pesquisa prática, que implica um constante processo de experimentação com novos materiais e fabricação digital, para chegar em uma “situação afetiva”.

Para Anaísa, para um artista plástico conseguir atenção dos expectadores para sua arte é preciso, primeiramente, construir uma obra onde os conceitos relacionam com a vida diária das pessoas e proporcionar uma experiência em que eleve o momento presente do espectador, mostrando o mundo de uma outra maneira.

 

MACROFOTOGRAFIA

Arte de Yuji Kodato é uma questão de pele

O artista audiovisual uberlandense Yuji Martins Kodato representa a cidade com seu “Territórios corporais”, projeto contemplado no Rumos do Itaú Cultural edição 2015-2016.

As macrofotografias transformam-se em uma paisagem que apesar de parecer indefinida mostra a beleza das diferenças. O artista trabalha muito bem as possibilidades da macrofotografia no seu questionamento do que é um corpo.

Na instalação, além do painel das fotos há tecidos estampados com algumas das imagens que demonstram leveza. A obra é uma das que contem réplicas táteis para apreciação pelos cegos e pessoas de baixa visão.

Nas palavras do próprio Kodato, as imagens que trazem uma confluência entre o belo e o feio, gerando sentimentos que variam do asco/repulsa ao encantamento/curiosidade, retratam ao mesmo tempo: pessoais e universais, familiares e estranhos, que oferecem outras maneiras de ver, perceber e indagar o corpo.


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