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01/09/2017 às 18h39min - Atualizada em 01/09/2017 às 18h39min

Brasil se destaca na luta contra o vício em cigarros

País reduziu casos de doenças relacionadas ao fumo, mas questão preocupa

DA REDAÇÃO
Previsão para 2030 é que mais de 8 milhões de pessoas morram por doenças causadas pelo fumo / Foto: USP Imagens/Divulgação

 

O Brasil é um dos oito países que atingiram quatro metas ou mais, recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), para reduzir doenças e mortes relacionadas ao tabaco (MPOWER). A informação vem do relatório "Who report on the global tobacco epidemic, 2017" divulgado pela entidade, em julho deste ano.

Entre 1990 e 2015, a porcentagem de brasileiros fumantes diários caiu de 29% para 12% entre homens e de 19% para 8% entre as mulheres. Números de pesquisa conduzida pelo Ministério da Saúde indicam uma queda de 35% do tabagismo entre 2006 e 2016. E um novo levantamento indica também uma queda do fumo passivo no ambiente doméstico. Em oito anos, a queda foi de 42%, passando de 12,7% em 2009 para 7,3% em 2016.

Apesar das estatísticas nacionais trazerem esperança, ainda é preciso muita conscientização: o Brasil ocupa o oitavo lugar no ranking de número absoluto de fumantes.

De acordo a OMS, o número de mortes provocadas pelo consumo de cigarro aumentou de 4 milhões, no início do século, para mais de 7 milhões. Se não houver nenhuma mudança de cenário, a previsão para 2030 é que mais de 8 milhões de pessoas morram por doenças causadas pelo fumo.

Para alertar a população sobre os danos causados pelo cigarro, 29 de agosto foi escolhido como Dia Nacional de Combate ao Fumo. "O hábito de fumar é considerado a principal causa isolada evitável de adoecimento e mortes precoces em todo o mundo", lembra o médico cardiologista e diretor de Relacionamento com o Mercado do Sabin, Anderson Rodrigues. Além do cigarro ser perigoso por si só, o fumo é um fator de risco que pode agravar outras doenças como infertilidade masculina e feminina, osteoporose e catarata, explica o médico.

O tabagismo é conhecido como uma doença epidêmica que gera dependência física, psicológica e comportamental. A nicotina, presente nos cigarros, é a causa da dependência, e pode ser comparada a drogas como cocaína e heroína. Os resíduos de tabaco contêm mais de 7 mil substâncias químicas tóxicas, cerca de 43 são substâncias cancerígenas. Por conta dos seus componentes, o fumo é a causa de 50 doenças, entre elas o câncer, doenças cardiovasculares e respiratórias.

 

TAXAÇÃO

Ministro da Saúde defende aumento dos preços

No Dia Nacional de Combate ao Fumo, lembrado na última terça-feira, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, defendeu o aumento dos preços de cigarros como uma medida para se tentar controlar o tabagismo no país. A pasta trabalha com um cenário de uma majoração de 50%. Além da elevação dos preços, Barros disse ser favorável a uma mudança nas embalagens do produto, consideradas como uma alternativa da indústria para propaganda. A ideia, que há tempos está em avaliação na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é adotar embalagens genéricas, padronizadas para todas as marcas.

Recomendada pela Organização Mundial da Saúde, a elevação de preços de cigarros no Brasil conta com uma dura resistência, sobretudo de produtores que afirmam que a medida poderia levar ao aumento do contrabando. A pesquisadora do Instituto Nacional do Câncer, Tânia Cavalcanti, no entanto, argumenta que todos os cigarros, sejam eles legais ou contrabandeados, fazem mal à saúde. E que a elevação do preço traria, sim, uma redução do consumo. Tânia argumenta ainda que o Brasil tem uma lição de casa a fazer: ratificar o protocolo para erradicar o mercado ilegal. A proposta aguarda a avaliação no Congresso Nacional.

O ministro da Saúde admitiu que um eventual aumento de preços poderia provocar o aumento do contrabando. Medidas para tentar reduzir esse risco, afirmou, estão em análise por um grupo do Mercosul. Os resultados obtidos até o momento, no entanto, não são animadores. Na última reunião entre ministros da Saúde do bloco para discutir o tema, afirmou, não houve consenso.

Projeções feitas pelo Ministério da Saúde indicam que uma eventual alta de 50% no preço dos cigarros poderia evitar em 10 anos 136,5 mil mortes, 507 mil enfartes do miocárdio, 100 mil acidentes vasculares cerebrais e 64 mil cânceres. "Economizaríamos com saúde", disse Barros.

 

ECONOMIA

Parar de fumar pode render R$ 293 mil em 20 anos

Além dos benefícios à saúde, parar de fumar um maço de cigarro por dia, economizar e investir pode gerar reserva de mais de R$ 1 milhão (R$ 1.028.274,92) em 30 anos. A informação é de Reinaldo Domingos, doutor em educação financeira e presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin).

Segundo o especialista, a conta é simples. Se um maço custa em torno de R$ 8, um fumante que consome um maço de cigarro por dia gastará a mais, por mês, R$ 240. “Esse aumento de custo no orçamento mensal das pessoas com certeza fará com que muitos repensem sobre a importância de acabar com esse vício.”

Se deixar de fumar e investir esse valor (R$ 240/mês) em uma poupança, por exemplo, ao final de 10 anos, a pessoa terá R$ 63.291,18 e, ao final de 20 anos, terá R$ 293.901,45. “Isso sem que contemos os gastos que um fumante terá nesse período com problemas de saúde ocasionado pelo cigarro e com a perda de rendimento no trabalho em função do cansaço que esse vício proporciona”, afirma Domingos.

 

TRATAMENTO

Auxílio médico é fundamental, indica pneumologista

São várias as formas e etapas para que o tratamento contra o tabagismo tenha algum resultado satisfatório. Segundo o pneumologista Fernando Dirceu Rabelo, do Hospital Santa Clara, o principal é com o auxílio médico. “É necessário uma avaliação clínica do fumante para primeiramente identificar os sintomas que levem a suspeitas de alguma doença relacionada ao tabaco. Depois, é indicada uma avaliação histórica relacionada ao tabagismo para entender as características atuais e pregressas do cigarro no paciente”, afirma o médico.

Outros passos importantes para combater o fumo envolvem: avaliar o grau de dependência da nicotina no fumante, realizada através de um questionário chamado Teste de Fargerstom (quanto maior o score maior será a dependência), analisar a motivação do indivíduo frente à ideia de cessar o tabagismo e realizar aconselhamentos e tratamentos farmacológicos.

Uma das formas bastante procuradas para parar de fumar é a reposição de nicotina através de outros mecanismos. “No Brasil temos os adesivos dosimetrados de nicotina. Há também as gomas de mascar e spray nasal de nicotina”, esclarece o pneumologista.

Medicamentos também podem ser indicados em alguns casos, como o tartarato de vareniclina - um anti-nicotínico que age bloqueando os receptores alfa4-beta 2 no cérebro – e o cloridrato de bupropiona - remédio antidepressivo que melhora a síndrome de abstinência, bloqueando a receptação de dopamina em locais específicos do cérebro. “Estes tratamentos podem feitos de forma isolada ou combinadas, dependendo dos dados relativos ao paciente”, esclarece o médico.


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