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02/07/2017 às 05h07min - Atualizada em 02/07/2017 às 05h07min

Um recanto atemporal em meio ao caos

Além das exposições programadas, a Casa da Cultura em si já é uma atração cultural de Uberlândia

ADREANA OLIVEIRA | EDITORA
A bela fachada da Casa da Cultura, construída para ser a casa do Coronel Eduardo Marquez / Foto: Secom/PMU

 

As manhãs e tardes no centro e no bairro Fundinho, em Uberlândia, não são muito diferentes. O trânsito pesado, grande número de pessoas circulando, buzinas, barulho de escapamentos e todos os sons urbanos preenchem o espaço. Porém, em meio a este pequeno caos do dia a dia há um espaço que se destaca como um recanto em meio ao burburinho.

O prédio da Casa da Cultura abriga exposições programadas durante todo o ano, porém, o prédio, por si só, já é uma atração cultural digna dos visitantes predispostos a darem um tempo na correria durante a semana e uma chance ao conhecimento histórico.

Construída entre os anos de 1922 e 1924, a bela casa foi a moradia do Coronel Eduardo Marquez. Ele, que foi intendente municipal (posto semelhante a prefeito) entre os anos de 1923 a 1926, trouxe a inspiração de casas que gostava em São Paulo. “Esse prédio já tem mais de 80 anos de história, foi construído por uma família abastada e de bom gosto. Tem na sua edificação telhas trazidas da França, paredes duplas e os lustres eram de cristal”, conta Valéria Maria Queiroz Cavalcante Lopes, Coordenadora da Casa da Cultura e Diretora de Memória e Patrimônio Histórico.

Ela afirma que, segundo informações da família, o Coronel Eduardo Marquez era uma pessoa muito vaidosa e não chegou a viver muito tempo na casa. Em 1932 o coronel vendeu o imóvel para o João de Oliveira Guimarães, que em 1936 a vendeu ao doutor Laerte Vieira Gonçalves. “Nessa época aqui funcionou um hospital, por isso foram feitas algumas modificações, onde hoje temos uma galeria era um centro cirúrgico”, diz Valéria. 

Outra curiosidade: depois de sediar um hospital, em 1961 o imóvel foi alugado para ser uma Delegacia Regional de Polícia. E vieram novas alterações. “Temos um cômodo no andar de baixo que ainda tem as grades em todas as janelas. Com certeza foi uma cela. Sempre contamos essa história para as crianças nas nossas visitas guiadas, elas ficam muito curiosas”, disse a coordenadora.

Em 1970, a Delegacia foi transferida de endereço e a casa ficou por um período sem função definida até que em 1972 abrigou a Superintendência Regional da Fazenda. Por meio do decreto 16.985, em 1975 o imóvel foi desapropriado pelo Estado. “Em 1983 foi criada a Secretaria Municipal de Cultural e a prefeitura solicitou ao Estado a doação do imóvel para sediar a Casa da Cultura, o que concretizou-se por meio do projeto de Lei 8541/84”, conta Valéria.

Junto com o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha), a prefeitura iniciou a restauração do prédio e recuperou alguns de seus elementos originais, como a pintura, ornamentos parietais e lustres. Foram removidas algumas estruturas que foram adaptadas em seu espaço interno. As atividades de restauração foram concluídas em 1985, quando foi finalmente inaugurada a Casa da Cultura com o propósito de ser um centro cultural de realização de oficinas, projeções de filmes, dança, atividades culturais, palestras e exposições.

Após um período inativo até 1995, outras duas intervenções foram feitas entre este ano e 2006. Na primeira etapa da reforma, foram feitas recuperação de portas e janelas, o recondicionamento do piso de tábua do pavimento superior e a reconstrução da escada de mármore da entrada principal. A segunda etapa concluiu a execução de instalações elétricas e do projeto de iluminação de emergência, e detalhes finais da reforma.

O prédio da Casa da Cultura é patrimônio histórico, cultural e arquitetônico tombado da cidade de Uberlândia.

 

ATRAÇÕES

Diversidade na programação é um dos atrativos 

Geralmente, a Casa da Cultura trabalha com até três exposições simultâneas em seus diferentes espaços. Atualmente na Sala de Experimentações Visuais está a exposição “Xilogravuras”, de Henrique Lemes, artista uberlandense radicado na Alemanha, com produções dos anos 90. Na Galeria Geraldo Queiroz estão expostos os quadros da série “Cenários e Faces”, com telas de Marcos Caixeta e Renato Dalla Líbero.

Em outra sala, uma exposição de longa duração conta a história do início do rádio em Uberlândia. Por alguns instantes é como se estivéssemos em outra época. “Temos um público muito variado de visitantes e visitas orientadas para escolas. Fazemos uma triagem das propostas recebidas e convidamos alguns artistas para as exposições”, explica Ludmila Lobo, diretora de artes integradas.

Além de artistas plásticos consagrados, artesãos têm seu espaço, como o autodidata Edward Moura, que fez sua primeira exposição no mês passado naquele espaço. “Foi muito gratificante ter minha primeira exposição em um lugar todo voltado para a cultura”, disse ele que produz miniaturas de prédios antigos.

Segundo Ludmila, o setor de artes em Uberlândia é forte. “Temos a faculdade de Artes da UFU que sempre coloca bons e novos profissionais no mercado, é um nicho muito bom. E ainda contamos com artesãos que mesmo sem certificação fazem um trabalho que merece ser mais visto. Não importa se é certificado ou não, nossa seleção é pela qualidade do trabalho”, reforça a diretora.

O espaço também recebe recitais de canto e piano, lançamento de livros e debates pontuais.


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