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13/06/2017 às 05h55min - Atualizada em 13/06/2017 às 05h55min

Daniel Moreira expõe fotos no Sesc

O fotógrafo mineiro mostra sua visão da vida longe dos grandes centros em exposição

ADREANA OLIVEIRA | EDITORA
Daniel Moreira faz suas viagens de carro e para nas periferias das cidades, que são fontes de suas pesquisas / Foto: Daniel Moreira/Divulgação

 

É a vida no ano 2017: nem tudo que você olha você enxerga. Aliás, nem para frente mais as pessoas têm olhado. Imersas em seus smartphones passam e deixam a vida passar por seus caminhos sem se dar conta do que tem por ali. O mineiro Daniel Moreira vem de um longo período de observação das margens das cidades, as áreas longe dos centros urbanos, e traz na exposição “Desencanto” sua visão da vida nesses locais em um trabalho atemporal, em cartaz na Mostra de Artes Visuais do Sesc Uberlândia.

Daniel Moreira é comunicador por formação e seus registros, feitos na maioria com equipamento analógico e publicados em preto e branco, não têm um valor somente documental para ele. “Trabalho muito o imaginário também. Os temas que abordo não são somente aqueles que quero retratar, eu quero mostrar um mundo diferente do que o visitante da exposição está acostumado a ver”, afirma o artista.

As fotos selecionadas para a exposição têm o olhar voltado para parques de diversões em ambientes periféricos de grandes centros comerciais, nos quais são vistos em momentos de não funcionamento, quase desabitados. Essa exposição é um desdobramento de outra, “Paisagem Ambulante 381”, que teve início em 2010. “Esses registros foram feitos ao longo da Rodovia MG-381, por onde eu viajei regularmente durante cinco anos pelo mesmo trecho. A reconfiguração dessas paisagens e as mudanças que elas implicam na sociedade é o que me chamou atenção” explica Daniel.

O artista costuma fazer suas viagens de carro. Para ele, pegar um vôo de uma cidade para a outra é outro tipo de experiência. “Acho agressivo a pessoa ir de um aeroporto ao outro e dizer que conheceu outra cidade. De repente só chega lá, faz umas fotos e vai embora. Isso não é conhecer uma cidade. Para conhecer a cidade você tem que se afastar do seu centro mais populoso. Eu observei, por exemplo, os ambulantes e a interação deles com o ambiente. São pessoas praticamente invisíveis para a sociedade. Nessa visão que eu proponho, tem um recorte de um mundo abandonado, solitário”, comenta.

 

PESQUISA

Espaços vazios e desconhecidos chamam atenção 

Durante suas viagens constantes, Daniel Moreira, natural de Belo Horizonte, vê as transformações que não começaram hoje. Há, em seus registros, espaços vazios desconhecidos que não percebemos. A placa derrubada pelo vento, o circo desativado, o garoto encostado em pneus. A escolha do preto e branco, a luz e a edição tornam difícil determinar uma data para os registros e era exatamente essa a ideia do fotógrafo.

“Quero deslocar o olhar das pessoas do centro comum. Ao conhecer realmente um lugar o sentimento de pertencimento é diferente. Hoje em dia as pessoas não se importam em olhar para os lados, em ver outras realidades, mal olham para frente com essa mania coletiva de estar conectado a um smartphone o tempo todo”, diz Daniel.

Outro ponto forte em suas fotos é a questão do quanto a diversão está cada vez mais ligada ao consumo. Os parques de diversão, que recebiam os pais de família que saiam do trabalho e levavam seus filhos para se divertirem com um ingresso barato e entretenimento acessível, quase não existem mais nas periferias. “As opções de diversão estão cada vez mais ligadas a conglomerados como shopping centers, o que restringe o acesso. Há algumas décadas se a pessoa comprava uma TV, pagava. Depois, comprava um carro e pagava. Agora parece que tudo que a maioria das pessoas compra está ligada a uma dívida eterna. Para ter um telefone celular bom você precisa pagar um plano, para uma TV maior divide o valor em várias prestações. Isso me incomoda, a ligação do entretenimento, da diversão ao poder aquisitivo, ao consumismo”, revela.

Para Daniel, parte do trabalho do artista é trazer esse recorte que ele tem de mundo e devolver para o seu público, tentando despertar algo. Ele explica que, quanto mais se pensa no futuro, mais se esquece do passado, outro erro recorrente de uma sociedade que registra cada vez mais e aproveita cada vez menos.

 

MOSTRA

O projeto Mostra de Artes Visuais do Sesc tem o objetivo de valorizar artistas em construção de portfólio e emergentes. Com essa iniciativa, a instituição busca apoiar e reconhecer o trabalho de profissionais das artes visuais residentes no estado e que contribuem com reflexões sobre o tempo atual. As visitações são sempre gratuitas e contam com atividades educativas.

 


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