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13/03/2017 às 08h55min - Atualizada em 13/03/2017 às 08h55min

40 anos da Eseba são apenas o começo

Instituição valoriza a educação construída de forma coletiva

ADREANA OLIVEIRA | EDITORA
O diretor André Sabino e Juliene Madureira nos corredores da Eseba/ ADREANA OLIVEIRA

Em 1º de março deste ano completou-se 40 anos de fundação da Escola de Educação Básica (Eseba) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Na época, a universidade ainda não havia sido federalizada e a escola abriu as portas para seus primeiros 30 alunos como Escola Pré-Fundamental Nossa Casinha. Em 2016, o complexo, hoje com aproximadamente mil alunos (considerando a Educação de Jovens e Adultos – EJA – parceria com IFMT), recebeu 6.114 inscrições. Dessas, 1.207 para as 60 vagas de ingresso para crianças a partir dos 3 anos de idade, o que dá uma média de pouco mais de 20 candidatos por vaga.

No início da semana a reportagem do Diário do Comércio foi até a Eseba conversar com o diretor, André Sabino, para saber o que faz da escola uma referência na cidade quando o assunto é educação pública de qualidade. Por conta de uma greve no ano passado, a instituição terminou recentemente o ano letivo de 2016 e inicia o de 2017 no próximo dia 23. E mesmo nesse fim de semestre, o prédio estava cheio. As comemorações pelos 40 anos seguirão até dezembro e começaram na semana passada com um almoço entre um almoço para técnicos, docentes, aposentados da escola.

“A partir de agora fazemos os projetos envolvendo os alunos. Há algumas propostas já pré-elaboradas como transformar o muro da escola em um grande painel dos 40 anos que vai ser realizado em parceria entre docentes e alunos. Queremos trazer mais a comunidade para dentro da escola nessa comemoração”, afirma André Sabino.

Para o diretor, os 40 anos são marcados por alegria, mas também por muita responsabilidade e ele credita o sucesso da Eseba a uma proposta de educação baseada em fortes pilares para sustentarem o projeto político pedagógico. “Alcançamos uma escala regional. Temos alunos de outras cidades que fazem a inscrição aqui mesmo nas séries finais do ensino fundamental onde temos vagas de reserva. Nosso primeiro pilar é sermos um colégio de aplicação. Há 17 dessas no país. Estamos dentro de um conjunto de escolas ligados a instituições federais de ensino superior com o objetivo de pensar uma escola cuja inovação didático-pedagógica é a principal diretriz. Aliados a isso temos também a formação de professores”, explica.

O projeto pedagógico é construído coletivamente. Os 83 docentes têm carga horária de 40 horas de dedicação exclusiva, são concursados. Desses, 40 são doutores e 36 são mestres. “Eles não só ensinam, não são só professores que vão para a sala de aula efetivamente dar aula. Eles são professores que se envolvem diretamente com o ensino e também com a pesquisa, com a extensão”, comenta o diretor citando os tripés da universidade: ensino, pesquisa e extensão. Aliado a isso há a questão da gestão. Todos somos professores, mas também ocupamos cargo de gestão. Trabalhamos em cinco frentes concomitantemente: Ensino, pesquisa, gestão, representatividade e extensão”, explica.

EXCELÊNCIA

 

A qualidade do corpo docente é um dos fatores que permite ao diretor afirmar que a Eseba é uma escola de excelência respaldados pelas próprias avaliações do governo federal a partir do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). No Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2016 a Eseba teve melhor nota para séries finais do ensino fundamental entre as escolas públicas do município. “Nos indicadores temos índices elevados. Além disso, tem a história dos alunos que vão nos dando as devolutivas. A Eseba atende alunos até o ano do ensino fundamental e muitos saem daqui prontos para ingressar em outras escolas federais, como a IFTM e têm aprovação alta em universidades federais de todo o país”, afirma Sabino.

Ele explica que a preocupação fundamental da escola é a formação humana ancorada na construção de conhecimento que por sua vez tem o rebatimento direto na ampliação do chamado instrumental de reflexão dos alunos. “Trabalhamos muito com as habilidades, com o oficinar, visando com que o aluno construa sua própria competência, a construção do sujeito por ele mesmo”, explica.

 

ESTRUTURA

Instituição tem a concepção da Escola Viva

Ao entrar no prédio da Eseba a primeira sensação é de acolhida. A segunda, vivacidade. Pelas paredes, trabalhos chamam a atenção pelas formas, cores e perspectivas. Segundo o diretor, as salas são bem estruturadas, com conexão à internet, projetores, laboratórios para todas as disciplinas e todos os níveis de ensino. Mas ele reforça que, como a escola alça voos cada vez mais altos é preciso ampliar essa estrutura.

Existe ali a concepção da Escola Viva. Os trabalhos nas paredes não são feitos só no computador. Requerem habilidades escrita, de comunicação, do olhar. Para o diretor, a escola é um aberto não finalizado, construído dia a dia. “Temos uma escola pulsante e aprendente. Pulsa porque o aluno é trazido ao pensamento crítico o tempo todo. A gente desconstrói e reconstrói práticas, conhecimentos e saberes. Aprendente porque como professores pesquisadores a gente aprende o tempo todo. Não só com as pesquisas, mas com as famílias, com os alunos”, disse o diretor.

Para ele, o envolvimento das famílias e da comunidade no entorno da escola são fundamentais para a evolução do ensino. A escola tem comissões como do projeto Projeto Integrar, responsável por integrar a família que faz parte da comunidade. A adesão é significativa. Caminhadas reúnem a comunidade escolar em espaços públicos da cidade.

O projeto incluir é voltado para 39 alunos com deficiência. Com eles, trabalham 20 estagiários, docentes da área de educação especial que fazem a intersecção dessa equipe multidisciplinar com a questão da deficiência. “Nossa proposta é acolher a todos e a cada um na sua especificidade. A questão da inclusão vem junto. Há desafios. A equipe de docentes na área especial é pequena e não temos técnicos. Estamos batalhando junto ao governo federal a ampliação do quadro. Nossa ideia é ter uma escola efetivamente democrática para que todos participem e se alimentem das perspectivas, dos desafios que temos de enfrentar administrando uma escola pública, como outra escola pública qualquer. Dentro das possibilidades que lhe são oferecidas pela UFU e pelo governo federal que são nossos dois mantenedores”, disse Sabino.

Educação

Para André Sabino o conceito de educação é amplo, uma palavra que envolve todos os segmentos da comunidade escolar e da sociedade. “Aqui a gente trabalha com a escolarização. Tem a educação que vem de casa, tem os princípios, o papel da família, o quanto a família possibilita a esse aluno o acesso à leitura, a cultura, teatro, música, espaços públicos de forma geral, como acesso dele as redes sociais hoje onde ele recebe muita informação a mídia traz para a criança muita informação. A educação acontece na sociedade numa forma geral. Na escola vamos transformar principalmente a informação em formação”, afirma.

 

INTERNACIONAL

Parceria possibilita troca de experiências com a Finlândia

Um dos projetos da Eseba reúne um professor das séries finais do ensino fundamental e uma professora da alfabetização inicial que há quase dois anos percorrem o entorno da escola, falam com os moradores e ouvem suas histórias. O projeto faz parte de uma pesquisa feita na Eseba e no colégio de aplicação da Universidade de Tampere, na Finlândia. Um grupo de sete professores de Uberlândia ficaram por uma semana imersos no sistema educacional finlandês. Em contrapartida, a Eseba recebeu seis finlandeses que ficaram imersos no sistema educacional brasileiro. “Queremos renovar esse projeto. Em abril receberemos duas pesquisadoras finlandesas, alunas de pós graduação, que ficarão por dois meses conosco”, conta Sabino.

As finlandesas trabalharão diretamente com a professora Juliene Madureira Ferreira, que acaba de retornar após dois anos de doutorado no país nórdico. A pesquisa-espelho busca uma análise multicultural de dois universos distintos que, apesar das diferenças, têm muito o que aprender entre si. Não se trata de comparar, afinal, são duas realidades bem distintas, é aprender e compartilhar. “Esse foi um projeto piloto que resultou nessa parceria inédita, mas nunca foi algo só meu, não é só o meu doutorado, é algo que envolve muita gente e a análise desses resultados nos levarão a aprender sem querer copiar o sistema deles e vice-versa. Abrimos ali uma porta para todos os alunos de licenciatura da UFU”, afirma Juliene Madureira.

Para ela, algo que se destacou durante sua estadia na Finlândia foi a autonomia do sujeito, que no Brasil precisa ser repensada e também o investimento no professor do ensino fundamental. “Professor da educação básica tem formação, lá você não entra em uma sala de aula se não tiver mestrado. É preciso construir o conhecimento junto, se preparar, se antecipar ao que está por vir”, explica.

 


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