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13/03/2017 às 08h50min - Atualizada em 13/03/2017 às 08h50min

Idosos conectados já somam 5,2 milhões

De acordo com Instituto Locomotiva, nos últimos oitos anos houve aumento de 940% de pessoas acima de 60 anos conectadas

Letícia Petruccelli
Maria Eduarda recebe pedidos de costura pelo WhatsApp e cliente só precisa ir quando roupa está pronta

Há uma década, se alguém dissesse a dona Maria Eduarda Araújo que o celular seria tão fundamental no seu trabalho quanto sua máquina de costura, ela provavelmente teria desconfiado.  Ainda bem que o mundo evoluiu, e ele também. Se antes os clientes precisavam ir duas, três, quatro vezes até sua casa para escolher o modelo, hoje só uma ida basta. Tudo é feito pelo aplicativo. O cliente só tem que chegar e experimentar. “Facilitou minha vida, hoje faço serviços que se não fosse pelo aplicativo, iria ser mais difícil. A pessoa antes tinha que vir aqui, trazer listas de pedidos, agora faço tudo online. Deus me livre ficar desconectada (sic)”, diz a costureira de 77 anos, que disse usar o WhatsApp assim que soube de sua existência.

O caso de “Dona Santa”, como é conhecida pelos clientes, é só um entre milhões de pessoas que incorporaram as redes sociais nos seus afazeres. O interesse de pessoas com mais de 60 anos pelo mundo virtual tem crescido em ritmo acelerado. Pesquisa do Instituto Locomotiva, realizada em 2016, mostra que nos últimos oito anos o crescimento de internautas da terceira idade foi de 940%. Segundo o Instituto, 5,2 milhões de pessoas acima dos 60 anos têm acesso à internet no País.

Para o psicólogo Elias Leite, esse aumento é causado porque a tecnologia já está presente na vida do idoso. “Os filhos, netos, amigos estão conectados. A própria mídia incentiva o uso de aplicativos, nas novelas e filmes todos estão mexendo com alguma tecnologia. Essa proximidade com as pessoas gera interesse. Se o idoso tem um amigo da mesma idade que comprou um smartphone, computador ou tablet, ele também vai querer fazer isso, pois todos nós queremos estar atualizados”, diz.

Mas nem todos conseguem superar os obstáculos de aprender algo novo. Segundo Elias Leite, a dificuldade é causada pelo medo de sair da zona de conforto. “Na medida em que o ser humano vai envelhecendo, vai perdendo um pouco a capacidade de aprendizado. É mais fácil assimilar tudo quando está na adolescência. Mas se o idoso tiver interesse em aprender, ele vai alcançar o desejo. Talvez não se torne um mestre, mas vai conseguir entender como funciona”, diz o psicólogo.

A aposentada Gledes Silva, de 74 anos, conta que ainda não se adaptou a toda essa tecnologia. “Eu nunca quis tentar aprender a mexer nisso, vejo meus netos o tempo todo com o celular pra cima e pra baixo. Eles nem sabem conversar direito pessoalmente, é tudo pelo telefone”, conta Gledes.

Já a aposentada Dalva Maria Marquez, de 67 anos, diz que a neta lhe ensinou a utilizar os aplicativos. “Faço compras pela internet, todas que já fiz foi um sucesso, sempre compro online. A tecnologia é ótima, ajuda a gente a fazer coisas que antes não tinha como. Eu mexo mais no celular, só uso o computador quando minha neta está aqui, pois ela me ajuda”, relata Dalva.

 

Idosos sentem falta dos velhos hábitos

 

Divulgação

Ilcimar Lima passa até 8 horas conectada, mas sente falta das antigas cartas

 

O ser humano tem se acomodado com as tecnologias e, por vezes, esquece como é o mundo fora da rede mundial de computadores. A aposentada Ilcimar Lima Moura, de 63 anos, diz que utiliza constantemente as tecnologias, mas sente falta de alguns costumes de décadas passadas. “Antigamente eu amava escrever cartas, e também recebê-las, era um sentimento mais explícito, verdadeiro. Agora, as declarações feitas nas redes sociais são frias ou ficam parecendo ser muito falsas”, lamenta Ilcimar. “A tecnologia facilita tudo, isso gera muito comodismo. Antes a gente lutava para tudo, agora nem é mais preciso sair de casa, pois até o banco está na palma da mão, ninguém vai mais a locadora, vejo filme pelo celular”, conta Ilcimar, que chega a passar até oito horas conectada.

Para a aposentada Gledes Silva, essas novas ferramentas impendem os jovens de se divertirem. “Quando meus filhos eram novos, eles brincavam na rua até tarde da noite de beti, esconde-esconde, pega-bandeira, queimada, vôlei, futebol. Menina brincava com menino e não tinha problema nenhum, porque eles eram inocentes. Agora todos só ficam jogando pelo telefone, TV ou computador. Essa geração não sabe viver”, brinca dona Gledes. 


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