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01/09/2017 às 17h07min - Atualizada em 01/09/2017 às 17h07min

Cores, sons, cheiros e sabores de uma memória viva

JANINE MARTINS DE CASTRO SANTOS* | LEITORA DO DIÁRIO

Como afirma Fernando Pessoa em Impressões do Crepúsculo, “dobre longínquo de outros sinos”, visitar Martinésia, distrito de Uberlândia, onde nasci, conduz meus pensamentos às festas juninas e novenas na Capela de São João Batista dessa pequena comunidade. A família Martins sentiu-se honrada quando a comunidade atribuiu o nome de seu patriarca à escola de Martinésia, em reconhecimento à doação de um terreno para a sua ampliação.

Professores da zona rural, meus pais, Antonino Martins da Silva e Maria de Paula Silva, incentivaram seus filhos ao amor pela literatura. Indagações várias sugerem quando vêm à minha mente o alvorecer de Uberlândia e o desenrolar da minha vida. Nessa terra amada, vivenciei acontecimentos ímpares durante a infância na rua Barão de Camargos e a adolescência na rua Tenente Virmondes. Minha mãe conduziu com maestria a educação de seus filhos. Uma vida de dedicação, ética e amor.

Durante a minha infância na rua Barão de Camargos, convivi com Renata Mameri; Eleusa, Vilma e Vanda, filhas do sr. Eleusipo Rezende Vieira, que posteriormente loteou sua fazenda dando origem aos bairros Santa Rosa I e II. Aos domingos ia com essa família para essas terras, onde a dra. Dorcas, esposa do sr. Eleusipo, fazia um delicioso chá de folhas de abacate.

Uma rua que possui um significado imenso para mim é a Tenente Virmondes, esquina com a avenida João Pinheiro. Sinceras e eternas amizades estão registradas nesse espaço, como as confidências íntimas com a Laila Cury. Uma convivência agradável havia entre as famílias Martins, Guanabara, Cury, Carata, Rezende, Silva, Ferreira, Testa e Margonari. Ao lado da residência do sr. Paulo Margonari, na avenida João Pinheiro, a lanchonete do sr. Tanaka era a alegria das crianças. Sob a direção de dona Carlota, o Externato São José contribuiu para a formação acadêmica dos jovens dessa região, como médicos, engenheiros e advogados.

Frequentei o Colégio Nossa Senhora das Lágrimas, hoje Colégio Nossa Senhora da Ressurreição. Participei do primeiro corpo docente da Escola Estadual Professora Alice Paes, sob a direção de Helena Jorge.

Na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), trabalhei na Faculdade de Pedagogia com a disciplina Estrutura e Funcionamento do Ensino, atuando em cursos de graduação, como Artes Plásticas, História, Geografia, Matemática, Letras, Educação Física e Psicologia.

Considero o trabalho voluntário edificante, sendo que, em diversos países, este trabalho é valorizado pelas empresas na análise de currículos. A minha participação nas diversas ONGs – Lions Clube de Uberlândia 21 de Abril, Clube Soroptimista Internacional de Uberlândia e Instituto de Artes, Cultura e Ciências do Triângulo (IAT) – visa a contribuir para a realização de atividades dinâmicas e literárias, promovendo o crescimento de jovens e adultos.

Momentos inesquecíveis vivi nos "anos dourados", como assistir a filmes no Cine Uberlândia. Antes do início do filme, olhares recíprocos de admiração surgiam entre as moças e rapazes sobre o traje escolhido, um vestido na moda ou um terno brilhante. E o penteado do saudoso Rolando... Uma alegria imensa sentia ao frequentar o Bar da Mineira e a Confeitaria na Hora. O Uberlândia Clube promovia, antes do Carnaval, o Baile de Máscaras. À meia-noite, o maestro da orquestra avisava que as máscaras deviam ser retiradas e, então, os corações dos jovens enamorados batiam emocionados. Nas festas de Carnaval no Uberlândia Clube, no Praia Clube e na Avenida Afonso Pena, a animação era movida pelo lança-perfume Rodoro, confetes e serpentinas.

O divertimento prioritário dos jovens nessa época: aos domingos de manhã, assistir à missa na Catedral de Santa Terezinha, ir ao Praia Clube e nadar nas piscinas e no rio Uberabinha e praticar outros esportes; à noite, após assistir ao filme das 18h, passear na avenida Afonso Pena. Admirações e o encantamento de surgir uma princesa ou um príncipe. Um olhar doce... Djalma de Castro Santos é o escolhido. Um homem íntegro e pai amoroso dos nossos filhos: Cristiane, advogada; Sérgio Eduardo, professor; e Patrícia, jornalista. Para Goethe, o que passou passou, mas o que passou luzindo resplandecerá para sempre.

Como afirmo no meu poema As abelhas do Invisível, somos as abelhas da amizade, do sonho, do amor e da fraternidade. Tecemos o fio da vida do fio do sonho. Valeu a pena? Segundo Fernando Pessoa, no poema Mar Português: “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”.

(*) Professora aposentada e membro do Instituto de Artes, Cultura e Ciências do Triângulo (IAT). [email protected].

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