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20/08/2017 às 05h59min - Atualizada em 20/08/2017 às 05h59min

Supremacistas e Donald Trump

ALEXANDRE HENRY ALVES* | COLUNISTA

Acredito que você viu as notícias do ocorrido nos EUA há poucos dias, em Charlottesville, onde houve um protesto dos chamados supremacistas, que defendem um sistema no qual as pessoas brancas devem ter mais direitos do que as demais, inclusive com a promoção de segregação e extermínio dos não-brancos, na cabeça de alguns. O protesto descambou para a confusão, uma pessoa morreu e o presidente Donald Trump perdeu mais algumas boas oportunidades de ficar calado.

Condenar as ideias supremacistas é muito fácil. Aliás, o simples fato de você pensar que você é melhor do que a outra pessoa porque sua pele é branca (e a dela, não) já é uma prova de que você não é melhor. O gene que determina a cor da pele não tem nada a ver com os que determinam as várias formas de inteligência, muito menos com o caráter da pessoa. Não bastasse a ciência, temos os fatos: coisas boas da humanidade, seja em termos tecnológicos ou por simples prazer, como as artes, são produzidas em todos os cantos do mundo, por todas as nações e pessoas, sem distinção de cor. A ideia de que um mundo apenas com pessoas brancas seria melhor é de uma cegueira tamanha que não há que se gastar mais palavras com isso. O atual desenvolvimento da humanidade, que traz muito mais conforto e expectativa de vida para quase todos, é fruto em parte da integração do comércio internacional e da troca de conhecimento entre países e pessoas.

Mas, resta uma pergunta: se é tão óbvio que o mundo é melhor com a diversidade, em todos os sentidos, por que ainda há gente que defende a supremacia de um ou outro grupo? Como pode alguém defender uma ideia que, em si, não faz o menor sentido? A resposta é simples: medo e preguiça. Os grupos que defendem as ideias vistas no protesto de Charlottesville carregam a visão de um mundo confortável para elas, em que a boa qualidade de vida chega como um presente pelo fato de serem brancas, ocidentais e cristãs. Não difere muito da mentalidade presente na realeza de séculos atrás, que entendia ter mais direitos, inclusive o de ser servida pelo resto da humanidade, simplesmente por ser da nobreza. Os melhores postos na sociedade seriam reservados a elas como um direito natural, até porque era mais ou menos assim algum tempo atrás, em que apenas os WASP (na tradução livre da sigla: Branco, Anglo-Saxão e Protestante) tinham acesso ao que havia de melhor, seja quanto à alimentação, moradia, lazer e locais de trabalho. De repente, porém, o sujeito que traz uma visão dessas de berço olha para o seu lado e vê um negro como seu chefe, um judeu em um carro melhor que o dele, um latino como prefeito, entre outras mudanças, fazendo com que ele não mais reconheça aquele mundo de conforto gravado em sua cabeça e, claro, trazendo uma insegurança gigantesca. Nessa hora, entra a preguiça: ao invés dele sair de sua zona de conforto, buscando se aprimorar para continuar usufruindo do melhor que a sociedade moderna tem a oferecer, ele prefere acabar com a competição matando os adversários.

Em síntese, o que os supremacistas buscam não é mostrar que são melhores, mas apenas preservar um status quo arcaico que garantia a eles privilégios sem esforço. Talvez alguns até acreditem que são melhores mesmo (a inteligência e a beleza têm limites, mas a burrice e a feiura, não), mas todos, no fundo, querem é sombra e água fresca, de preferência com alguém abanando. Se você propuser um mundo no qual os que não são considerados WASP se mantenham como subalternos, subservientes e trabalhem como loucos apenas para que os WASP tenham conforto e tranquilidade, tenho certeza que nenhum supremacista vai querer o extermínio de não-brancos.

Aqui, entra Donald Trump. Ele é branco, anglo-saxão e protestante. Isso, por si só, não depõe contra ninguém, até porque apenas a última característica é algo que se pode escolher. A questão é que ele, ao que parece em suas mensagens destemperadas, mostra acreditar que tais características realmente tornam uma pessoa melhor do que a outra. Claro, ele não disse isso de forma direta. É apenas uma conclusão minha (e de um monte de gente). Ocorre que, se ele fosse apenas mais um cidadão americano, não haveria problemas. A questão é que ele é o presidente da nação mais poderosa do mundo e tudo o que ele diz reverbera nos cantos mais longínquos do planeta. Roosevelt, que governou os EUA durante a 2ª Guerra Mundial, disse certa vez que a presidência no país era preeminentemente um local de liderança moral. Infelizmente, Trump não parece se encaixar nessas palavras de Roosevelt.  

(*) Juiz Federal e Escritor - www.dedodeprosa.com

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