É notório que o Brasil vive uma grave crise de legitimidade política cujo modelo não corresponde às necessidades de participação e de mudança da sociedade civil. A representatividade dos partidos políticos, quer os mais antigos ou os mais novos, com raras exceções, estão vinculados às oligarquias regionais e às grandes empresas nacionais. Os partidos de esquerda, em sua maioria, também se adaptaram às práticas políticas tradicionais.
A crise econômica decorre de escolhas políticas equivocadas e muitas vezes perversas, tomadas nos bastidores palacianos pelas lideranças partidárias a serviço de grupos econômicos e no arbítrio de interesses pessoais e familiares. Entretanto, muito pior do que isto é a profundidade da crise moral que se abateu sobre a nação, sem precedentes na História recente, e que decorre em grande parte da fragilidade das nossas instituições, sendo uma delas o voto.
Como sair desta situação, uma vez que a classe política está onde está pela própria vontade da população, que hoje a execra?
O voto é o único instrumento que permite à população participar das decisões nos três níveis de poder: a União, o Estado e o Município. É por meio dele que se exercem os direitos políticos – eleger e ser eleito - e a cidadania plena.
O cenário político atual apresenta-se como um lodaçal e o descrédito da população com a classe política só aumenta. Por isso, é comum ouvir eleitores dizendo que não irão votar, porque não gostam da política ou não se sentem bem representados. Ledo engano assim pensar.
É neste contexto que devemos manter vivo o pensamento do dramaturgo e poeta alemão Bertolt Brecht sobre o analfabeto político: “Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais”.
Os cargos políticos (nas esferas do Executivo e Legislativo), em uma democracia, só são possíveis através do voto. É nesse sentido que os eleitores têm que se conscientizar para a escolha de pessoas probas, com vida pregressa ilibada e cientes do múnus público. Os desvios de recursos do erário, os rombos nos cofres públicos, as negociatas, atribuídas aos políticos, têm consequências desastrosas para a população.
Há que se criar espaços, os mais diversos, para que uma Educação Política seja ministrada desde a mais tenra idade. Ao “não estar nem aí” para a política, parte da população é coparticipe das mazelas sociais: o aumento da violência; a prostituição infantil, uma educação de péssima qualidade, um sistema de saúde que afronta a dignidade humana; transportes públicos precários que oneram sobremaneira o tempo dos usuários e, enfim, a desesperança.
Vivencia-se um momento histórico crucial e sem precedentes na política brasileira. Urge um pacto que resgate a política sã e o compromisso com a legalidade e a cidadania. Reflitamos: o voto não tem preço e sim consequências!
(*) Advogado e vereador