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02/02/2023 às 08h00min - Atualizada em 02/02/2023 às 08h00min

Conto de Fadas

IVONE ASSIS
A Literatura dos contos de fadas é uma ferramenta eficaz no desenvolvimento da criança, referente à percepção, ao pensar e ao verbalizar, haja vista suas narrativas estimularem a imaginação e a emoção por intermédio do mundo da fantasia. Dentre as possibilidades interpretativas encontra-se a dialética homem-sociedade. Assim se pode assegurar do papel dos contos no desenvolvimento e amadurecimento da criança (sua consciência humana) por meio desse processo de significações, entrelaçado com o conceito da Psicologia. Pode-se dizer que a literatura é uma ponte de comunicação entre o mundo e o leitor/ouvinte, em que a personagem assume um papel de interlocução com o receptor/leitor.

É comum, mesmo na vida adulta, brincar de desejar um gênio da lâmpada, uma fada madrinha, ganhar na megasena... e outras possibilidades mágicas que arranque o sujeito da letargia social e o insira no mundo dos pertencentes, logo o sujeito sai do devaneio e se diverte com a sobrecarga de estresse da qual acaba de se livrar. Isso vem desde a infância, quando a criança, por meio da literatura, sobretudo Contos de Fadas, constrói sua comunicação em um mundo imaginário.

Os três produtores de arte, as pesquisadoras/tradutoras Susana Ventura (Rio Claro, SP), escritora, professora, detentora de prêmios como Jabuti, FNLIJ, Cátedra Unesco e patrona da Biblioteca Infantil Susana Ventura (Osaka – Japão) e Cassia Leslie (Londrina, PR) escritora e editora, autora de livros didáticos de Língua Portuguesa há mais de 25 anos; e o ilustrador brasileiro contemporâneo Alexandre Camanho (São Paulo, SP), detentor de prêmios como Cátedra Unesco, FNLIJ, Jabuti, Ibema, com foco na literatura infanto-juvenil, usando-se das técnicas Artísticas bico de pena, aquarela ou extrato de nogueira, e monotipia, se uniram em prol da construção da versão brasileira de “A bela e a fera e outros contos de fadas de Madame Leprince de Beaumont”, a fim de propiciar ao leitor uma boa dose desse encantamento. Madame Jeanne-Marie Leprince de Beaumont (1711, Rouen – 1776, Avallon) foi uma escritora francesa atuante na escrita de contos de fadas.

A obra é um compêndio de treze contos maravilhosos, dentre os quais ilustrarei minha fala com o “Conto dos três desejos” (2021, p. 93-97), em que um casal apaixonado, em um momento de devaneio, “invejam” a vida do vizinho. Nessa hora, o casal é contemplado com uma Fada que lhe concede o direito de três desejos. Faminta, a mulher deseja ganhar uma linguiça bem saborosa, e é atendida. Irritadíssimo com a bestialidade do pedido, o marido deseja que a linguiça grude no nariz da mulher, e é atendido. Agora só lhes restam um único pedido. A mulher, desesperada, ameaça tirar a própria vida caso não lhe seja concedido o direito de último pedido. Apaixonado pela esposa, ele não se opõe. Então, ela deseja se livrar daquele adereço no nariz, e é atendida. Aliviados com a normalidade, o casal chega à conclusão de que a felicidade não habita nos objetos, mas, sim, no coração. Riem da zombaria da fada, que, na verdade, foi reflexo dos obtusos pedidos que fizeram, e tomados pela gratidão, saboreiam a fatídica, porém saborosa, linguiça, que era tudo que lhes restava dos desejos atendidos e, consequentemente, para o jantar.

Essa literatura de Madame Leprince de Beaumont nos ensina o quão grave podem ser nossas atitudes, quando inconsequentes, e o quão valiosa é a sabedoria em qualquer circunstância. Se olharmos para nosso entorno, veremos o quão carente está a sociedade de uma boa literatura.
A leitura é, portanto, um importante meio de comunicação e ferramenta de ensino/aprendizagem à disposição da humanidade, cujo processo é repleto de trocas, significações e interação social. Por meio da literatura, podemos desbravar o mundo dos saberes e aplicar o resultado em nosso cotidiano. Em se tratando da literatura infantil, a criança ainda se beneficiará do ludismo que lhe servirá de ilustração para um bem-viver.

A vida não é um conto de fadas.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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