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06/08/2022 às 08h00min - Atualizada em 06/08/2022 às 08h00min

Violência, Laxismo Penal e Corrupção do Ciclo Cultural

EDMAR PAZ JUNIOR
Foto: Reprodução/Internet
Quando lemos esses livros, temos a impressão de que seus autores são quase profetas por, de certa forma, prever tão acertadamente o caos manifesto nos dias atuais. Na verdade o que eles fazem é narrar a realidade, acredite, olhando a realidade. Na frase irônica de Groucho Marx, "você vai acreditar em mim ou no que seus olhos vêem?", a maioria das pessoas escolhe não ver e, assim, aceitar o que lhes é dito. Quando acontece alguma desgraça - uma tragédia, um crime bárbaro, o que no Brasil beira a insanidade pela quantidade desses ditos “casos isolados”, de delinquentes que não respeitam as leis - não percebem que tudo à sua volta caminhava para um desfecho negativo inevitável, por conta de sua abstenção em tentar "ver" com olhos racionais. 

A questão, porém, vai além. Não é mais sobre identificar o que acontece nos dias atuais, ou apontar o que está errado. Em nosso momento atual, cabe aprofundar no que pode ter sido o início da derrocada de nossa sociedade, ou seja, tentar entender de onde surgiram tantas ideias incentivadoras do caos e buscar corrigi-las; na maioria das vezes, essas ideias são camufladas por belos argumentos, mas que no fundo visam apenas um objetivo: a derrubada dos valores cristãos ocidentais. 

Urge, assim, a retomada não só do que é realmente essencial em nossas vidas, por exemplo, a segurança, a paz, a liberdade de pensamento (essa que tem sido amplamente atacada, pois muitos têm suas mentes aprisionadas por uma ideologia que além de pregar segregação e ódio, exige uma espécie de culto absoluto, de obediência cega, impossibilitando as pessoas de realizar um mínimo de raciocinio), mas principalmente reaver a busca pelas coisas boas e belas, e claro, a inteligência das pessoas na forma de conhecimento.

Nessa fantástica coletânea de artigos escritos pelo Promotor de Justiça Diego Pessi, membro do Ministério Público do Rio Grande do Sul, que reúne 10 ensaios sobre a segurança pública no Brasil, é feita uma análise estrutural não do resultado, mas da equação que nos trouxe até aqui. Com uma apresentação simples e sensacional, o autor nos mostra o quão surreal é a realidade da criminalidade, principalmente pelo incentivo à impunidade. Esse fator, contudo, não é isolado, mas sim um conjunto de medidas e ações, tanto positivas (principalmente pelos legisladores, ao elaborar leis que beneficiam quase em sua totalidade a criminosos), quanto passivamente (quando a sociedade escolhe aceitar de forma ordeira o que lhe é imposto), que contribuíram diretamente para o aumento da criminalidade à números absurdos. Essa passividade social, a aceitação e a complacência para com os criminosos, mesmo que indireta, é explicável. É fruto de anos de inoculação de uma ideologia nefasta que praticamente cega a pessoa para a realidade: olhamos para um determinado crime, não concordamos com aquilo, mas mesmo assim “aceitamos”, por exemplo, políticos que contribuíram diretamente para a fomentação daquele mesmo crime. 

Analiso a questão como falta de princípios. Se não temos princípios claros e determinados, bem fundamentados e sedimentados, somos imensamente suscetíveis às seduções, falácias e sofismas externos, principalmente por pessoas que têm esse dom e sabem utilizá-lo. É essa desestabilização que foi provocada na sociedade atual, a quebra das regras e tradições ocidentais, que sempre foram a base de sociedades sensatas, pacíficas e produtivas. O crime sempre existiu, mas nunca como visto agora, com uma permissividade descompassada por grande parte da sociedade. Não adianta  leis severas, se não punimos os criminosos moralmente. O jogo de palavras e malabarismos mentais para ressignificar as palavras precisam ser desfeitos e é necessário dar nome ao que de fato as coisas são. Um exemplo muito simples é uma frase dita regularmente: “O problema no Brasil é a violência”. Perceba que “violência” é um termo genérico, abstrato, que não especifica nenhuma conduta e nem responsabiliza ninguém. O “crime”, por outro lado, é específico, certeiro, identificável, e sempre tem um autor e vítima. Na verdade, o problema do Brasil não é a “violência”, mas sim o criminoso.  

“Quando seu lar é furtado (do trabalhador), não entende como a subtração de um botijão de gás cujo valor equivale a 20% de sua renda mensal possa ser considerada ‘insignificante’ pela justiça, mas sente-se grato pelo fato de não haver sofrido violência. Para ele, todo dia de pagamento é sinônimo de aventura, ante a probabilidade nada desprezível de ser vítima de um roubo a mão armada no caminho para casa (esteja a pé ou de ônibus). Após perder, numa fração de segundo, o fruto do trabalho de um mês inteiro, possivelmente ouvirá alguma sumidade sustentando a tese de que há “uma lógica no assalto”, de que aquela expropriação representa a luta dos excluídos contra a “desigualdade social”. Mais uma vez, embora não compreenda a preconceituosa associação entre pobreza e criminalidade ele se mostrará grato pela dádiva de haver sido apenas assaltado e não espancado ou morto, pois, como eu ia dizendo, o fato é que capitulamos incondicionalmente diante do crime e tudo cedemos em troca da promessa de que, ao menos, nossa vida seja preservada.

Até o dia em que, insensível à nossa submissão, a violência associal nos atropela. implacável, inclemente e aterradora, desmantela a ilusão de segurança como o impacto de uma onda destroça um castelo de areia. Só então percebemos a inutilidade de nossas renúncias. Constatamos que a ingenuidade pueril do incauto que, em nome da “paz”, entregou ao Estado as armas que, legalmente, deram efetiva segurança à sua família por gerações a fio, é irmã gemêa do delírio ativista que prega a legalização das drogas como meio de reduzir a violência. Ou ainda, que a parvoíce da autoridade que defende o desencarceramento de sociopatas, na crença de que a impunidade aplacará seu ímpeto sanguinário(...)”. Essas insanidades diárias e suas ‘justificações’ são, entre outros, o resultado da violência associal e do pacifismo suicida que o autor ensina em suas páginas. 

Outro ponto bem interessante no livro, são as citações, as bases e referências que o Promotor utiliza para fundamentar suas falas, que formam uma linha coerente e coesa de raciocínio acerca das teorias e ideias que mostram as causas do caos atual, dando vasta condição principiológica para o autor. Diego Pessi é mais que brilhante e competente para descrever suas teses, fazendo com que a obra se mostre relevante e significativa para entendermos um contexto bem mais amplo do que apenas as notícias diárias dos telejornais. 
  
Violência, Laxismo Penal e Corrupção do Ciclo Cultural, Diego Pessi.


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