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05/07/2022 às 08h00min - Atualizada em 05/07/2022 às 08h00min

José Andraus Gassani

ANTÔNIO PEREIRA
José Andraus Gassani
O árabe Youssuf Andraus Gassani, conhecido por José Andraus, nomeou duas ruas de nossa cidade: uma que começa na avenida João Pinheiro, passa pelos bairros Higino Guerra, Martins e vai acabar no Roosevelt, chamada apenas “José Andraus”; outra que começa na avenida Paulo Roberto Cunha Santos, rompe pelos bairros Umuarama, Minas Brasil, Distrito Industrial, Marta Helena, Nossa Senhora das Graças e Minas Gerais terminando no Anel Viário Ayrton Senna Silva, esta chamada  “José Andraus Gassani”.
                    
Foi um cidadão dedicado à cidade que o acolheu, merecedor de duas ruas mesmo. Entusiasta, com ele a peteca não caía. Contam-se várias histórias a respeito da firmeza de sua personalidade, mas hoje vamos contar rapidamente como foram os seus tempos de Brasil.
                    
Nasceu no dia 20 de dezembro de 1894 em Vila Baino, no Líbano, e veio parar no Brasil em 1910, mais precisamente, em Belém do Pará. Empregou-se num batelão. Batelão é um barco enorme, cheio de bagulhos, uma loja flutuante, que navega pela extensa rede fluvial do Amazonas. Os batelões levam de tudo que trocam por bolas de borracha, peixes etc. O batelão no qual Andraus se empregara fazia o trajeto Belém/Xapuri (Acre). Ganhava 20 mil réis por mês.
                   
Quando seu pai, Jorge Andraus, soube que ele vivia numa região infestada pela malária, deixou tudo e veio buscá-lo. Youssuf tinha apenas 16 anos. Quando chegou a Belém, o filho estava de viagem. Enquanto aguardava o seu retorno, Jorge foi contaminado e foi ele quem acabou morrendo de malária. Foi enterrado em Belém.
                   
Em 1918, residindo na Ilha de Fernando Pó, na África, Andraus empolgou-se com a guerra e resolveu alistar-se entre os aliados, partindo para o Egito, mas seu navio foi apresado pelos ingleses, quando fazia a travessia, e como seu passaporte dizia que ele era turco foi detido e conduzido para Gibraltar. O consulado marroquino conseguiu libertá-lo e ele voltou para o Egito retomando seus negócios.
 
Depois da guerra, foi para o Líbano e, de lá, voltou para o Brasil, diretamente para Uberabinha.
 
Seu sobrinho, Abud, contava outra versão: que, nesse intervalo, ou seja da morte do pai até chegar a Uberabinha, José Andraus residiu com parentes no Sul de Minas. Conta inclusive que, quando resolveu vir, seus amigos disseram: “Cê vai pra Uberabinha? Cê ficou louco?”
 
Aqui, montou com seu irmão Elias, o primeiro Andraus de Uberlândia, um atacado de secos e molhados na rua XV de Novembro, esquina com Vigário Dantas, onde foi, depois, a firma Viúva João Calixto.
 
Em 1927, transferiram a empresa para a avenida Cipriano Del Favero construindo ao lado grandes armazéns onde instalaram máquinas de beneficiar arroz, café e algodão.
                   
Algum tempo depois, montou uma fábrica de meias. Pouco antes da crise de 1929, sempre atirado, pediu 150 contos de réis emprestados ao Banco de Crédito Real e comprou 20 mil sacas de arroz em casca! A crise que desabou sobre o mercado foi tão grande que o café, no porto de Santos, de 380 mil réis a saca caiu para 40! Andraus beneficiou o arroz, vendeu tudo a prazo e nunca recebeu!         
                    
Oferecendo garantias imobiliárias, pagou tudo à base de 2 a 3 contos por mês, arrancando essa verba da mascateação que fez pelo Triângulo e sul goiano.
                    
Com Elias Simão e Messias Pedreiro, José Andraus foi dos primeiros a financiar agricultores goianos.
                   
Quando soube que o Brasil era o maior exportador de borracha do mundo, comprou seis mil alqueires de terra nas periferias amazônicas para plantar seringueiras, mas as terras tinham títulos irregulares que só lhe deram trabalho e prejuízo.
                   
Observador, adquiriu de Olympio de Freitas um pedaço de terra às margens do rio das Velhas onde plantou algodão e arroz. Experimentou vários tipos de sementes de arroz e acabou por contratar um técnico orientando-o a que chegasse a um tipo especial para ser lançado no mercado. Foi assim que surgiu o conhecido arroz “Pratão” que se tornou uma referência para a nossa cidade. Ficou tão conhecido quanto o feijão preto “Uberabinha”. Esse arroz Pratão foi levado à Exposição Ibero Americana de Sevilha onde ganhou Medalha de Ouro.
                   
Certa ocasião, um comerciante de Batatais pagou-lhe uma dívida com um trator que ele levou para a Fazenda Cascavel. Segundo seu sobrinho Abud, foi o primeiro trator usado em fazendas no município. Chegou a ter três tratores e fazer reuniões com os fazendeiros de sua redondeza demonstrando-lhes as vantagens de uma lavoura mecanizada e da seleção de produtos.
                   
De 1938 a 40, montou uma grande oficina mecânica que fazia qualquer tipo de serviço principalmente em máquinas agrícolas. Vendeu em 1941.
                   
Foi ele o primeiro a produzir leite pasteurizado na cidade. Comprou uma fábrica de laticínios em Bom Jardim e trouxe para Uberlândia, instalando-a onde foram os armazéns do Alô Brasil e, depois, do Boca Quente. Só que, enquanto seu primo Baduí, em Ituiutaba, produziu 60 mil quilos de manteiga adquirindo o leite das periferias da cidade, aqui, Andraus recolhia o leite em dezenas de municípios para produzir apenas 50 mil quilos. Para equilibrar o orçamento da empresa, começou a produzir leite pasteurizado, no que não foi muito feliz, porque o consumo era pequeno. O seu leite chamava-se “Bom Pastor”.  Acabou vendendo a fábrica para Domingos Alves, do Cruzeiro dos Peixotos, em 1940.
                   
Durante a Segunda Grande Guerra, José Andraus perdeu muito dinheiro emprestando e não recebendo.
                   
Quiseram levá-lo para a UDN, mas ele nunca quis se meter em política.
                   
Foi um dos fundadores do Rotary Club de Uberlândia, em 1936 e seu Presidente de 1949 a 50. Foi também um dos fundadores da Associação Comercial, em 1933, embora sua assinatura não conste da Ata de fundação. Foi várias vezes diretor da mesma.
                   
E tem a pitoresca passagem do coreto da praça Clarimundo Carneiro. Mas isso é outra história que a gente ainda vai contar.
                   
José Andraus Gassani faleceu em Goiânia, no dia 27 de agosto de 1960. Era casado com d. Guilhermina Silva Andraus, com quem teve os filhos Youssuf Andraus Gassani, Muri Andraus Gassani e Annés Andraus Gassani.
                                  
Fontes: Abud Andraus Gassani, Tito Teixeira, Waltercides Silva, Nadime Andraus Gassani.                     

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