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28/06/2022 às 08h00min - Atualizada em 28/06/2022 às 08h00min

Pedrinho na janela

ANTÔNIO PEREIRA
Pedro Salazar Pessoa Filho
Pedro Salazar Pessoa Filho, nascido em Paracatu, filho do Juiz de Direito e escritor Pedro Moscoso da Veiga Pessoa e dona Paulina Loureiro Salazar, foi um homem importante na história cultural e econômica da região. Aqui, em Uberlândia, ainda não ganhou uma rua. Pedrinho, como era chamado pelos amigos, foi comerciante, sócio de Raulino Cotta Pacheco, com quem fundou o primeiro jornal diário da cidade, foi gerente da famosa Livraria Kosmos e redator do jornal desta casa, “O Brazil”, com “z” mesmo, responsável pelo concurso de onde saiu o nome “Uberlândia” para a nossa cidade. Foi cronista que fixou pela imprensa vários fatos de valor histórico que, vez por outra, reconto nesta coluna citando a fonte. Foi diretor do primeiro Tiro de Guerra, foi empresário e construtor de estradas de rodagem (Rio Verde a Torres do Rio Bonito) nos princípios do século passado. Funcionário Público da Coletoria Estadual. Que mais?
        
Numa de suas valiosas publicações, ele conta que estava à janela do hotel do capitão João Bernardes de Souza, que ficava na esquina da rua Marechal Deodoro com o largo da Matriz (praça Cícero Macedo) conversando com Joaquim Carrijo, filho do Felisberto Alves Carrijo (escrevo “Carrijo” em respeito ao Pedro Salazar que era partidário ferrenho dessa grafia; Jerominho Arantes era por “Carrejo” e eu também sou). Isso em 1910. Joaquim já era idoso, tinha barbas longas. Foi o fundador da cidade goiana, de “Mineiros”, cujo nome homenageia a origem dos seus fundadores. Joaquim tinha levado consigo vários membros das primeiras famílias fixadas em São Pedro de Uberabinha.
      
Carrijo montara um grande armazém em Mineiros que supria as fazendas da região e os primeiros moradores do novo povoado. Era aqui que ele vinha se abastecer, levando as mercadorias em carros de bois em viagens que duravam semanas. Por essa época, como relata Salazar, as praças Dr. Duarte, Cícero Macedo, Coronel Carneiro, viviam atulhadas de tropas de burros, de carros de bois que se abasteciam nos nossos grandes atacadistas da época: Teixeira Costa, Antônio Rezende Costa, Custódio Pereira, Irmãos Carneiro, Cunha Giffoni, Joaquim Marques Povoa.
       
Os dois na janela, Joaquim apontou para os fundos do largo onde era a chácara do coronel Severiano Rodrigues da Cunha, lugar onde se deu uma pequena batalha política a tiros, entre jagunços e polícia, em 1910, e posteriormente foi o Asilo das Velhas.
       
Contou o Joaquim:
- Ali era a sede do sítio do meu pai, na fazenda do Salto. Além da casa de morada estavam por ali mesmo os currais, o paiol, o engenho, monjolos e chegava o rego d’água.
       
Dessa fazenda foi que saiu a gleba de cem alqueires para a formação do Patrimônio de Nossa Senhora do Carmo e São Sebastião, onde nasceu, em torno da capela erguida, a nossa querida cidade. Esse rego d’água foi tirado das cabeceiras do córrego de São Pedro e servia para abastecer o sítio, para os moradores que vinham para o largo e para a construção da capela de Nossa Senhora do Carmo e São Sebastião. As terras eram boas e as roças iam da sede até onde esteve por muitos anos o Matadouro Municipal, na rua General Osório, do lado do Patrimônio. Espalhavam-se ainda, do lado da margem direita do córrego, pelas atuais ruas Felisberto Carrejo, General Osório, Vigário Dantas, até Augusto César, onde faziam divisas com a chácara do padre José Carrijo (outro filho do Felisberto). Pela margem direita com a chácara de José Cotta Pacheco.
       
Pedrinho escreveu, mais tarde, que conheceu o rego d’água e diz que era assim: fizeram um açude nos altos do córrego de São Pedro (que passa por debaixo da avenida Rondon Pacheco), nas proximidades do bairro Cazeca e veio vindo pela rua da Chapada (Rio Branco) até chegar à rua Barão de Camargos. Aí se dividia: um rego acompanhava a Barão de Camargos até o seu fim; o outro entrava pela rua Guarani (Prof. Pedro Bernardes), atravessava a praça Ruy Barbosa, seguia pela Silviano Brandão até chegar ao antigo cemitério (interditado) que havia na atual praça Clarimundo Carneiro e contornava pela esquerda a sua cerca. Os dois regos atravessavam a praça Dr. Duarte, um descia pela rua Marechal Deodoro e ia servir o sítio do Felisberto e os moradores próximos, o outro descia pela rua XV de Novembro, atravessava a praça Cícero Macedo, passava defronte ao antigo Colégio N. S. das Lágrimas e ia abastecer a chácara do padre Pio, que ficava na esquina da praça com as ruas XV de Novembro e Silva Jardim.
       
Desses regos, as famílias puxavam bicas com calhas de buriti.
 
Pedrinho, depois de nos deixar todas essas informações e mais algumas não transcritas, ainda se queixa de não ter tirado mais de tão histórica personagem.
 
Seria interessante recolher artigos e crônicas publicados do Pedrinho e produzir um livro. Seria de valor inestimável para a nossa História.

*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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