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11/06/2022 às 08h00min - Atualizada em 11/06/2022 às 08h00min

A coragem de não agradar

EDMAR PAZ JUNIOR
Muito têm se falado ultimamente acerca de como devemos nos comportar ou até mesmo o que devemos fazer para nos darmos “bem na vida”, como se existissem regras bem definidas de como se viver. Não penso que exista algum tipo de gabarito exato para a vida, mas sim que se mantermos alguns princípios poderemos ser pessoas melhores. É aquele tentar “ser 1% melhor” todos os dias.

Algumas pessoas ficam receosas quando se deparam com denominações e classificações de livros de autoajuda. É quase como se assumíssemos para nós que temos algum defeito. Mas, na verdade, todos nós não os temos? Por que então essa resistência em nos reconhecermos falhos e estar abertos às mudanças positivas? Nem sempre um livro de autoajuda é uma sentença. Por experiência própria, me deparei com alguns que não são o que pintam seus opositores. Considero-os muito mais como se fossem algum amigo que nos dá dicas do que podemos fazer em determinadas situações, e mesmo assim, cabe a nós decidirmos se faremos ou não. Simples.

Os autores do livro, Ichiro Kishimi e Fumitake Koga, escreveram a obra em forma de diálogo, entre um sábio e um jovem desacreditado de sua vida. Durante cinco noites, eles conversaram de forma aberta e sincera sobre vários assuntos e situações que nos acontecem todos os dias. Como lidar com relacionamentos, superar medos, ter autoconsciência e buscar ferramentas para ser uma pessoa melhor, estão entre os ensinamentos que o sábio explica ao jovem.

Com vários insights marcantes, a história se desenvolve de forma gradual, que parte de acontecimentos e aprendizados mais simples, como por exemplo o não se importar com a opinião alheia, para os mais complexo, em que ele explica um pouco sobre como funciona nossa mente em relação às reações físicas e mentais e como estão interligadas. O sábio filósofo cita em alguns momentos a psicologia de Alfred Adler, renomado psicólogo ao lado de Sigmund Freud e Carl Jung, e numa espécie de diálogo socrático faz com que nós mesmos enxerguemos nossas falhas e busquemos repará-las. 

Ensina que nossos traumas não nos definem, mas sim o que fazemos com eles, dizendo o que Adler ensinou sobre isso: “Nenhuma experiência é, em si, a causa de nosso sucesso ou fracasso. Nós não sofremos do choque de nossas experiências – o chamado trauma – mas o transformamos em algo que atende aos nossos propósitos. Não somos determinados por nossas experiências, mas o sentido que damos a ela é autodeterminante”.

É o que, por exemplo, o filósofo espanhol José Ortega y Gasset quer dizer com a sua “A reabsorção das circunstâncias torna concreto o destino do homem”, ao utilizarmos o que a vida nos atira em nosso favor. Perceba como os ensinamentos se complementam, e esse é um dos meus maiores fascínios pela literatura, porque existem certos princípios em comum de nossas experiências cotidianas que afloram em quaisquer assuntos, seja em uma obra de ficção, romance, filosofia ou até mesmo política, em autores e épocas distintas. O importante, no entanto, passa sempre por estabelecer um propósito para nossa vida, para que possamos usar todas as ferramentas que estão à nossa volta da melhor maneira possível. 

A maioria das pessoas preferem viver uma dor “confortável”, do que se arriscar a buscar a felicidade. Mas eis um ponto a se levar em conta e que o sábio joga no ar: se no fim, todos nós vamos sentir “dor” de alguma maneira, por que então não tentar ser feliz? Nós mesmos estabelecemos metas muito baixas, por não acreditar em nosso potencial. Claro que nosso potencial é uma coisa e o que fazemos com ele é outra, mas os ensinamentos do livro são nesse sentido, de pelo menos jogar uma luz sobre algo que possamos fazer.

Ele explica que apesar da imensa maioria dos problemas surgirem das relações interpessoais, é necessário que cuidemos da nossa mente justamente para que saibamos sair de determinadas situações e evitar quebras de expectativas. Se autoconhecer e ter a coragem de ser normal, faz parte de um processo de redescoberta de um caminho que quase todos nós caímos: o de achar que somos “especiais”. Quando nos colocamos nessa posição, acreditamos ser superiores aos outros e que ser normal é sinônimo de ser incapaz. O sábio explica que “a maneira como vemos as coisas é tudo. Neste momento, o mundo lhe parece um caos complicado e misterioso, mas, se você puder mudar seu modo de pensar, ele parecerá simples. Não se trata de como o mundo é, mas de como você é”. 

O tom de bate-papo do livro é agradável e nos coloca dentro da conversa dos personagens, pois muitos dos questionamentos que o jovem faz, em algum momento já passaram pelas nossas mentes. O objetivo do sábio é quebrar algumas ideias que nos paralisam e ajudar a encontrar a coragem que precisamos para mudar nossa vida.

A coragem de não agradar, Ichiro Kishimi e Fumitake Koga.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

 
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