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04/06/2022 às 08h00min - Atualizada em 04/06/2022 às 08h00min

Beber café melhora a saúde?

JOÃO LUCAS O'CONNELL
Nesta semana, foi publicado um novo estudo sobre a relação de riscos versus benefícios do consumo moderado de café pela população. Os dados foram coletados do Biobank, do Reino Unido, um grande banco de dados médicos com informações de saúde de pessoas em toda a Grã-Bretanha. Eles analisaram informações demográficas, de estilo de vida e dietéticas coletadas de mais de 170.000 pessoas com idades entre 37 e 73 anos durante um período médio de acompanhamento de sete anos.

Este grande estudo de acompanhamento de pacientes ingleses ao longo do tempo (publicado no The Annals of Internal Medicine) mostrou que aquelas pessoas que bebiam de 1,5 a 3,5 xícaras de café por dia tinham até 30% menos chances de morrer durante o período do estudo do que aqueles que não tomavam café, mesmo que adicionassem uma colher de açúcar ao café. Aqueles que bebiam café sem açúcar tinham 16 a 21% menos chances de morrer durante o período do estudo. O maior benefício foi verificado com aqueles que bebiam cerca de três xícaras por dia, tendo o menor risco de morte quando comparados com os que não bebiam café. Ou seja, o hábito de se consumir café protege o indivíduo contra uma maior chance de morrer por qualquer causa.

Há poucas coisas na medicina que conseguem mostrar um benefício tão grande! Há pouquíssimas coisas hoje disponíveis que reduzem a chance de uma pessoa morrer em 30%.  Há, no entanto, grandes ressalvas para interpretar esta pesquisa. Este foi um estudo observacional, o que significa que os dados não podem provar conclusivamente que o próprio café reduz o risco de morte. 

O grande problema que encontramos em estudos observacionais é que existem inúmeros fatores confusionais que podem interferir com os resultados. Assim, pode haver outros fatores de estilo de vida dentre os tomadores de café que podem ter contribuído para esse menor risco de mortalidade entre as pessoas que bebem café. Por exemplo: pode ser que os maiores tomadores de café coincidentemente são aqueles que acordam mais cedo, produzem mais, se sentem mais felizes, fazem uma dieta mais saudável, fumam menos ou têm uma rotina de exercícios consistente. 

Estes fatores de confusão também são citados por muitos cientistas ao interpretarem os estudos que demonstram benefício do uso do vinho tinto para a proteção cardiovascular. Acredita-se que parte dos benefícios atribuídos ao vinho possam, na verdade, serem relacionados ao fato dos tomadores de vinho possuírem maior poder aquisitivo, se preocuparem mais com sua saúde, fazerem mais atividade física e serem mais felizes e menos ansiosos que aqueles que não tomam vinho. Assim, pode ser que um menor risco de morte entre os tomadores de vinho possa ser mais atribuído ao estilo global de vida dos tomadores de vinho do que ao consumo do vinho propriamente dito. Isto pode estar também acontecendo com o efeito benéfico verificado com o consumo de café. 

Este novo estudo é o mais recente de uma robusta linha de pesquisa que mostra as potenciais vantagens do café para a saúde.  Pesquisas anteriores associaram o consumo de café a um menor risco de doença de Parkinson, doenças cardíacas, diabetes tipo 2, câncer de fígado e próstata e outros problemas de saúde.

Os cientistas não sabem exatamente o que torna o café tão benéfico, mas a resposta pode estar em suas propriedades antioxidantes, que podem prevenir ou retardar o dano celular. Com o tempo, um acúmulo de radicais livres pode aumentar a inflamação no corpo, o que pode causar a formação de placas relacionadas a doenças cardíacas.

Por fim, vale lembrar que, apesar dos dados mostrarem um potencial benefício do consumo leve e moderado de café para a saúde em geral, é preciso destacar que o estudo mostrou que os benefícios do café diminuíram para pessoas que bebiam mais de 4,5 xícaras de café por dia. Além disso, estudos anteriores mostraram que consumir “quantidades extremas” – mais de sete xícaras por dia – pode realmente causar danos à saúde. Assim, conclui-se que a palavra certa quanto ao consumo de café deve ser “moderação”. “Muito de uma coisa boa não é, necessariamente, uma coisa boa”. 


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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